Um dos maiores desafios que se colocam hoje às democracias liberais é a ideia que uma resposta adequada à crise ecológica que vivemos não é compatível com a lentidão dos processos democráticos. Precisamos, dizem alguns, de mudar para regimes políticos mais autoritários – as chamadas biocracias - que nos permitam sobreviver. As três conversas deste curso servirão para pensar como salvar a ideia de democracia do perigo de extinção através de uma reflexão social e política que, assumindo completamente a realidade da crise ecológica, não prescinde dos princípios democráticos como via para a resolver.
Este curso será apresentado exclusivamente em formato presencial.
Programa
Dia 1 — Que desafios coloca a transição ecológica às democracias?
Partindo do artigo de João Cardoso Rosas, “Seres humanos, animais ou natureza” (Brotéria 189, 2019) começaremos por estabelecer vocabulário para as diferentes correntes políticas ligadas à ecologia política. Depois, pegando num diálogo entre Alice e o Presidente da Câmara de Lião no filme Alice et le Maire, de Nicolas Pariser, 2019, perguntar-nos-emos se ainda podemos pensar a ação pública em termos de progresso, ou se a política é hoje exclusivamente a gestão da penúria.
Dia 2 — À espera dos bárbaros
Tal como no romance de J. M. Coetzee, a utilização do “medo do que vem aí” tem sido um recurso recorrentemente usado por agentes políticos que instrumentalizam a crise ecológica para atacarem a democracia liberal. Centrar a nossa atenção na análise serena de algumas estratégias políticas de criação de medo do fim do mundo é assim uma tarefa incontornável no caminho de encontrar alternativas à falsa dicotomia entre sobrevivência e democracia. Também o terrorismo ecológico será abordado sob o prisma histórico desde o Unabomber até hoje.
Dia 3 — O que seria uma “biocracia”?
Hans Jonas sugere que a melhor estratégia de sobrevivência seria implementar uma “tirania simpática”. Bruno Latour gostaria de criar o “Parlamento das Coisas” – com deputados não humanos representados por “especialistas”. Dominique Bourg quer dar às ONGA (Organizações Não-Governamentais de Ambiente) o direito de veto das leis promulgadas pelas instâncias democráticas. Estas e outras propostas de biocracias, todas gozando de uma certa popularidade na literatura política atual, merecem ser analisadas serenamente sob um prisma democrático.
P. Manuel Cardoso SJ
Jesuíta desde 2006, concluiu um mestrado em Teologia no Centre Sèvres e outro em Estudos políticos, na EHESS, Paris. Concluiu, recentemente, um doutoramento sobre as políticas públicas de Thomas Hobbes, também na EHESS. Foi diretor-adjunto da revista Brotéria entre 2019 a 2024, e é atualmente diretor-geral da Brotéria.