Volume 200 — 4, Abril 2025

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João Norton de Matos SJ

Ao celebrar o Jubileu dos artistas na preocupante situação internacional atual, o Papa Francisco colocou a questão: «mas
para que serve a arte num mundo ferido? Não há coisas mais urgentes, mais concretas e mais necessárias?» Se o perfil deste Papa não é, à partida, o de um entendido em arte, a sua personalidade e sensibilidade espiritual aos dramas da humanidade
tornam-no próximo da arte e dos artistas do nosso tempo. Sublinhar o poder da beleza aponta também para a capacidade
que as artes têm de gerar emoções partilhadas, de criar pontes entre as pessoas e de gerar novas sociabilidades. Reconhece
ainda na arte do nosso tempo uma função profética: é tão crítica das falácias desumanizadoras da sociedade como é capaz
de introduzir novidade na história e de imaginar um mundo melhor.


Avelino de Freitas de Meneses

Resistente à democratização e à descolonização no pós-guerra, o Estado Novo colapsa em 1974. O 25 de abril traz a democratização, em agudo confronto até ao 25 de novembro, que contém o tom revolucionário. Em paralelo e com dramatismo, decorre a descolonização que interrompe meio milénio de prioridade do Além-Mar para Portugal. Na Madeira e nos Açores, o fenómeno culmina na institucionalização das autonomias. Hoje, após meio século de combates ideológicos e de clivagens políticas, a promoção do bem comum exige a união dos contrários: da democracia direta, que suscita o envolvimento dos cidadãos, com a democracia representativa, que consente o seu alheamento; do liberalismo com o socialismo, para conciliação da produção com a repartição de riqueza. Porém, na comparação externa, o desafio passa ainda pela redução do atraso através do empenho na educação, determinante na excisão da pobreza e das suas novas fisionomias.


Manuel Figueira

Analisa-se Revolução inacabada, de João Pedro Henriques, obra que propõe uma abordagem alternativa às comemorações
do 25 de Abril, focando-se nas continuidades entre a ditadura e a democracia. O autor destaca o elitismo na política e o machismo na justiça como exemplos de elementos que permaneceram em grande medida inalterados. Embora a análise tenha limitações, nomeadamente na articulação entre os diferentes temas e na ausência de uma reflexão aprofundada sobre o próprio significado do 25 de Abril, a obra constitui um exercício provocador. Ao abordar fenómenos de longa duração, como a corrupção, o clientelismo e a tecnocratização do poder, o livro incentiva uma leitura do 25 de Abril que transcende o momento revolucionário, inserindo-o numa perspetiva histórica mais ampla. Aproveita-se assim o desafio lançado pela obra para refletir historicamente sobre as mudanças e permanências na sociedade portuguesa e como estas se relacionam com o 25 de Abril.


Luísa Teotónio Pereira

O Sahara Ocidental é a última colónia em África. Situa-se no norte do continente, bem perto de Portugal. Aqui, porém, desconhecemos- lhe a história, o povo e a legítima luta pelo direito à autodeterminação e independência. O artigo fornece informação atualizada sobre o território que Marrocos invadiu e ocupou militarmente em 1975; sobre como o Direito Internacional reconhece que cabe exclusivamente ao povo saharaui decidir sobre o seu futuro, através de um referendo livre e justo; sobre como o poder ocupante continua impunemente a violar os direitos humanos, a explorar ilegalmente os recursos naturais que não são seus e a desafiar a comunidade internacional. Num tempo em que parece impor-se a desordem mundial, criando ansiedade e paralisia, reflete- se sobre as palavras do Papa Francisco de que a “arquitetura da paz” precisa de “artesãos” informados, preparados e intervenientes. Ouvir aqueles que o ruído do mundo abafa é um passo fundamental.


Giovanni Sale SJ

Os acontecimentos libaneses relativos ao Hezbollah tiveram uma grande influência no que tem acontecido na Síria desde 27 de novembro de 2024. Um exército bem
organizado e bem treinado de rebeldes islamistas da pequena província síria de Idlib, em menos de duas semanas, depois
de tomar Alepo, Hama e Homs, chegou à capital Damasco. Ocupou-a quase sem derramamento de sangue e forçou Bashar
al-Assad a uma fuga precipitada. O artigo aborda não só o cessar-fogo entre o Hezbollah e Israel mas também aquele que entrou em vigor em Gaza, a 19 de janeiro, após longas e difíceis negociações. As tréguas chegam numa altura em que quase tudo na Faixa de Gaza foi destruído, a população abandonada à fome e as cidades reduzidas a montes de escombros. Entretanto, o cessar-fogo foi quebrado.


Sofia Marques

Da releitura da parábola do “Bom Samaritano”, tomada do capítulo 10 do Evangelho de S. Lucas, colhe-se o dever de proteger e de cuidar de quem está em situação de vulnerabilidade. No mês em que se assinala internacionalmente a importância da prevenção dos maus-tratos na infância, defende-se que esta responsabilidade é de todos. Quanto à Igreja, é chamada a ser “estalagem” – dinâmica de compromisso e lugar de acolhimento, de escuta, de proteção e de cuidado, que restitua dignidade, garanta liberdade e repare danos. Dá-se o exemplo do Serviço de Proteção e Cuidado dos jesuítas portugueses e do seu
empenho em envolver todos na missão evangélica de proteger e de cuidar que, mais do que identificar abusos e maus-tratos, procura despertar consciências para as várias formas de violência, desde as mais evidentes até às mais subtis.


Luciano Manicardi

Sendo “uma das estruturas de suporte da vida”, a fragilidade é uma dimensão constitutiva do ser humano que cabe reconhecer de forma realista. Se é certo que se gostaria de não ter fragilidades, de não olhar para elas e, ainda menos, de as assumir, o problema não é a fragilidade, mas aquilo que se faz com ela. Começando por distinguir entre fragilidade e vulnerabilidade, fragilidade e fragilidades, dá-se especial atenção ao exemplo particularmente dramático e, mais do que nunca, quotidiano de fragilidade que é a deficiência. Procura-se mostrar o seu especial potencial de humanização.


Pedro Franco

Se queremos guardar um lugar digno para a literatura na formação de qualquer pessoa, temos de explicar àqueles que nos têm pressionado a ensinar literatura por excertos ou resumos a necessidade de nos focarmos nas obras e nos autores e não no desenvolvimento de capacidades de descrição genérica. Para isso, temos de focar-nos no objeto da leitura e não tanto no que a leitura pode fazer por nós. Temos de explicar também, na melhor das hipóteses, o benefício de ler algumas obras por inteiro.
Neste ensaio, faz-se a defesa do papel da literatura em qualquer percurso educativo, explorando três argumentos relacionados
com a carta do Papa Francisco “Sobre o Papel da Literatura da Educação”, de julho de 2024. Num último ponto, expõem-se dificuldades, nomeadamente, se devemos ler algumas obras por obrigação.


Dimensões
15 x 23,4

Nr de páginas
96

ISSN
0870–7618