Volume 197 - 4, Outubro 2023

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Antonio Spadaro SJ

Vindo a Lisboa para as Jornadas da Juventude, no dia 5 de agosto, o Papa Francisco encontrou-se com os jesuítas portugueses, no Colégio de São João de Brito. Numa conversa que se manteve sempre espontânea, livre e direta, falou sobre os desafios geracionais, o testemunho profético dos religiosos, as tensões internas da Igreja e o desenvolvimento da doutrina católica. Abordou ainda questões relativas à sexualidade humana, incluindo a homossexualidade e a transsexualidade, a Igreja do futuro e a sinodalidade. Desta forma, pode aprofundar o sentido do seu apelo à Igreja para que tenha, de facto, lugar para todos.


José Frazão Correia SJ

Entre os dias 2 e 6 de agosto, o Papa Francisco esteve em Portugal, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude. Como um mantra, a repetição da poderosa expressão «Todos! Todos! Todos!» foi condensando a mensagem e entusiasmando os destinatários. «Na Igreja há lugar para todos, sem exceção». Será mesmo assim? Logo na viagem de regresso a Roma, uma jornalista questionou o Papa: não será incoerente declarar uma «Igreja aberta», quando, de facto, «não é igual para todos»? A declaração de Francisco destina-se a instaurar uma prática como ponto de partida, na convicção de que «a realidade é mais importante do que a ideia». Será a realização efetiva dessa hospitalidade sem restrições a alargar o pensamento teológico e a conduzir à alteração de disposições canónicas e disciplinares.


Francisco Sassetti da Mota SJ

A recente vinda do Papa Francisco a Lisboa para se encontrar com jovens do mundo inteiro requer apropriação e avaliação. Concretamente em três campos específicos: a organização interna do evento; a razão que justifica que aquilo que o Papa disse em Portugal tenha sido visto como novidade quando não é se não a recuperação de temas e de preocupações que o acompanham desde o início do Pontificado; as palavras-chave presentes nos discursos e homilias do Papa. Sem uma avaliação ampla e completa da Jornada Mundial da Juventude, o evento não deveria ser dado por terminado.


Micah Lott, William Hasselberger

Temos vindo a assistir a enormes avanços na Inteligência Artificial (IA). A educação não é imune ao seu impacto, o que obriga a uma ampla reflexão ética sobre como viver uma boa vida humana lado a lado com máquinas cada vez mais inteligentes. Se é importante formular princípios legais e regulamentações que tornem a tecnologia segura para consumidores humanos, mais importante ainda será promover um debate ético, filosoficamente fundamentado, acerca da natureza do bem humano, já que a ascensão da IA leva a reconsiderar o que é que de facto significa ser-se humano numa era de modernidade avançada. As universidades católicas poderão ter um papel central neste debate.


Alfredo Teixeira

Pensar, hoje, as dinâmicas das comunidades e das redes cristãs exige uma renovada compreensão do modo como habitamos os territórios. Com este pressuposto, retomando e interpretando dados recolhidos em estudos sociológicos recentes feitos no nosso país, destacam-se traços das identidades religiosas e das dinâmicas sociais, sobretudo na Área Metropolitana de Lisboa, entre os quais uma geografia muito densificada que promove a procura de anonimato e a mobilidade. Em forma de conclusão, sublinha-se como é importante ter presente que a identidade crente se configura, hoje, mais como um programa de viagem, numa lógica multiterritorial, e menos na cristalização de uma posição num lugar. Este dado será particularmente relevante quando se pensam as paróquias, um dos principais rastos do longo curso da memória cristã nas culturas europeia.


João Norton de Matos SJ

Com frequência, a liturgia derivada da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II é celebrada em igrejas derivadas da reforma do Concílio de Trento. É o caso das igrejas pombalinas, construídas ou reconstruídas depois do terremoto de 1755. Após o último Concílio, adaptações mais imediatas foram levadas a cabo. Por exemplo, pôs-se um altar novo no centro do presbitério para o “padre” poder celebrar “virado para o povo”. No entanto, esses arranjos foram parciais e provisórios. Permanece um certo “inconsciente tridentino” impregnado na organização do espaço litúrgico e nossa forma habitual de celebrar. O Papa Francisco, na Carta Apostólica Desiderio desideravi (2022), apela a redescobrir e a dar continuidade à reforma litúrgica do Vaticano II, também no que diz respeito à adaptação das igrejas históricas. Como se equaciona esta problemática no caso das igrejas pombalinas e que soluções são simultaneamente respeitadoras da nova liturgia e do valor patrimonial destas igrejas, são questões que se levantam.


Arnaldo Espírito Santo

Em fevereiro de 2020, a investigadora Ana Valdez identificou, na biblioteca da Universidade Pontifícia Gregoriana, em Roma, o original do livro Clavis Prophetarum do Padre António Vieira SJ, em parte autógrafo, em parte ideógrafo. Apresentando-se, primeiro, os dados e os passos que conduziram a este feliz encontro, referem-se, depois, as consequências, umas simbólicas, outras filológicas, resultantes do facto de se ter, agora, a certeza de que este é o texto escrito ou editado pelo seu autor.


Silvano Petrosino

Se, nos nossos dias, os contos de fadas são habitualmente considerados histórias para crianças, durante séculos, foram instrumento para entretenimento e formação sobretudo de adultos. Como acontece com a grande literatura, eles pretendem dar voz e forma a alguns dos nós fundamentais da “trama emaranhada” que é experiência humana. Deixam falar angústias, medos, fantasias, sentimentos de culpa, desejos bons e maus, sem a preocupação de se protegerem num universo perfeito e, por isso, ilusório, como infelizmente acontece com as adaptações da Walt Disney. Este tipo de ficção, fiel à experiência subjetiva, fica longe de visões tranquilizadoras, mantendo sempre uma relação estreita e direta com a verdade da complexa experiência humana. Capuchinho Vermelho e Branca de Neve são tomados como exemplos.


Tomás Gorjão

Terá começado como uma brincadeira devido à coincidência das suas datas de estreia, e os seus tópicos de tons tão díspares – um cientista de poder letal de um lado, uma boneca sorridente do outro – só terão incendiado o potencial irónico de tamanha sobreposição; e contudo, é com uma confusa satisfação que nos vemos subitamente a aceitar, e já depois de um impetuoso exército de memes, o pleno e irreparável emparelhamento de Barbie e Oppenheimer num díptico quase onírico. Este casamento do acaso puxa, naturalmente, pela inerente sede organizativa das pulsões humanas, que assim nos convoca uma gama de eixos comparativos que o trespassam de lés a lés, um dos quais é a ligação entre a fantasia e a neurose, bem como o seu sentido funcional na psique coletiva.


Dimensões
15 x 23,4

Nr de páginas
124

ISSN
0870–7618