1

Volume 195 - 4, Outubro 2022

5€Digital8€Papel

Adicionado ao carrinho!


João Manuel Silva SJ

A sexualidade humana e o modo como as pessoas vivem e se compreendem afetiva e sexualmente constitui hoje um desafio incontornável, que requer da moral católica e da prática pastoral uma resposta e orientação. No entanto, o ensinamento atual, porque refém de uma metodologia de carácter abstrato e idealista, parece incapaz de escutar e de integrar a experiência histórica e cultural na qual as pessoas se situam, mostrando-se incapaz de propostas “vivíveis”. Em face disto, torna-se imperiosa a tarefa de harmonizar a doutrina sobre a sexualidade com o modo como a Igreja se concebe a si mesma e à sua relação com o mundo e com a história humana, a partir do Vaticano II. A aplicação deste novo paradigma à moral sexual católica permitirá, não apenas colher o bem que possa emergir das relações entre pessoas do mesmo sexo, mas também ensaiar novos percursos de santidade para as pessoas nelas envolvidas. 


António Júlio Trigueiros SJ

Os 120 anos de vida que a Brotéria está a celebrar ficarão também assinalados pela a morte do seu penúltimo diretor, o P. António Vaz Pinto SJ (1942-2022), no passado dia 1 de julho, um mês após completar oitenta anos. Muito se escreveu já na co-municação social, logo após a sua morte, sobre esta figura marcante da Igreja em Portugal. No que diz respeito à Brotéria, de que foi diretor entre 2008 e 2016, guardou-se para o presente número esta forma de evocação. As palavras de Eduardo Lourenço, «esposar o espírito do tempo sem ceder a ele», prestam-se a ilustrar bem o modo de estar de António Vaz Pinto. 


Bruno Nobre SJ

No final mês de junho, o Papa Francisco fez uma “peregrinação penitencial” ao Canadá, onde pediu perdão pela colaboração de membros e instituições da Igreja Católica nas políticas de assimilação cultural de que foram alvo as populações indígenas. Diante destas memórias desconcertantes, impõe-se-nos a pergunta: como foi possível que a Igreja Católica colaborasse com tais políticas impostas pelas autoridades civis daquele país? O Papa deixa entrever uma resposta: os crentes deixaram-se “mundanizar”. Depois de explorar o significado da expressão, sugere-se a relevância desta categoria para o discernimento do tempo presente. A Igreja Católica cometeu erros graves no modo como interagiu com as culturas indígenas. E pode cometê-los no inevitável encontro com as culturas contemporâneas. Para que tal não aconteça, precisa de se abrir a uma prática vigorosa do discernimento.


Gäel Giraud SJ

O mundo prepara-se para experimentar uma escalada inflacionista sem preceden-tes nos últimos 30 anos. Atualmente, na maior parte dos países industrializados, a inflação ronda os 8% e promete acompanhar-nos por muitos anos. Como enfrentar o fenómeno? Os bancos centrais ocidentais optaram pelo aumento das próprias taxas de juro, ou seja, pelo custo do dinheiro. Longe de ser uma decisão puramente técnica, tal opção tem consequências económicas e políticas significativas. De modo particular, poderá provocar uma recessão, mas sem conseguir travar a longo prazo o aumento do custo da energia e das matérias-primas. Porém, outras políticas são possíveis. 


Sónia da Silva Monteiro

Num tempo marcado por constantes ataques e ameaças às liberdades e garantias das pessoas e das comunidades em geral, discute-se a verdadeira importância e a validade dos direitos humanos. Como justificar que o direito à vida, à liberdade de pensamento ou de consciência sejam, de facto, inerentes a cada ser humano? Existe algo em comum no humano que fundamente a validade universal dos direitos humanos? A partir da análise da experiência humana, Edward Schillebeeckx descreve um conjunto de coordenadas antropológicas que caracterizam a condição humana e sublinham o desejo comum de vida e de vida em abundância. Neste ensaio, propõe-se uma leitura da teologia antropológica do teólogo belga com vista à articulação de uma base para a defesa e o desenvolvimento de uma ética global no mundo plural.


D. Carlos Moreira de Azevedo

A coleção de arte contemporânea dos Museus Vaticanos apresenta-se como instrumento exemplar de diálogo da Igreja Católica com a cultura atual. Inaugurada a 23 de junho de 1972, por Paulo VI, nascia da convicção de que a expressão artística constitui uma parte da comunicação da fé cristã e de que o divórcio moderno entre Igreja e artistas se podia recompor. Evo-cando protagonistas e motivações, etapas e composição, defende-se que esta reali-zação é testemunha daquela vitalidade e dinamismo proféticos requeridos para compreender novas linguagens estéticas, na sua complexidade e na sua fluidez. O esforço pastoral e a coragem para despir preconceitos, que não deixam de requerer o trabalho de pedagogia estética junto das comunidades cristãs, tantas vezes fechadas às profundas mudanças culturais, conseguem resultados fecundos como este. 


João Sabido Costa

A independência do Brasil derivou, sem dúvida, da deslocação para o seu território da Família Real portuguesa, como consequência da invasão de Portugal pelas forças napoleónicas. Tratou-se de um objetivo estratégico, não de uma fuga. Como consequência, o Rio de Janeiro tornou-se a capital de Portugal, com implicações políticas, económicas e administrativas para a unidade e estatuto do seu território. Em termos económicos, a política portuguesa passou a seguir uma via liberal, de acordo com as ideias de Adam Smith e de outros pensadores ingleses. Para isso, muito contribuiu o baiano José da Silva Lisboa, Vis-conde de Cairu, um dos exemplos de figuras históricas que puseram o seu valor ao serviço do Brasil e que muito contribuíram para a consolidação da Nação brasileira. 


Marta Wengorovius

A partir da pergunta “qual a relação essencial entre arte e pedagogia?” veio a descoberta de que o infinito é o espaço de intersecção entre estas. Mais precisamente, ambas abrem a capacidade de trazer o infinito para o presente. Se oiço uma música estendo-me. É neste terroir que se faz nascer o Método UM DOIS e MUITOS (UDM). Propõe-se uma forma de Estar no Mundo. A proposta de cada UM a “afiar o seu lápis”, descobrindo o balanço contínuo do que é desenhar com estes, e entre estes, três lápis UM, DOIS e MUITOS. Trazem-se aqui 3+1 palavras para a criação de infinito: “sensibilidade”, “afecto”, “comple-xidade” e “digestão”. E uma aproximação, uma proposta para uma obra colaborativa: Se uma serra nos guiasse — a escola hoje é um Caderno Nómada.

Rui Vasconcelos

O ensaio debruça-se sobre a poesia de José Augusto Mourão, lendo-a sob o signo do corpo. Mais do que o dito sobre o corpo, interessará o corpo, ou o ser humano enquanto corpo, que se diz neste trabalho poético. Sendo no dito que se descortina o dizer, é pelo enunciado que se chega à enunciação: na sua matriz textual, esta poesia litúrgica vai além das coordenadas da sua oralidade, chegando a novos leitores que, no exigente trabalho de leitura, a assumem no seu corpo e por ela se deixam marcar. Após a introdução à natureza litúrgica da poesia de Mourão, segue-se a leitura de três poemas considerados paradigmáticos da enunciação poética de um corpo de desejo, revelando três possíveis dimensões de compreensão do viver crente.


Dimensões
15 x 23,4

Nr de páginas
112

ISSN
0870–7618