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Volume 196 - 3, Março 2023

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José Rui Teixeira

A afirmação de que a escola está falida não está relacionada com as questões laborais dos professores, nem com conjunturas endémicas de pobreza e exclusão social. É o paradigma: a constatação de que a escola vive, permanentemente, sob o peso da sua inevitabilidade funcional. Entre uma crónica falta de estratégia sociopolítica para a educação e um persistente e generalizado desinvestimento, entre desgastes e desgostos, resta-nos uma escola excessivamente burocratizada, ensimesmada e atávica, que dificilmente será capaz de se repensar como um fim em si mesma, antes de repensar as suas dinâmicas instrumentais. Esta reflexão sobre a escola implica considerar a família, na medida em que uma e outra são lugares complementares de inclusão, mas, também, de exclusão. Implica ainda a tentativa de desconstrução daquilo que tende para o discurso edificante ou politicamente correto, que seria, neste contexto, uma perda de tempo. 


José Frazão Correia SJ

A sexualidade e, dentro desta, a homossexualidade são um assunto tão exigente quanto incontornável, quer na vida interna da Igreja, quer na sua relação com a sociedade. Parecendo demasiado fácil associá-lo, sem mais, a uma simples bandeira ideológica ou a lobbies de pressão, cabe pôr em cima da mesa da reflexão eclesial diferentes sensibilidades, pressupostos e argumentos, de modo que se possam confrontar, corrigir e enriquecer mutuamente. Tais diferenças de posicionamento têm, hoje, grande potencial de polarização dentro da Igreja, sobretudo se não forem capazes de explicitar e de discutir os pressupostos teológicos sobre os quais se erguem: o que se entende por tradição da Igreja, que valor teológico se atribui à experiência, à história e à cultura, como se articulam autoridade e liberdade, doutrina e pastoral, que autoridade se atribui aos “sinais dos tempos”.  


Ana Carrilho

No dia 18 de dezembro de 2022, terminou, no Qatar, o Mundial de Futebol mais caro e polémico de sempre. O entusiasmo pela festa do futebol, que alastra a todo o mundo, foi, desta vez, mais contido e ensombrado pelas muitas notícias de violação dos direitos humanos e dos trabalhadores. Naquele país do Médio Oriente em que praticamente só os migrantes trabalham, muitos perderam a vida na construção das infraestruturas para o megaevento. Não se sabe quantos. São migrantes presos ao Sistema Kafala, lei de patrocínio que permitia ao empregador dispor completamente da vida e da liberdade dos seus trabalhadores. Quando “comprou” a realização do Mundial à FIFA, o emir Tamim al-Thani queria atrair a atenção para o país. E conseguiu-o, mas nem sempre com boa publicidade. Foi obrigado a fazer reformas laborais, sob a orientação da Organização Internacional do Trabalho. Teoricamente, são para continuar. E na prática? 


João Paiva

Os desafios colocados pela inteligência artificial são inúmeros e já com alguma história, embora recente. Mais do que algumas questões éticas que se colocam no momento presente, acumulam-se questões sobre o futuro e sobre a relação que a “máquina inteligente”, criada pelo ser humano, poderá estabelecer com o seu criador. Mais ainda, são de aguda complexidade as possibilidades de criação e o poder dessas mesmas máquinas, super-munidas de inteligência artificial. Fazendo referência e uso da recente e popularizada ferramenta de geração automática de conteúdos, intitulada ChatGPT, 2023, colocam-se em cima da mesa as tensões éticas desta problemática, em particular nas questões da educação. São explanados alguns dilemas do futuro, numa abertura crítica e realista, mas esperançada na possibilidade humanista de bem usar a máquina em favor da qualidade da vida humana.


Maria João Avillez

Neste mês de março celebra-se o Xº aniversário do pontificado de Francisco. Apesar de não poder reivindicar um profundo conhecimento sobre o Papa Francisco, quando a autora partiu para Roma para o entrevistar (TVI, setembro de 2022), havia algo que sabia: que iria estar diante do Papa mais “próximo” de quantos a Igreja conheceu, e, simultaneamente, do mais “longínquo” desde sempre, “pescado” nas águas da periferia da Igreja, “contrariando” assim e surpreendentemente o habitual eurocentrismo da hierarquia católica na hora das suas escolhas decisivas. Com uma aguda sensibilidade social, chegara a Roma alguém que, não se afastando nunca dos princípios teológicos e morais da tradição da Igreja, era um militante convicto de uma igreja que queria “em saída”, mais fora das suas paredes acolchoadas, mais compassivamente à entrada da pobreza e da exclusão.


Andreas Lind SJ

Na sua teologia e enquanto Papa, Bento XVI sempre considerou que a Igreja se constrói através do diálogo. Mais do que uma estratégia de evangelização, o diálogo constitui o modo de ser da Tradição cristã. Nesse sentido, habitar o mundo das artes é fazer florescer a vida (cristã). É por isso que os seus discursos ao “mundo da cultura” nos situam na dimensão estética da nossa existência. Fruir a beleza que se oferece nesta vida torna-nos agradecidos e enche-nos de esperança. Estabelece-se, então, uma continuidade entre todas as dimensões da cultura humana, interligando o além com o aquém na plena realização da pessoa que desejamos ser. Para o Papa teólogo, é assim que a fé se realiza. Por isso, em vez de ver na religião uma simples espera da salvação que há de vir, Bento XVI conduz-nos à experiência religiosa como festa.


Margarida Miranda

Reagindo criticamente ao artigo de João Manuel Silva SJ,“A questão da (homo)sexualidade na tradição católica”, publicado pela Brotéria (outubro de 2022), contesta-se o que se considera o alheamento da antropologia clássica cristã e a fundamentação em critérios como a autopercepção e o primado da experiência humana como fonte do saber ético. Entende-se ser inevitável um confronto com matrizes clássicas da ontologia e da antropologia cristã, bem como o regresso atento aos textos do Magistério e da Teologia do Corpo. Sublinha-se que reduzir o “acolhimento” à aceitação da homossexualidade é ignorar dramas reais de pessoas que já consideraram terem recebido falsas promessas e que o silêncio que cobre outros modelos de “acompanhamento”, porventura considerados dissidentes, é uma forma de exclusão e de discriminação. 


James F. Keenan SJ

Antes de nos perguntarmos se uma pessoa tem consciência ou se age por consciência, precisamos de saber quão vulnerável e quão inclinada essa pessoa está ao reconhecimento. Defende-se como ponto de partida que, antes da consciência atuar, a pessoa moral precisa de ser simultaneamente vulnerável e de ser capaz de reconhecimento. Vulnerabilidade e reconhecimento são, em suma, as condições prévias necessárias para que a consciência entre em jogo.


Pedro Portela

Rosalía é, inquestionavelmente, um dos maiores fenómenos da música popular do ano 2022. Nascida em Barcelona, Espanha, tornou-se na primeira cantora nascida naquele território a ser nomeada para o Grammy de Melhor Artista Revelação. Pelo caminho construiu um espólio que tem já três álbuns e perto de três dezenas de singles. Neste percurso, Rosalía dá a impressão de estar no comando das operações. Mas será que é mesmo assim? Olhamos para o fenómeno, reconstruímos o caminho, colocamos algumas interrogações. 


Dimensões
15 x 23,4

Nr de páginas
122

ISSN
0870–7618