Volume 199 — 5, Novembro 2024

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José Frazão Correia SJ

A sinodalidade, tema do Sínodo da Igreja Católica concluído recentemente, assume e opera uma nova visão de Igreja face ao modelo herdado de Trento. Deslocar a atenção, as práticas e o pensamento da Igreja clericalizada, piramidal e burocrática para a Igreja sinodal é, por isso, um processo ousado, acidentado e lento. Sem a liberdade e a coragem necessárias, teme-se que não passe de bons propósitos e de frases feitas. O exemplo do tema do acesso das mulheres ao ministério ordenado, retirado do debate sinodal e confiado ao Dicastério para a Doutrina da Fé, deixa essa inquietação. Positivamente, a sinodalidade lança práticas, laboratórios, pensamento teológico e léxicos inéditos que dão corpo a uma outra forma eclesial. Poderá ser ainda incipiente e que não enforme suficiente e transversalmente a mentalidade e o conjunto das práticas eclesiais, mas, pelo menos no desejo e na dinâmica, já é realidade.


Henrique Burnay

Mais de 30 anos depois da grande vitória das democracias liberais no fim da Guerra Fria, o Ocidente está em crise. Internamente, falta quem defenda as virtudes da economia de mercado e das democracias liberais, enquanto não falta quem as acuse de terem deixado muitos para trás. Os números dizem o contrário: nunca se viveu tão bem como no início deste século. Mas não é isso que muitos eleitores pensam. Como recuperar o apoio ao modelo político e económico ocidental?


Béla Kuslits, Enikö Fehéreková, Colm Fahy, Filipe Martins SJ

Dá-se a conhecer a campanha de advocacy Iniciativa das Gerações Futuras (IGF) promovida pelo Jesuit European Social Center, em Bruxelas. Assumido o conceito de “gerações futuras” e a proteção dos seus interesses como desafio moral e prático, defendem-se políticas que considerem os seus impactos a longo prazo e se salvaguarde a justiça intergeracional. Estando a IGF longe de ter concluído a sua missão, registam-se as etapas já percorridas e os marcos significativos alcançados.


Alfredo Teixeira

Duas grandes linhas de diagnóstico das sociedades europeias marcadas pelo cristianismo católico apontam, uma, para o acentuar da erosão, olhando os indícios de declínio, a outra, para os sinais de reconfiguração, identificando zonas de remodelação que implicam a redescoberta de novas formas de identificação religiosa num quadro de mudança. Esta dupla perspetiva, se descreve o olhar socioantropológico sobre as mutações do religioso, caracteriza também sensibilidades contrastantes no campo religioso. Neste quadro, indagam-se os fios que tecem os vínculos entre religião e cultura. O caso da sociedade portuguesa é tomado como um laboratório relevante.


Cristina Inogés Sanz

O artigo “Desenvolvimento ou mudança da doutrina?”, publicado no número de julho da Brotéria, em torno da ética sexual e da necessidade de a conservar tal como a conhecemos hoje, é tomado como ponto de partida. Não se pretende entrar em confronto, mas quer-se oferecer outra visão das coisas. Considera-se que a leitura dos textos bíblicos deve assumir os respetivos contextos e que se deve cultivar o diálogo com aquisições científicas que vão mudando significativamente a perceção que temos de realidades humanas como a sexualidade.


João Norton de Matos SJ

Faz-se um balanço do Seminário de Arquitetura e Espaço Litúrgico que tem decorrido na Brotéria desde há três anos. Num total de catorze sessões, foi juntando arquitetos, liturgistas, investigadores e outros interessados, procurando perspetivas diversificadas. A noção de espaço sagrado em perspetiva cristã, a história e a evolução da organização do espaço litúrgico, figuras marcantes do s. XX, como Romano Guardini e o Cardeal Lercaro, ou o Movimento de Renovação de Arte Religiosa em Portugal, estão entre os temas fundamentais abordados. Foram ainda apresentados casos de estudo, exemplos de boas práticas e projetos com a presença dos autores, e debatidos textos de especialistas. O método visou um equilíbrio entre a divulgação e a investigação. A recente carta apostólica do Papa Francisco Desiderio desideravi sobre a reforma e formação litúrgica relembra que ainda há muito a fazer no que respeita à arquitetura e ao espaço litúrgico.


José Pedro Serra

O poema Os Lusíadas insere-se na longa tradição da poesia épica que tem Homero, ao menos para nós, como fonte original. Nesta reflexão, para além de alguns traços fundamentais da epopeia e da mundividência heróica, procura-se dar a ver as “vozes dissonantes” que não apenas se apresentam nas grandes epopeias da Antiguidade Clássica (Ilíada, Odisseia e Eneida), como também na epopeia camoniana. Estas “vozes” dão a estes poemas épicos uma complexidade e uma profundidade que impede que os consideremos, em qualquer sentido, manifestações de estéreis actos ou sonhos de grandeza.


Francisco Mota SJ

O artigo é escrito tendo como pano de fundo a quantidade de trabalho que em anos recentes a Brotéria fez para tornar clara a sua missão. Em 2020, o P. António Júlio Trigueiros escrevia, no editorial de janeiro, de onde a atual Brotéria vinha; em setembro de 2022 e em fevereiro de 2023, o P. José Frazão Correia ajudou a sintetizar qual o entendimento que a Brotéria tem da formulação da sua missão; em setembro de 2022 eu próprio contei a história recente da Brotéria que a fez chegar ao Bairro Alto e, em janeiro de 2023, apresentei num editorial, retomado em janeiro de 2024 em conjunto com a Madalena van Zeller, aquilo que queríamos dizer com o termo eutopos. A Brotéria não tem sido avessa a contar a sua história e a deixá-la por escrito. Espero que estas páginas ajudem a continuar esse dinamismo.


Dimensões
15 x 23,4

Nr de páginas
114

ISSN
0870–7618