Ao celebrar o Jubileu dos artistas na preocupante situação internacional atual, o Papa Francisco colocou a questão: «mas
para que serve a arte num mundo ferido? Não há coisas mais urgentes, mais concretas e mais necessárias?» Se o perfil deste Papa não é, à partida, o de um entendido em arte, a sua personalidade e sensibilidade espiritual aos dramas da humanidade
tornam-no próximo da arte e dos artistas do nosso tempo. Sublinhar o poder da beleza aponta também para a capacidade
que as artes têm de gerar emoções partilhadas, de criar pontes entre as pessoas e de gerar novas sociabilidades. Reconhece
ainda na arte do nosso tempo uma função profética: é tão crítica das falácias desumanizadoras da sociedade como é capaz
de introduzir novidade na história e de imaginar um mundo melhor.
Resistente à democratização e à descolonização no pós-guerra, o Estado Novo colapsa em 1974. O 25 de abril traz a democratização, em agudo confronto até ao 25 de novembro, que contém o tom revolucionário. Em paralelo e com dramatismo, decorre a descolonização que interrompe meio milénio de prioridade do Além-Mar para Portugal. Na Madeira e nos Açores, o fenómeno culmina na institucionalização das autonomias. Hoje, após meio século de combates ideológicos e de clivagens políticas, a promoção do bem comum exige a união dos contrários: da democracia direta, que suscita o envolvimento dos cidadãos, com a democracia representativa, que consente o seu alheamento; do liberalismo com o socialismo, para conciliação da produção com a repartição de riqueza. Porém, na comparação externa, o desafio passa ainda pela redução do atraso através do empenho na educação, determinante na excisão da pobreza e das suas novas fisionomias.
Analisa-se Revolução inacabada, de João Pedro Henriques, obra que propõe uma abordagem alternativa às comemorações
do 25 de Abril, focando-se nas continuidades entre a ditadura e a democracia. O autor destaca o elitismo na política e o machismo na justiça como exemplos de elementos que permaneceram em grande medida inalterados. Embora a análise tenha limitações, nomeadamente na articulação entre os diferentes temas e na ausência de uma reflexão aprofundada sobre o próprio significado do 25 de Abril, a obra constitui um exercício provocador. Ao abordar fenómenos de longa duração, como a corrupção, o clientelismo e a tecnocratização do poder, o livro incentiva uma leitura do 25 de Abril que transcende o momento revolucionário, inserindo-o numa perspetiva histórica mais ampla. Aproveita-se assim o desafio lançado pela obra para refletir historicamente sobre as mudanças e permanências na sociedade portuguesa e como estas se relacionam com o 25 de Abril.
O Sahara Ocidental é a última colónia em África. Situa-se no norte do continente, bem perto de Portugal. Aqui, porém, desconhecemos- lhe a história, o povo e a legítima luta pelo direito à autodeterminação e independência. O artigo fornece informação atualizada sobre o território que Marrocos invadiu e ocupou militarmente em 1975; sobre como o Direito Internacional reconhece que cabe exclusivamente ao povo saharaui decidir sobre o seu futuro, através de um referendo livre e justo; sobre como o poder ocupante continua impunemente a violar os direitos humanos, a explorar ilegalmente os recursos naturais que não são seus e a desafiar a comunidade internacional. Num tempo em que parece impor-se a desordem mundial, criando ansiedade e paralisia, reflete- se sobre as palavras do Papa Francisco de que a “arquitetura da paz” precisa de “artesãos” informados, preparados e intervenientes. Ouvir aqueles que o ruído do mundo abafa é um passo fundamental.
Os acontecimentos libaneses relativos ao Hezbollah tiveram uma grande influência no que tem acontecido na Síria desde 27 de novembro de 2024. Um exército bem
organizado e bem treinado de rebeldes islamistas da pequena província síria de Idlib, em menos de duas semanas, depois
de tomar Alepo, Hama e Homs, chegou à capital Damasco. Ocupou-a quase sem derramamento de sangue e forçou Bashar
al-Assad a uma fuga precipitada. O artigo aborda não só o cessar-fogo entre o Hezbollah e Israel mas também aquele que entrou em vigor em Gaza, a 19 de janeiro, após longas e difíceis negociações. As tréguas chegam numa altura em que quase tudo na Faixa de Gaza foi destruído, a população abandonada à fome e as cidades reduzidas a montes de escombros. Entretanto, o cessar-fogo foi quebrado.
Da releitura da parábola do “Bom Samaritano”, tomada do capítulo 10 do Evangelho de S. Lucas, colhe-se o dever de proteger e de cuidar de quem está em situação de vulnerabilidade. No mês em que se assinala internacionalmente a importância da prevenção dos maus-tratos na infância, defende-se que esta responsabilidade é de todos. Quanto à Igreja, é chamada a ser “estalagem” – dinâmica de compromisso e lugar de acolhimento, de escuta, de proteção e de cuidado, que restitua dignidade, garanta liberdade e repare danos. Dá-se o exemplo do Serviço de Proteção e Cuidado dos jesuítas portugueses e do seu
empenho em envolver todos na missão evangélica de proteger e de cuidar que, mais do que identificar abusos e maus-tratos, procura despertar consciências para as várias formas de violência, desde as mais evidentes até às mais subtis.
Sendo “uma das estruturas de suporte da vida”, a fragilidade é uma dimensão constitutiva do ser humano que cabe reconhecer de forma realista. Se é certo que se gostaria de não ter fragilidades, de não olhar para elas e, ainda menos, de as assumir, o problema não é a fragilidade, mas aquilo que se faz com ela. Começando por distinguir entre fragilidade e vulnerabilidade, fragilidade e fragilidades, dá-se especial atenção ao exemplo particularmente dramático e, mais do que nunca, quotidiano de fragilidade que é a deficiência. Procura-se mostrar o seu especial potencial de humanização.
Se queremos guardar um lugar digno para a literatura na formação de qualquer pessoa, temos de explicar àqueles que nos têm pressionado a ensinar literatura por excertos ou resumos a necessidade de nos focarmos nas obras e nos autores e não no desenvolvimento de capacidades de descrição genérica. Para isso, temos de focar-nos no objeto da leitura e não tanto no que a leitura pode fazer por nós. Temos de explicar também, na melhor das hipóteses, o benefício de ler algumas obras por inteiro.
Neste ensaio, faz-se a defesa do papel da literatura em qualquer percurso educativo, explorando três argumentos relacionados
com a carta do Papa Francisco “Sobre o Papel da Literatura da Educação”, de julho de 2024. Num último ponto, expõem-se dificuldades, nomeadamente, se devemos ler algumas obras por obrigação.
Dimensões
15 x 23,4
Nr de páginas
96
ISSN
0870–7618