No dia 10 de novembro de 2025, lançamos o novo website da Brotéria. Apostamos numa nova forma de navegação que revela múltiplas possibilidades à medida que vai acontecendo, criando relações em teia. Desafiamos as métricas baseadas no tempo do consumo de conteúdo, com a intenção, tanto de dar visibilidade aos assuntos e encontros que acontecem na Brotéria, como de produzir um espaço para a produção de conhecimento. Debruçamo-nos sobre esta renovação conceptual e tecnológica, entendendo o espaço digital como um bom lugar e refletimos sobre a representação do tempo nas nossas vidas, que nos obriga a escolher, criteriosamente, sobre o que ver, onde ir, o que ler.
No dia 8 de dezembro de 2024, caía Bashar al-Assad e a ditadura de décadas na Síria. A data ditou o fim do regime, mas não o fim dos grandes obstáculos à paz, à segurança e ao desenvolvimento económico. Às consequências nefastas resultantes da falta de liberdade de expressão e de participação política, a progressiva degradação económica ou a incorporação forçada nas forças armadas por longos anos, vieram juntar-se a insegurança generalizada que, hoje, se vive tocando também o que é novo, o culto de minorias religiosas. Neste artigo, não se pretende fazer uma análise política especializada, mas, tão só, testemunhar a experiência pessoal do autor no país, tendo como seu laboratório de observação o centro comunitário Manuel Hurtado, na periferia de Damasco. Procurando manter um tom esperançoso, reconhece-se com realismo quanto é incerto o momento presente da Síria. Para a Brotéria, o artigo resulta da opção editorial por prestar atenção a conflitos menos mediatizados entre nós.
As Matérias-Primas Críticas são recursos naturais essenciais que se situam no epicentro da transformação económica, da inovação tecnológica e da rivalidade securitária global; são um eixo das políticas de segurança nacional e económica dos Estados, por sustentarem as indústrias estratégicas do século XXI. A União Europeia aprovou, em 2024, o Critical Raw Materials Act (CRMA) que identifica 34 matérias-primas críticas e 17 estratégicas. A sua relevância geopolítica é inequívoca. A História recente mostra como a disputa por matérias-primas tem alimentado conflitos armados, instabilidade política e graves violações de direitos humanos. Tais recursos são crescentemente convertidos em instrumentos de poder, de coerção e de influência estatal. A rivalidade entre os Estados Unidos e a China transformou o acesso a minerais críticos numa verdadeira alavanca estratégica no tabuleiro geopolítico contemporâneo.
Superar a polarização parece ser uma das tarefas que o Papa Leão XIV considera prioritárias, concretamente em questões que envolvem a liturgia e a sexualidade. De facto, é quando os conflitos se despolarizam que se encontram as soluções. Mas, despolarizar, sendo uma arte muito antiga na teologia da Igreja, é também uma arte difícil, que não evita necessariamente conflitos. Atualizar as categorias com que se trabalha a hermenêutica teológica da tradição é condição insuperável para uma efetiva despolarização. Não se trata de “mudar a doutrina”, mas de a reler enquanto norma nutritiva, abandonando as formulações comprometidas com preconceitos socioculturais datados. Não se pode confundir verdade teológica com formulações sociológicas ou culturais.
As ligações entre práticas espirituais-religiosas e o bem-estar das pessoas de mais idade vêm sendo investigadas a partir de diferentes domínios, desde a primeira metade do século XX. Em geral, esses estudos demonstram como hábitos ligados à espiritualidade e às diferentes religiões têm um efeito geralmente positivo na saúde e no bem-estar dos idosos, desde logo pela capacidade em criarem comunidades coerentes e de apoio. Ao percorrer lares, centros de dia, domicílios e instituições de apoio à população envelhecida residente no Concelho da Covilhã, verificou-se que os idosos buscam na vivência “mediada” da espiritualidade e da religiosidade a possibilidade de se manterem conectados à sua fé. Através dos media, as pessoas com mobilidade reduzida conseguem manter ativas as suas práticas espirituais e religiosas.
O artigo nasce a propósito de Ônfalo, exposição do artista Hugo de Almeida Pinho, patente na Brotéria, de 18 de setembro e a 8 de novembro de 2025 – um trilho para uma descida encantatória ao centro da Terra, ao umbigo do mundo (ônfalo). Visitam-se o santuário e o oráculo de Delfos, casa de Apolo, e, depois Corycian, local de culto a Pã, o deus da natureza. Visitam-se as grutas de Mida D’Aire e o maciço de Morais e, ainda, o buraco de 12,2 quilómetros de profundidade perfurado pela URSS em 1992 no Círculo Polar Ártico. A humanidade sempre teve um anseio ancestral por abeirar-se do centro do planeta, lugar de revelação e de ocultação, ponto que organiza e une diferentes planos da existência, onde é narrado, encenado e organizado o poder do centro. Paralelamente, a evocação da vitalidade da conexão à terra favorece a iniciação ao descentramento pluricêntrico e fragmentado que caracteriza as nossas experiências e narrativas e de que precisamos.
O artesanato tem regressado ao centro do discurso cultural; o saber-fazer tem sido redescoberto como património vivo. No artigo “Entre as mãos e a matéria: o saber fazer artesanal como património e arte”, publicado na Brotéria no número de maio/junho de 2025, Rita Jerónimo propusera uma leitura mais institucional, sublinhando a importância da transmissão intergeracional, da oralidade e do contexto na preservação dos ofícios, sublinhando os riscos de esquecimento, de folclorização, de perda do sentido comunitário. Entrando em diálogo crítico com a autora, adverte-se, aqui, que pôr o foco na salvaguarda gera o risco de fixar o que, por natureza, sempre foi móvel. A ideia de que existe um “modo certo” de fazer algo é, frequentemente, uma construção recente, consolidada por manuais, certificações, discursos normativos. Advoga-se que é preciso deixar de ver o artesanato como resíduo do passado e começar a vê-lo como infraestrutura do futuro.
Quando, em 2019, a Brotéria se mudou da sua antiga casa para a Rua de São Pedro de Alcântara, em Lisboa, empenhou-se em criar uma coleção permanente de arte contemporânea, consciente da importância de habitar um novo espaço em diálogo com a arte dos nossos dias. O objetivo nunca foi meramente estético e, menos ainda, de procura de valores decorativos. Quis-se levar ao seu máximo potencial as virtudes pedagógicas, existenciais, culturais, democráticas das obras de arte. Revisitando a história da constituição da coleção durante os últimos anos de atividade desta casa de cultura, identificam-se os princípios que têm balizado as escolhas e elencam-se algumas linhas de orientação positivas inatas à coleção.
Dimensões
15 x 23,4
Nr de páginas
88
ISSN
0870–7618