Volume 196 - 2, Fevereiro 2023

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Giovanni Cucci SJ

Há algum tempo que os termos “metaverso”, “algoritmos” e “blockchain ” vão aparecendo nas mais diversas ocasiões e nos contextos mais variados. Uma simples pesquisa sobre o tema na web revela o crescimento vertiginoso de artigos, links, vídeos, blogs. O metaverso, em particular, tem sido, nos últimos anos, destino, por parte de empresas tecnológicas, de enormes investimentos financeiros, de modo a tornar possível tecnologicamente o que há bem pouco tempo era só objeto de ficção científica. Conscientes da complexidade do tema, que em muitos aspetos ainda só está no campo das possibilidades, o artigo procura reconstruir a história, explicitar o significado, apresentar algumas possíveis aplicações e enunciar pontos críticos em jogo. 


José Frazão Correia SJ

A Brotéria entrou em 2023 com o desejo de cultivar a atenção a bons lugares e de se implicar na sua construção e no seu cuidado. Explorando este filão, identificam-se quatro parábolas para o desenho de um bom lugar, quatro coordenadas para reconhecer, edificar e cultivar lugares bem situados. Valem tanto para o registo pessoal e existencial como para o comunitário, o político ou o eclesial: a origem reconhecida como promessa e motivo de memória grata; o porvir que atrai como melhor que ainda está para vir e que empenha a liberdade; a altura como abertura ao transcendente que ressoa em apelos que convocam, provocam e pedem responsabilidade; o fundo da finitude e dos limites a reconhecer e a confessar com humildade. “Parábola” evoca o lugar geométrico, mas, sobretudo, as narrativas evangélicas breves que convocam e condensam as dimensões e as dinâmicas mais elementares da existência humana.


Paulo Tadeu Barausse SJ

Com o novo governo do Presidente Lula e Alianças no Brasil, apresentam-se perspetivas, limites e possibilidades, possíveis estratégias e ações para a ação governativa socioambiental Pan-amazónica, na defesa dos direitos dos Povos Originários e em sintonia com os compromissos ambientais propostos na COP-27. Perante os imensos desafios a enfrentar, o atual cenário brasileiro requer do governo ações de incidência transformadora no cuidado da Casa Comum. Espera-se que nos próximos anos de mandato sejam implementadas políticas ambientais em defesa de um meio ambiente ecologicamente equilibrado, garantindo a sobrevivência das gerações futuras. A luta contra a crise climática sairá beneficiada se o Brasil retomar o seu protagonismo mundial nesta causa.


Vasco Ressano Garcia

A retórica da meritocracia encontra-se disseminada pelo discurso público contempo-râneo, sendo entendida como uma legítima aspiração de justiça. Neste contexto, reflete-se sobre os princípios basilares do ideal meritocrático, procurando dissecar os seus fundamentos e explorá-los para além do que o debate público habitualmente permite. Dessa indagação extraem-se conclusões sobre as insuficiências teóricas do ideal meritocrático atual, às quais se associam determinadas atitudes e convicções concretas que marcam a psicologia coletiva atual e provam ser contrárias ao bem comum. Conclui-se propondo uma cultura mais centrada numa visão contributiva da justiça, substituindo a tónica retributiva da meritocracia.

António Júlio Trigueiros SJ

A recente morte do Papa Bento XVI no passado dia 31 de dezembro e a carta que o P. Geral dos Jesuítas, Arturo Sosa, es-creveu nesse dia a toda a Companhia de Jesus, levam-nos a fazer uma retrospetiva das relações de Bento XVI com os jesuítas. Pela proximidade e admiração que tinha por muitos jesuítas e pela sua ação pastoral e intelectual, conhecia a Companhia «nas suas forças e nos seus limites». As relações que estabeleceu ao longo do seu curto pontificado ficaram marcadas por alguns momentos de incentivo, mas também por outros de advertência, como ficou patente nas intervenções antes e depois da XXXVª Congregação Geral, em 2008. Bento XVI deixa como legado um testemunho de humildade e de liberdade interior e um olhar contemplativo sobre a Igreja e o mundo, que se enquadra bem com alguns dos princípios da espiritualidade dos jesuítas e das suas prioridades apostólicas. 


