Volume 197 - 2/3, Agosto/Setembro 2023

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Vasco Pinto de Magalhães SJ

Recomeçar. Reiniciar. Voltar à luta. Renascer. Nascer de novo. Ressuscitar. São estes os verbos que me ocorrem no tempo que corre. Com este texto, pomo-nos ao lado de quem regressa ao urbano quotidiano, tantas vezes ainda cansado por não ter sonhado tudo e já sentir, nos ombros e na alma, o peso dos fantasmas e das comparações que estão para vir. Porque não vir de férias mais ressuscitado? Esta é a questão. Ter tempo, modo e espaço para cada um se tornar pronto e disponível para novas relações; deixando-se tocar pelo bem, sair de si, como quem usa um novo ponto de partida, o da fé e da Verdade.


André Costa Jorge, Madalena Simões de Carvalho

Desde 2014, mais de 27 mil pessoas perderam a vida no Mar Mediterrâneo, em desespero para alcançar a Europa. Nos últimos anos, temos sido testemunhas de uma ampla discussão entre decisores políticos e a Sociedade Civil sobre o acolhimento de pessoas refugiadas na União Europeia. A gestão de fluxos migratórios e a solidariedade dos Estados-Membros têm sido temas de grande relevância, especialmente no debate em torno do Pacto Europeu para a Migração e o Asilo e das suas sucessivas reformulações. Neste contexto, coloca-se a questão se a União Europeia
não tem adotado "dois pesos e duas medidas" a pessoas refugiadas oriundas de diferentes contextos. Há também lições que podem ser retiradas do modelo de acolhimento adotado para as pessoas que fugiram da guerra da Ucrânia e aplicadas a pessoas que chegam doutros contextos em igual necessidade.


Gregorio Luri

A novidade parece estar a tomar o lugar da categoria axiológica tradicionalmente reservada ao bem. Trata-se de uma mudança muito significativa e com enormes repercussões no entendimento da escola e do fim que persegue. Hoje, tudo o que se apresenta como novo, sobretudo se pretende ser inovador e disruptivo, parece não precisar de justificar a sua pertinência. Mas por que razão falamos continuamente em inovar e não em melhorar? O artigo procura responder a esta questão, sem se limitar ao registo crítico. Oferece alguns exemplos do que pode melhorar na escola atual por meio de práticas de reflexão.


João Manuel Duque

O “Caminho Sinodal” alemão, iniciado em 2019, na sequência da apresentação do relatório sobre os abusos sexuais na Igreja alemã, teve sessão plenária no passado mês de março. Tendo suscitado fortes tensões e desacordos, bem para lá das fronteiras da Alemanha e com o Vaticano, foram, agora, aprovados, por grande maioria, os documentos propostos. Das quatro grandes áreas temáticas debatidas (o exercício do poder na Igreja, o perfil do presbítero, a mulher na Igreja e a sexualidade), já apresentadas num outro artigo (Brotéria 196-2/2023), concentra-se, agora, a atenção questões específicas do poder e da mulher na Igreja. Há a clara perceção de que o campo de estudo e de discussão está aberto e que assim deve ser mantido. Neste sentido, o primeiro grande legado deste percurso sinodal é a instituição de um debate sério, aberto e transparente, sobre questões que, em algum momento, chegaram a ser consideradas fechadas.


Andrea Grillo

O clericalismo nasce da captura de Deus em estreitezas eclesiais. Acontece quando se faz coincidir a sua transcendência com diferenças sociais, burocráticas e formais específicas que a Igreja elaborou ao longo dos séculos. A Igreja fê-lo legitimamente, mas, hoje, precisa de as ler com nova lucidez, de maneira a poder discernir «o que não morre e o que pode morrer». Coloca-se a questão de como fazer para não que não se seja existencial e culturalmente indiferente à transcendência de Deus sem que se tenha de vestir a pele de homens e de mulheres de outros tempos. Este artigo busca uma melhor compreensão do paradoxo. Clarifica-se o aparecimento do termo clericalismo e a sua presença na história recente e antiga; passa-se pela raiz sacramental do clericalismo e aprofunda-se o seu desenvolvimento no campo específico da Eucaristia. Entre as conclusões, haverá que aprender a escutar Deus, não já numa sociedade desigual e hierárquica, mas que cultiva a liberdade e a igualdade.


