Da academia à taberna, do parlamento ao pavilhão, a palavra ética está por todo o lado. Mas de que falamos quando falamos de ética? E que razões levaram alguns filósofos a decretá-la a parte mais eminente da filosofia? Que problema decisivo se esconde debaixo de um termo usado muitas vezes para criar um simulacro de respeitabilidade?
Recorrendo a pensadores como Epicteto, Santo Agostinho e Kierkegaard, o curso visa chamar a atenção para uma hipótese mais radical do que fechar a torneira ou ter cuidado com os pronomes. Trata-se de reconhecer a diferença entre bem e mal como a diferença mais importante da própria vida. Ao longo de quatro sessões, serão examinadas ideias comuns, como a redução da ética à esfera das relações interpessoais ou o pressuposto de uma bondade “espontânea”. No caminho, batemos à porta de uma das grandes questões da existência humana: a questão do livre-arbítrio.
Programa
Dia 1 – O que a ética não é
Perceber o que está em jogo na ética implica afastar alguns mal-entendidos frequentes. Tendo isso em vista, procurar-se-á pôr em evidência os limites da ética aplicada e, sobretudo, analisar a diferença entre convicções teóricas e categorias vitais. Com o alto patrocínio de Pascal e Kierkegaard.
Dia 2 – Dois tipos de preocupação
Os estóicos insistem na distinção entre a preocupação com o que me acontece e a preocupação com o que eu sou. A partir de textos de Epicteto, propomo-nos explorar esse campo de problemas, tentando descrever uma certa tendência humana para a passividade e enfrentando a pergunta: os actos valem pelos efeitos produzidos ou por aquilo em que nos tornamos?
Dia 3 – Amor-próprio e amor à verdade
A ética é muitas vezes pensada como o prolongamento ou a intensificação de um amor espontâneo pelo bem. Mas será o nosso coração assim tão simples? Santo Agostinho e uma longa tradição de análise do amor-próprio julgam que não. Procurar-se-á sublinhar os aspectos mais importantes da reflexão agostiniana sobre o egoísmo e compreender a tese segundo a qual o ético é uma possibilidade a adquirir.
Dia 4 – O livre-arbítrio
Na última sessão, revisitamos um problema clássico e menosprezado: o livre-arbítrio. O que é, em bom rigor, decidir livremente? E que modo-de-ser é este que nos calhou em sorte, marcado pela capacidade e exigência de auto-determinação? Serão também sublinhadas algumas resistências actuais a uma compreensão ética da vida.
Simão Lucas Pires
Simão Lucas Pires é escritor, autor de A Trombeta Vaga (Quetzal, 2023). Formado em filosofia, investigador no IEF, foi professor do ensino secundário e é actualmente leitor de literatura na Brotéria. Organiza formações nas áreas da literatura e da filosofia. Colabora na secção de cultura do jornal Observador. Colabora com a APECEF em iniciativas relacionadas com a educação.