A sexualidade humana e o modo como as pessoas vivem e se compreendem afetiva e sexualmente constitui hoje um desafio incontornável, que requer da moral católica e da prática pastoral uma resposta e orientação. No entanto, o ensinamento atual, porque refém de uma metodologia de carácter abstrato e idealista, parece incapaz de escutar e de integrar a experiência histórica e cultural na qual as pessoas se situam, mostrando-se incapaz de propostas “vivíveis”. Em face disto, torna-se imperiosa a tarefa de harmonizar a doutrina sobre a sexualidade com o modo como a Igreja se concebe a si mesma e à sua relação com o mundo e com a história humana, a partir do Vaticano II. A aplicação deste novo paradigma à moral sexual católica permitirá, não apenas colher o bem que possa emergir das relações entre pessoas do mesmo sexo, mas também ensaiar novos percursos de santidade para as pessoas nelas envolvidas.
Os 120 anos de vida que a Brotéria está a celebrar ficarão também assinalados pela a morte do seu penúltimo diretor, o P. António Vaz Pinto SJ (1942-2022), no passado dia 1 de julho, um mês após completar oitenta anos. Muito se escreveu já na co-municação social, logo após a sua morte, sobre esta figura marcante da Igreja em Portugal. No que diz respeito à Brotéria, de que foi diretor entre 2008 e 2016, guardou-se para o presente número esta forma de evocação. As palavras de Eduardo Lourenço, «esposar o espírito do tempo sem ceder a ele», prestam-se a ilustrar bem o modo de estar de António Vaz Pinto.
No final mês de junho, o Papa Francisco fez uma “peregrinação penitencial” ao Canadá, onde pediu perdão pela colaboração de membros e instituições da Igreja Católica nas políticas de assimilação cultural de que foram alvo as populações indígenas. Diante destas memórias desconcertantes, impõe-se-nos a pergunta: como foi possível que a Igreja Católica colaborasse com tais políticas impostas pelas autoridades civis daquele país? O Papa deixa entrever uma resposta: os crentes deixaram-se “mundanizar”. Depois de explorar o significado da expressão, sugere-se a relevância desta categoria para o discernimento do tempo presente. A Igreja Católica cometeu erros graves no modo como interagiu com as culturas indígenas. E pode cometê-los no inevitável encontro com as culturas contemporâneas. Para que tal não aconteça, precisa de se abrir a uma prática vigorosa do discernimento.
O mundo prepara-se para experimentar uma escalada inflacionista sem preceden-tes nos últimos 30 anos. Atualmente, na maior parte dos países industrializados, a inflação ronda os 8% e promete acompanhar-nos por muitos anos. Como enfrentar o fenómeno? Os bancos centrais ocidentais optaram pelo aumento das próprias taxas de juro, ou seja, pelo custo do dinheiro. Longe de ser uma decisão puramente técnica, tal opção tem consequências económicas e políticas significativas. De modo particular, poderá provocar uma recessão, mas sem conseguir travar a longo prazo o aumento do custo da energia e das matérias-primas. Porém, outras políticas são possíveis.
Num tempo marcado por constantes ataques e ameaças às liberdades e garantias das pessoas e das comunidades em geral, discute-se a verdadeira importância e a validade dos direitos humanos. Como justificar que o direito à vida, à liberdade de pensamento ou de consciência sejam, de facto, inerentes a cada ser humano? Existe algo em comum no humano que fundamente a validade universal dos direitos humanos? A partir da análise da experiência humana, Edward Schillebeeckx descreve um conjunto de coordenadas antropológicas que caracterizam a condição humana e sublinham o desejo comum de vida e de vida em abundância. Neste ensaio, propõe-se uma leitura da teologia antropológica do teólogo belga com vista à articulação de uma base para a defesa e o desenvolvimento de uma ética global no mundo plural.
A coleção de arte contemporânea dos Museus Vaticanos apresenta-se como instrumento exemplar de diálogo da Igreja Católica com a cultura atual. Inaugurada a 23 de junho de 1972, por Paulo VI, nascia da convicção de que a expressão artística constitui uma parte da comunicação da fé cristã e de que o divórcio moderno entre Igreja e artistas se podia recompor. Evo-cando protagonistas e motivações, etapas e composição, defende-se que esta reali-zação é testemunha daquela vitalidade e dinamismo proféticos requeridos para compreender novas linguagens estéticas, na sua complexidade e na sua fluidez. O esforço pastoral e a coragem para despir preconceitos, que não deixam de requerer o trabalho de pedagogia estética junto das comunidades cristãs, tantas vezes fechadas às profundas mudanças culturais, conseguem resultados fecundos como este.
A independência do Brasil derivou, sem dúvida, da deslocação para o seu território da Família Real portuguesa, como consequência da invasão de Portugal pelas forças napoleónicas. Tratou-se de um objetivo estratégico, não de uma fuga. Como consequência, o Rio de Janeiro tornou-se a capital de Portugal, com implicações políticas, económicas e administrativas para a unidade e estatuto do seu território. Em termos económicos, a política portuguesa passou a seguir uma via liberal, de acordo com as ideias de Adam Smith e de outros pensadores ingleses. Para isso, muito contribuiu o baiano José da Silva Lisboa, Vis-conde de Cairu, um dos exemplos de figuras históricas que puseram o seu valor ao serviço do Brasil e que muito contribuíram para a consolidação da Nação brasileira.
O ensaio debruça-se sobre a poesia de José Augusto Mourão, lendo-a sob o signo do corpo. Mais do que o dito sobre o corpo, interessará o corpo, ou o ser humano enquanto corpo, que se diz neste trabalho poético. Sendo no dito que se descortina o dizer, é pelo enunciado que se chega à enunciação: na sua matriz textual, esta poesia litúrgica vai além das coordenadas da sua oralidade, chegando a novos leitores que, no exigente trabalho de leitura, a assumem no seu corpo e por ela se deixam marcar. Após a introdução à natureza litúrgica da poesia de Mourão, segue-se a leitura de três poemas considerados paradigmáticos da enunciação poética de um corpo de desejo, revelando três possíveis dimensões de compreensão do viver crente.
Dimensões
15 x 23,4
Nr de páginas
112
ISSN
0870–7618