Jerónimo Trigo

Partindo da afirmação do papa João Paulo II sobre o caráter «definitivo» da doutrina sobre a impossibilidade da ordenação presbiteral de mulheres, indica-se que, por vezes, o que é afirmado como doutrina ortodoxa e até de fé, acaba, depois, por ser ultrapassado. Toma-se como exemplo a doutrina dos estados de vida cristã, a virgindade e o matrimónio. A encíclica Sacra Virginitas, do papa Pio XII, de 1954, reafirma tal doutrina, tendo a virgindade «excelência e superioridade absolutas» sobre o matrimónio. O concílio de Trento entendera-a como doutrina «definida solenemente como dogma de fé divina». Fundamenta-se em textos bíblicos, nos doutores da Igreja, na Tradição e nos pronunciamentos dos papas. Já o Concílio Vaticano II e os documentos pontifícios posteriores são omissos a tal propósito. O papa João Paulo II manifesta-se em sentido contrário. Coloca-se, então, a questão mais geral da continuidade, descontinuidade ou até rutura de doutrinas «irreformáveis» ou «definitivas».


Avelino de Freitas de Meneses

A geografia, sobretudo a prioridade do mar, a prevalência da língua e o vínculo da religião constituem os pilares de uma identidade, coeva da emergência de Portugal, que regista consistência na sucessão do tempo. Nem a descoberta da mundividência nem a solidão do quotidiano mitigam a extensão de um sentimento português, de estirpe popular, que liga as partes do Reino, incluindo as parcelas de Além-Mar. Nestas circunstâncias, nem o despudor do salazarismo de outrora, que captura o amor pátrio, nem o desapego da globalização de agora, que deprecia a nacionalidade, impedem a reconsideração da portugalidade, apesar da repulsa da intelectualidade, por demasiada complacência. Em Portugal na História. Uma Identidade, por entre dúvidas e evidências, João Paulo Oliveira e Costa revisita a questão nacional através dos tempos. Em vez de aplausos ou apupos, a proposta pede exegese.


Alberto Manguel

A nossa época é, como todas as épocas, uma época de mudança. Vista de dentro, por assim dizer, parece que a mudança é para terrivelmente pior. Mas será que houve tempos mais felizes? Se houve, não duraram muito. O livro de Eclesiastes adverte-nos para que não caiamos nessa nostalgia falaciosa. «Não digas», adverte o profeta, «Porque foram os dias antigos melhores que os de agora? Pois não é a sabedoria que te inspira essa pergunta» (Ecl.7,10). No entanto, no meio do atual caos assassino do mundo, a tentação de fazer tais perguntas e de ter saudades de um passado que talvez nunca tenha existido está sempre presente. A história de Dante é um exemplo disso.


Joana Baptista Costa, Mariana Leão

As várias Brotérias sequenciam nas estantes uma linha temporal, plasmando nas lombadas e capas a história das artes gráficas e mais tarde do design. Para este texto analisamos ainda outros elementos que se podem considerar secundários na composição gráfica, mas que nos guiam ao lermos as imagens nas suas camadas em acumulação: pequenas notas e pés de página; as fichas técnicas das primeiras ou últimas páginas do miolo; as legendas; o modo como as variações das letras e a própria imagem gráfica refletem as variações das técnicas ao mesmo tempo que invariavelmente refletem as mudanças políticas e económicas destes últimos 120 anos.


Dimensões
15 x 23,4

Nr de páginas
138

ISSN
0870–7618