Volume 199 — 2, Agosto/Setembro 2024

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Gustav Shörghofer SJ

Se a arte moderna é criada quase sempre fora das igrejas, por que razão deveria encontrar espaço dentro delas? Não a poderão dispensar ou, quanto muito, limitar- se à arte cristã do passado que expõe conteúdos facilmente identificáveis? Porquê favorecer a arte do nosso tempo, tão difícil de compreender? Movidos por esta interrogação, defende-se que a arte moderna/contemporânea, com a sua predileção por coisas simples e pobres, pode contribuir muito para tornar acessível elementos nucleares da fé cristã. Duas Igrejas dos jesuítas em Viena, uma barroca e outra construída nos anos sessenta do século passado, são dados como exemplos de diferentes abordagens atuais à arte nas igrejas.


José Frazão Correia SJ

No quadro de “exculturação” do cristianismo, enquanto processo de enfraquecimento do lastro cultural cristão que serviu de referência comum à sociedade, importante não é saber se a Igreja católica subsistirá ou não – subsistirá, certamente – mas como, em que lugares e em que estado. Será na forma clerical e imperial assente no monopólio da verdade, na sacralidade do padre e na lógica geopolítica de conquista e de ocupação territorial? Será, antes, de forma desterritorializada e inculturada segundo outros modelos? Como minoria, o cristianismo deverá pensar- se e atuar como “contra-cultura”, em exílio defensivo ou em oposição à cultura comum, ou, antes, como “outra-cultura”, no sentido de oferecer, a partir da sua diferença, uma orientação particular à cultura da qual se sente fazer parte? As questões são colocadas a partir da leitura de Vers l’implosion?, dos sociólogos franceses Danièle Hervieu-Léger e Jean-Louis Schlegel.


Pedro Valente

O quotidiano da humanidade como o concebemos atualmente não é possível sem smartphones. Esta dependência tem impacto na nossa evolução como espécie e, se isso não significa que os devamos proibir radicalmente, significa, menos ainda, que os devamos aceitar sem questionar esse impacto. Têm surgido dados que apontam no sentido de que o uso do smartphone em ambiente escolar não é benéfico para a aprendizagem, razão pela qual são cada vez mais as escolas a proibirem-no. Tendo por base os princípios da aprendizagem ativa, é inquietante perceber como o modelo teórico em que se baseia o desenho das plataformas digitais recreativas perturba aspetos elementares da aprendizagem como o controlo inibitório, a memória de trabalho e a reflexão. Além disso, pensando na educação enquanto formação integral dos alunos, é também a construção de um projeto de vida que se vê potencialmente prejudicada.


Silvano Petrosino

A hipótese cristã funda-se sobre as ideias de encarnação e de ressurreição que, além de se referirem diretamente ao corpo, dizem também respeito à figura de Deus. A “descida” da encarnação é uma “elevação”, não tanto no sentido de levar ao alto o que está em baixo, supostamente inferior, mas no sentido bem mais profundo e dramático de afirmar, de desvelar e de confirmar o alto que o baixo, enquanto criatura, sempre foi. A conceção cristã do “corpo” move-se totalmente dentro do horizonte da encarnação e é por esta razão que o olhar do cristão, deixando-se instruir pelo modo particular de Jesus de Nazaré habitar a vida, atravessa o “corpo”, não para se libertar dele, mas para colher a profundidade e a densidade da “carne”. Esta, revelando o todo do viver humano, impõe-se como a via mais séria e realista de acesso ao “espírito”.


Francisco Martins SJ

Nas últimas décadas, assistiu-se ao florescimento de uma nova forma de interpretar o legado literário do apóstolo Paulo. Esta “radical nova perspetiva” pretende reposicionar totalmente Paulo no seio do judaísmo do século I d.C., separando o estudo dos seus escritos de considerações de ordem eclesial e teológica dependentes de outros contextos e latitudes. Neste artigo, exploram-se três contributos recentes, enquadrando-os na história moderna e contemporânea dos estudos paulinos.


Eduardo Amaral SJ

Não obstante a facilidade da gratificação instantânea das nossas necessidades, o desejo consumista descobre-se sempre insatisfeito. Face à ilusão de saciedade, a tristeza e a dificuldade causam ansiedade e abalam os compromissos afinal insatisfatórios. A preocupação pelo bem-estar pode tornar-se num autocentramento fechado à confiança e ao risco das relações verdadeiras. Há, contudo, exemplos que recordam que nos tornamos mais pobres se desaprendemos a confiança, sobretudo nas noites da vida. Um desses exemplos é Santa Teresa do Menino Jesus, mestra de confiança e fidelidade. Vale a pena voltar a Teresa de Lisieux e reaprender que a realização pessoal não consiste na abolição de todos os limites, nem depende apenas da vontade própria. Servem também os momentos noturnos da existência enquanto lugares de transformação interior.


Susana Mourato Alves-Jesus

Sobre a base da afirmação dos direitos humanos na cultura ocidental na segunda metade do séc. XVIII, identificam-se e problematizam-se discursos e práticas que são representativas da sua consciencialização e expressão em Portugal. Parte-se da hipótese de que é possível perscrutar uma gradual elaboração no quadro da cultura portuguesa e confirmar a sua consagração na lei, sob a forma de direitos individuais, a partir do movimento constitucional iniciado em 1820 que inaugura uma era dos direitos, por oposição ao paradigma anterior que põe o acento nos deveres decorrentes da aliança entre Trono e Altar. Dá-se igualmente conta das dissensões entre as teorias e as práticas, com avanços e recuos, entre o desígnio, que pode ser interpretado como utópico, de afirmação desses direitos e a efetiva garantia dos mesmos.


José Eduardo Franco

As ordens e congregações religiosas da Igreja católica têm um carácter metamórfico que lhes foi permitindo adaptarem-se a exigências e a condições novas das sociedades. Em Portugal, não obstante a crise que sofreram com a renovação conciliar e com o choque de liberdade provocado pelo 25 de abril de 1974, também se adaptaram e se renovaram. O processo revolucionário acabou por enveredar pela via moderada de uma democracia pluralista que manteve a Concordata com a Igreja e aceitou, à luz dos valores da liberdade, da tolerância e do respeito pelas diferentes opções de vida, conservar tais instituições, contrariamente ao que havia acontecido no século XIX, e contar com elas como partes ativas na construção da nova sociedade democrática, nomeadamente através da educação e da assistência social.


Dimensões
15 x 23,4

Nr de páginas
110

ISSN
0870–7618