Volume 195 - 5, Novembro 2022

5€Digital8€Papel

DigitalPapel


João Norton de Matos SJ

O motivo do artigo é dado pela recente publicação, por parte do Centro Nacional de Cultura, de uma coletânea de cinquen-ta artigos dos membros do MRAR, Movimento de Renovação da Arte Religiosa, quando se assinalam setenta anos do seu surgimento. Destaca-se a cada vez maior compreensão da aventura histórica e intelectual desse movimento em favor da honestidade da linguagem artística da Igreja em Portugal, em contracorrente com uma certa estagnação eclesial e cultural vivida, então, à sombra do Estado Novo. O propósito de fundo do ensaio visa acolher alguns conteúdos acerca da arquitetura e das artes na Igreja do espírito e da vitalidade do MRAR e, a partir daí, interpelar o ponto em que hoje nos encontramos. 


José Frazão Correia SJ

No calendário litúrgico cristão-católico, novembro é assinalado por dois grandes momentos, a Solenidade de Todos os Santos e a Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos. O sentido pleno da vida – a santidade –, realizado na existência de uma “multidão imensa”, é motivo bastante para que se celebre na alegria e na festa. A essa luz, a morte como passagem, e não como fatalidade, é razão para fazer memória de todos os que nos precederam e considerar, na responsabilidade e na esperança, a passagem última que também tocará a nós. Em quem nos tornamos, por graça e por empenho, entre as promessas do nascimento e a passagem da morte, toca a fé religiosa na bondade da origem e na eternidade do destino da vida, sem deixar de desafiar o pensamento sobre o que nos torna mais humanos. 


Filipe Stilwell d'Avillez

Entre os dias 13 e 15 de setembro, teve lugar, no Cazaquistão, o Congresso de Líderes de Religiões Mundiais e Tradicionais. A participação do Papa Francisco está as-sociada à importância que dá ao envolvi-mento dos líderes religiosos na promoção da paz e vem na linha dos encontros de Assis, numa altura em que o apelo à paz é ainda mais premente. Apesar do que di-zem os seus críticos, a ida de Francisco ao Cazaquistão não enfraquece, mas, antes, reforça a sua qualidade de líder da Igreja católica, sobretudo se entendermos esse cargo como estando ao serviço da humanidade, e não apenas de uma confissão religiosa. O dado é ainda mais evidente à luz da ausência do Patriarca de Moscovo.


Alexandra M. Dias

Para compreender em que medida a alternância partidária pacífica no poder em Angola ficou mais ao alcance do eleitorado com os resultados das eleições de 24 de agosto de 2022, tecem-se algumas considerações acerca dos desafios para a consolidação da Democracia, defendendo-se que o reforço do Estado local será fundamental para a realização deste objetivo. Analisam-se os resultados eleitorais e as tendências em termos de alinhamentos partidários, tendo em conta as clivagens rural-urbano e capital nacional-capitais de Províncias, diferenças geracionais na sociedade e no partido no poder e as disfuncionalidades do Estado. Destaca-se como os mesmos resultados confirmam o res-sentimento por parte de vastos segmentos do eleitorado face ao fracasso do projeto político, por parte do partido no poder, de construção de um Estado que garanta a realização do contrato social. 


Francisco Cortês Ferreira SJ

A secularização tem levado, nas sociedades ocidentais, a uma consciência crescente de que o espaço público e a crença religiosa pertencem a esferas distintas. Tal separação espelha-se, de modo particular, na diluição do imaginário coletivo cristão da vida-depois-da-morte, com a consequente transformação da relação do ser humano com a liturgia, a dinâmica dos funerais, e, de modo ainda mais fundamental, com a própria finitude e a morte. Neste quadro, procuram-se novas possibilidades, não só terminológicas, mas existenciais, para o que significa “estar diante da morte”. Recorrendo aos exemplos de Etty Hillesum e Dietrich Bonhoeffer, explora-se, em concreto, o processo de amadurecimento da liberdade interior, sintetizado na expressão “martírio em potência”, como fruto da virtude cristã da esperança.


João Basto

Num momento de graves pressões por via dos abusos sexuais e do próprio exercício pastoral, de que a exaustão e a saúde mental de muitos pastores são reflexo, coloca-se a atenção no ministério do presbiterado, pondo em questão um certo modo atual de procurar atualizar a sua identidade e o seu exercício. Partindo da mudança de perspetiva global a partir da qual se tende a olhar para ele, recorre-se à imagética da obra clássica Rei Édipo e propõe-se uma chave de leitura distinta, o princípio da relatividade geral, visando potenciar novas ponderações. No pano de fundo do artigo está presente a interpretação do clericalismo como sintoma de um mal-estar geral face ao sacerdócio ministerial e não como uma doença em si mesma.


José Carlos Seabra Pereira

A edição de 2021 do Prémio Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes foi atribuída ao teólogo João Manuel Duque, professor catedrático da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa. Depois de evocar a razão de ser do prémio, instituído pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, e a inspiração matricial que vem da figura e legado do Padre Manuel Antunes, faz-se a resenha das personalidades distinguidas e das respetivas obras, desde a primeira edição, em 2005. Sobre o prémio atribuído a João Manuel Duque, destaca-se a valorização simbólica da elaboração de uma teologia universitária em permanente atenção ao debate cultural contemporâneo e o reconhecimento da importância do trabalho da Faculdade de Teologia da UCP para a vida da Igreja Católica, tanto na formação dos líderes eclesiais, como na reflexão crítica sobre as dinâmicas culturais do nosso tempo.


Alexandra Esteves

Sobejam as razões para concordar com Miguel Esteves Cardoso quando afirma que o norte de Portugal é feminino e que «o Minho é uma menina». A mulher imprimiu a sua marca na paisagem do Minho ao longo do século XIX, num tempo em que a condição feminina era sinónimo de inferioridade física e intelectual e da consequente subalternidade face ao homem. Quando o mundo tende a ser cada vez mais igual e globalizado, este património não só deixou de ser devidamente valorizado, como está em risco de se perder. Urge, por isso, salvaguardá-lo. A sua valorização dependerá da forma como conservamos a memória desta mulher, evitando visões generalistas, distorcidas e até fatalistas sobre a condição feminina em tempos mais recuados. Importará, assim, investir na educação patrimonial, sensibilizando os mais jovens para a importância do conhecimento do passado próximo e para as mudanças contextuais.

João Sarmento SJ

A exposição Le reste est ombre, no Museu Pompidou, Paris (8 de junho – 22 de agosto), de Paulo Nozolino, Pedro Costa e Rui Chafes dá a oportunidade e provoca a reflexão sobre a verdade das imagens na arte. Quando tratam a violência, o sofrimento ou a morte, se forem verdadeiras, geram diálogo com o espectador. Não oprimem quem vê nem banalizam o tema que tratam, mas são capazes de implicar – quem vê, vê-se visto – e de gerar pensamento. Purificar as noções do visível, do dizível e do pensável das imagens é quanto é feito nesta exposição: os artistas desvendam uma visibilidade que não obriga a nada. Recorre-se à noção de imagens encarnadas, de Marie-José Mondzain, para fazer entrar na visão mais radical daquilo que a própria representação é capaz, refletindo acerca dos pressupostos da constituição do ver em arte.


Dimensões
15 x 23,4

Nr de páginas
112

ISSN
0870–7618