Publicada mensalmente desde 1902 pelos jesuítas portugueses, a revista Brotéria é uma publicação cultural de inspiração cristã.

 

Há 120 anos, três professores de um colégio na Beira Baixa fundaram a Brotéria: Revista de Sciencias Naturaes. Na altura publicavam-se artigos de botânica, zoologia e genética, em muitos dos quais foram classificadas novas espécies de animais e plantas. Pouco tempo depois, passaram também a surgir artigos sobre química, física, medicina, biologia e agricultura. Em 1955, nasceu mais um ramo da Brotéria, que continuou a crescer até hoje — a revista de Cristianismo e Cultura.

120 anos depois, a Brotéria já não é só uma revista. Hoje faz parte do projeto multidisciplinar do centro cultural no Bairro Alto e de uma forma redonda de ver aquilo que nos rodeia: oferecendo uma reflexão escrita serena e rigorosa sobre o mundo e contribuindo para a discussão dos principais temas de hoje na literatura, política, arte, história, filosofia, religião e bioética.


Volume 199 — 4, Outubro 2024


Andrea Grillo

O acesso das mulheres ao ministério ordenado é um dos assuntos quentes com que, hoje, a Igreja Católica se confronta e é confrontada. Na linha do reconhecimento profético por parte do Papa João XXIII de que a entrada das mulheres no espaço público era um “sinal dos tempos”, poderá a Igreja reconhecer, tanto ao nível doutrinal como disciplinar, que não tem a faculdade para excluir as mulheres do ministério ordenado? Para oferecer um esclarecimento teológico da questão, revisita-se a mudança que o advento da modernidade tardia operou nos argumentos anteriormente aduzidos para considerar o sexo feminino um impedimento para a ordenação com a transição da “sociedade da honra” para a “sociedade da dignidade”. Deduzem-se, depois, perspetivas cujo trabalho de reelaboração teológica é não só possível mas necessário, de modo a dar espaço teórico e prático à configuração da vocação universal de todos os batizados ao ministério eclesial.


Eduardo Jorge Madureira Lopes

Os canais de informação em contínuo em Portugal não têm concorrido para a existência de uma cidadania mais esclarecida e interventiva. Muito mais informação, transmitida muito mais velozmente, não oferece, por si só, assinaláveis benefícios. Frequentemente, a atualidade fica circunscrita a um reduzido conjunto de acontecimentos. Os assuntos repetem-se excessivamente e as conversas prevalecem sobre um tratamento noticioso aprofundado e diversificado. A sobrecarga informativa é suscetível de provocar uma enorme sensação de fadiga e impotência. Daí que possa ser benéfico prestar atenção crítica ao que nos é oferecido pelos canais informativos.


Ana Rita Bessa

Partindo de uma experiência pessoal de participação Política, este texto pretende, por um lado, partilhar algumas reflexões decorrentes dessa vivência e, por outro, suscitar questões sobre a forma como, hoje, em sociedade, nos colocamos perante a Política. Parte, portanto, do lugar do “eu”, do percurso e da escolha individual, para o todo da pólis, organizada em função da construção do Bem Comum, concluindo com uma interpelação geral sobre o lugar presente, porventura mais distópico que utópico. Invocando o pensamento de outros, maiores, faz este texto a apologia da temperança, da moderação como instrumento necessário para a construção de pontes ao invés de polos. E convoca todos, desde logo os cristãos, para esta escolha e para esta grandeza.


António Ferreira da Silva SJ

Entre o princípio e o fim de vida, há o seu curso, um entretanto que pede responsabilidade e cuidado. Partindo do pressuposto de que o ser humano é essencialmente relacional, espiritual e vulnerável, verifica-se que a finalidade dos cuidados de saúde se encontra, não tanto na cura, mas no acompanhamento de cada processo de envelhecimento, de doença e de morte. Pode-se sempre fazer algo mais pela pessoa doente. Recolhem-se traços de sabedoria espiritual em S. Inácio de Loyola e nos escritos dos primeiros Jesuítas, para sublinhar a necessidade de uma vida boa, que seja capaz de uma justa aproximação à morte. Para isso, desenvolvem-se sete regras que podem orientar no cuidado da saúde.


António Júlio Trigueiros SJ

A recente publicação da carta do Papa Francisco sobre o papel da literatura na educação é uma verdadeira apologia do prazer de ler. Com o desejo de que essa prática possa contribuir para a formação dos candidatos ao sacerdócio, alargando-lhes a capacidade de comunicação e a imaginação, o Papa faz, no seu estilo fluido e coloquial, um verdadeiro elogio da fruição da literatura como fonte de inspiração. Numa linha contracorrente à tentação que assalta as novas gerações de não desviar o olhar dos écrans, Francisco advoga a importância da leitura lenta, meditada, mastigada, digerida, podendo assumir um forte poder espiritual e pastoral. Pela atenção dada à literatura e à crítica literária, deste que criou o seu segmento cultural, em 1925, a revista Brotéria foi estabelecendo verdadeiras redes de relação entre autores, recensores e leitores, procurando despertar esse desejo de ler, agora expresso por Francisco.


Patrice Sartre

A noção de força, na sua forma militar, reaparece, hoje, numa Europa que se vê apanhada por conflitos inesperados e por tensões geoestratégicas crescentes. O uso da força é suficiente? O exemplo de conflitos do passado, como no Vietname, no Iraque ou no Afeganistão, pede-nos especial cautela. Quanto vale a força se não for acompanhada de “vontade”? Não se pode pensar uma sem a outra.


Pedro Beirão

É difícil lidar com um mundo diferente daquele que nos foi prometido. O colapso climático, sabido e anunciado, posto em segundo plano por contradizer o século de paz, progresso e prosperidade que achávamos estar destinados a ter, não pôde mais ser ignorado quando tudo o resto tardou a chegar. Em resultado, muita da arte confortou-se no medo, dedicando-se a olhar para as décadas doces que tivemos com nostalgia e inundando o espaço público com todo o tipo de remakes e reboots. Ainda assim há artistas e mediadores culturais que contrariam essa tendência e se prestarmos atenção vemos que florescem novas maneiras de fazer arte que nos desafiam e que nos emprestam plataformas para nos relacionarmos com o mundo em redor. Wladimir Kaminer é um desses artistas. Neste texto, analisaremos a sua mais recente obra, Pequeno-Almoço à Beira do Apocalipse, e estabeleceremos pontos de contacto com Amor Fati (filme), La Emperatriz (álbum) e Everything Everywhere All at Once (filme) na procura de aspetos de expressão artística verdadeiramente contemporâneos.


Luísa Soares de Oliveira

Na Bienal de Veneza deste ano, o tema global, “Estrangeiros por todo o lado”, foi quase unanimemente tratado pela via da referência ao estrangeiro nos locais de exposição habituais das diferentes representações nacionais. Sente-se, por toda a cidade, a preocupação em trazer para a mais importante manifestação artística mundial a voz e a obra de artistas que raramente conseguem apresentar-se fora das suas fronteiras. A exceção está no Pavilhão da Santa Sé que trouxe a arte contemporânea para o seio da própria comunidade dos excluídos – uma prisão feminina em atividade, onde dá a ver obras que transformam o quotidiano e a vida de quem aí vive. O comissariado vem assinado pelo cardeal José Tolentino de Mendonça que escolheu dois grandes nomes do meio artístico para realizar a curadoria da exposição.

Broteria-07

 

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