Por ocasião dos 50 anos do 25 de Abril, um tempo especial para pensar a liberdade também no contexto atual das artes, três curadores conversam sobre temas como as relações de mediação entre instituições culturais, artistas e público, o que podem ou não ser os constrangimentos na produção artística, a responsabilidade social na aproximação das artes e da cultura em geral da vida dos cidadãos ou a crítica de arte. Ofício de “mediação criativa”, defende-se a que a curadoria passe do fazer para ao fazer com, assumindo-se como prática mais horizontal.
Período habitual de férias, o verão fica assinalado este ano pelo Europeu de Futebol e pelo Jogos Olímpicos de Paris. Descanso e atividade desportiva tocam-se também como manifestações culturais e modos de estar na vida. Assim como nem todas as férias são descanso, nem todo o desporto faz descansar. Ambos pedem sabedoria na gestão dos tempos e dos modos de estar consigo mesmo e com os outros, com a natureza e com a própria transcendência. No agir olímpico, há dois aspetos socioculturais que merecem atenção: a “trégua olímpica”, como intenção de que a competição seja ocasião de paz; a tensão entre amadorismo e profissionalismo, num tempo em que o ideal pedagógico do desporto e das atividades lúdicas vai sendo abalado por interesses como o sucesso ou a riqueza. Dar mais atenção a palavras como des-canso e des-porto poderá ser uma boa prática: agir sem cansar, agir sem porte.
Os Jogos Olímpicos são uma das maiores manifestações culturais do nosso tempo. Foram criados em 776 a.C., na Antiga Grécia, e retomados em 1896, após um interregno de 1600 anos. O renascimento dos Jogos por mão de Pierre de Coubertin leva-nos para o campo da utopia (o não lugar), da eutopia (o bom lugar) e da ucronia (o bom tempo). Para dar valor e sentido a estes Jogos foi necessário mitificar as suas origens, tornando a “Grécia” um bom lugar e o adjetivo “Antiga” um bom tempo. A Grécia Antiga, ainda que seja um lugar e um tempo imprecisos, assume o papel de reserva moral para o desporto, a sua “Idade de Ouro”, um lugar e um tempo onde se cultivava a felicidade através do desporto. A utopia, a eutopia e a ucronia são também lugares possíveis de transcendência desportiva.
Nos anos 50 do século passado, a aspiração à democracia estava longe de se encontrar plenamente difundida ou, pelo menos, conscientizada entre os católicos portugueses. Os jornais que se diziam católicos apoiavam às claras o regime. A Igreja dir-se-ia permanecer numa espécie de era constantiniana, já que não estavam esquecidos os maus tratos de intolerância e de arbítrio dos tempos da I República. Ninguém parecia conhecer a mensagem do Papa Pio XII, do Natal de 1944, sobre a democracia. Contudo, já apareciam sinais de mudança. Com o Concílio Vaticano II iniciado, a encíclica Pacem in Terris viria a ter em 1963 um impacto enorme em todo o mundo, católico e não católico, assinalando o fim da desconfiança perante a proclamação dos Direitos Humanos e da democracia. Hoje, apesar dos terríveis problemas que avassalam o mundo, encíclicas como Fratelli Tutti e Laudato Si’ são motivo de enorme esperança.
A partir da leitura do livro “Desmasculinizar a Igreja?” Análise crítica dos princípios de Hans Urs von Balthasar reflete-se sobre as ideias que, aí, abrem novos caminhos. Considera-se que o livro vai além da questão das mulheres ou do seu acesso ao ministério ordenado e que desafia a uma reflexão ampla e aprofundada das relações eclesiais tendo em conta o anúncio do Evangelho. Exploram-se três temas principais: a (re)descoberta das mulheres e dos homens reais; o carisma da amizade como meio para realizar o sonho do Criador e cumprir o Evangelho; uma Igreja construída à luz da Páscoa. A partir do diálogo que suscitaram estas linhas, apontam-se caminhos para que as reflexões promovidas pelo Papa Francisco junto das estruturas da Igreja possam continuar nas comunidades eclesiais e traduzir-se na realidade.
Tomando em consideração o editorial do número de março de 2024 da Brotéria, e, no mesmo número, os artigos “Reformar a ética sexual católica” e “Abençoar o bem que existe”, fazem-se comentários críticos ao que aí é identificado como necessidade de revisão doutrinal. Às ideias de há que distinguir a substância do Evangelho das suas formulações historicamente condicionadas; de que «cuidar da doutrina implica revê-la» ou de que «sempre que a Igreja quis garantir a sua identidade combatendo e protegendo-se das mudanças culturais, perdeu e perdeu-se», contrapõe-se que há realidades históricas em que, pelo contrário, se espera da Igreja uma reação a mudanças culturais que não contribuem para o bem da pessoa e da comunidade. O testemunho e a ação da Igreja hão de ser contraculturais. Na Antiguidade e também na época contemporânea, a ética sexual é um dos âmbitos em que isso se verificou. Defende-se que hoje não deve deixar de ser assim.
Olha-se para o hinduísmo a partir de uma perspetiva histórica e examinam-se os atributos religiosos no contexto da existência de direitos humanos na Índia. Propõe-se uma análise dos textos religiosos para compreender como os direitos humanos estão enraizados em antigos conceitos indianos para influenciar o governo e os habitantes. As questões do sistema de castas e das atrocidades consequentes são compreendidas através das escrituras hindus e discute-se a reforma social durante a era britânica. É estudada a perspetiva moderna sobre os direitos humanos e a ascensão do hinduísmo, com uma referência ao budismo como alternativa. Analisa-se a capacidade do governo da Índia independente para favorecer a sua permanência como país secular, sendo constituído por uma maioria tolerante de indivíduos que seguem o hinduísmo. Para concluir, destaca-se a abordagem do hinduísmo a alguns dos desafios que, hoje, se colocam aos direitos humanos.
Colocar a hipótese do perdão significa interrogar até às raízes a própria lógica da equivalência com que medimos as relações humanas: a amizade mas também a justiça, a política, a economia ou a educação. A lógica do perdão, se ele existe de facto e se chega a ser dado na vulnerabilidade ferida das nossas histórias, é a lógica do dom incondicionado e gratuito. A expressão matemática com que o evangelho cristão o traduz denuncia que a pergunta sobre quantas vezes se há de visitar o perdão, se até sete vezes, é desadequada. A questão urgente não é sobre a quantidade, mas sobre a necessidade e a possibilidade do perdão. 70x7 é hipérbole de uma paradoxal expressão que desconstrói as nossas questões pretensiosamente generosas de medir o perdão.
Dimensões
15 x 23,4
Nr de páginas
98
ISSN
0870–7618