João Duque

Após apresentação, em setembro de 2018, do documento denominado MHG-Studie, sobre os abusos sexuais na Igreja da Alemanha, a respetiva Conferência Episcopal decidiu ser necessário e urgente percorrer um caminho de conversão e de renovação, tomando a iniciativa, aprovada em março de 2019, de colocar em curso o que denominou “Caminho Sinodal”. Trata-se de um processo anterior e independente do caminho sinodal entretanto impulsionado, a nível global, pelo Papa Francisco, a partir de outubro de 2021. O processo sinodal da Igreja alemã viria a concentrar-se em quatro grandes áreas temáticas: o poder e o seu exercício na comunidade eclesial; o perfil do presbítero; a mulher na Igreja; a sexualidade. Neste artigo aborda-se o conteúdo dos quatro documentos produzidos sobre cada umas das áreas temáticas, com alguns comentários críticos finais.


Lidiane Cristo

Comemoram-se, no corrente mês de fevereiro, três anos da Exortação Apostólica Querida Amazónia (QA), do Papa Francisco, que deu seguimento ao Sínodo para a Amazónia, decorrido entre 2017 e 2019. Colocando-se no processo nascido com a Encíclica Laudato Si’, 2015, reforçou-se a urgência da conversão, a partir de quatro sonhos, social, cultural, ecológico e eclesial ,retomados como estrutura central de QA. O artigo revisita o processo sinodal e os seus principais documentos, Instrumentum Laboris, Documento final e QA, para terminar com um ponto de situação das mais de cem propostas reunidas no documento final do Sínodo: as mais significativas que estão a ser implementadas com a colaboração das Igrejas locais, das conferências de bispos e dos organismos e redes que trabalham na região, e as mais sensíveis que ainda não avançaram.


Duarte Bénard da Costa

Porquê ler e reler o romance de Marcel Proust, Em Busca do Tempo Perdido? As respostas a esta questão são de ordem geral: dão-nos razões para ler qualquer obra de literatura e não apenas o livro de Proust. Roland Barthes diz-nos que ler e reler é algo que não requer uma agência especial da nossa parte: é algo que nos acontece, quase inevitavelmente. Alternativamente, Christopher Prendergast, defende que ler Proust é um excelente remédio para a insónia. E Proust afirma que ler é uma forma de viver mais intensamente. Estas respostas contrariam o crítico de arte John Ruskin, para quem a leitura é a fonte da Verdade. A sua ética teleológica afirma que o fim último do ser humano é ser um leitor exímio. Marcel Proust, embora admirador e tradutor de Ruskin, opõe-se a esta visão e oferece-nos uma alternativa: nós lemos porque ler dá-nos prazer.

Tomás Gorjão

A análise política e sociológica da arte foi um dos grandes projetos de Walter Benjamin durante a década de 1930: daí datam trabalhos importantes como “Breve História da Fotografia”, “O Autor Como Produtor” ou as diferentes versões de “A Obra de Arte na Época da sua Possibilida-de de Reprodução Técnica”, culminação da sua leitura das mudanças artísticas e percecionais sediadas no desenvolvimento tecnológico. De 1936 data o ensaio “Carta de Paris (2)”, que parte do debate então a ter lugar sobre o espaço político da arte, em particular a pintura. Recupera duas ocasiões desse debate: um congresso internacional em Veneza em 1934, e um ciclo de conferências em Paris em 1936. Menos extenso do que os restantes textos mais importantes, não deixa de ser uma interessante adenda ao trabalho desenvolvido nesta época, com o trunfo de terminar em reflexões um pouco idiossincráticas no contexto da estética benjaminiana. 


Dimensões
15 x 23,4

Nr de páginas
114

ISSN
0870–7618