Os diretores das revistas culturais europeias da Companhia de Jesus, entre as quais se encontra a Brotéria, reuniram-se, no dia 19 de maio de 2022, em audiência com o Papa Francisco, em Roma. Não tendo o Papa um discurso preparado, respondeu às questões que livremente lhe foram sendo apresentadas sobre a missão das revistas culturais, a guerra na Ucrânia e as relações com o Patriarca Ortodoxo de Moscovo, os sinais de renovação na Igreja Católica e as posições de rejeição do Conc. Vaticano II, a evangelização em países nórdicos já sem tradição religiosa, as tensões atuais na Igreja alemã e a relação da Igreja com os jovens.
Mesmo em momentos sombrios como os que se vivem na Ucrânia, desde a invasão russa, e perante o risco de uma nova espiral mundial de conflitos, cabe procurar sinais de luz. Com este espírito, oferecem-se algumas reflexões sobre o futuro da Europa e das relações internacionais: a situação na Ucrânia; o contexto global; a pandemia que veio lembrar a vulnerabilidade das nossas vidas neste planeta e a expectativa, entre as pessoas comuns, de que a atividade política deve ser dirigida para a construção da comunidade; a questão global da ética da preparação para a guerra. No final do percurso, regressa-se à situação na Europa para destacar elementos positivos da experiência do autor na CSCE, na OSCE e no processo de paz na Irlanda do Norte.
Patočka foi um dos fundadores e o porta-voz da Carta 77, movimento que teve um papel fundamental na queda do comunismo na Europa Central e, portanto, na construção da Europa como a conhecemos. Parte-se desta reflexão para sublinhar a importância e o papel da Europa do Sul e da Europa Central no aprofundamento do projeto europeu e do reforço da relação transatlântica, bem como na defesa da liberdade e da democracia, e medita-se sobre Portugal “para além da Europa”. Regressa-se depois a Jan Patočka e faz-se a ponte com Václav Havel, para concluir que se impõem um melhor conhecimento e melhor comunhão de esforços entre a Europa Central e a Europa do Sul.
A partir do recente documento da Congregação para a Educação Católica, A identidade da escola católica para uma cultura do diálogo, de janeiro de 2022, reflete-se criticamente sobre a identidade da escola católica. Num momento de complexa encruzilhada, enfatiza-se a urgência do exercício. Há o risco de a escola católica se tornar uma marca, possivelmente com grande valor comercial, mas que não cuida devidamente nem cultiva coerentemente o seu valor substantivo. A consciência da “emergência educativa” pede a refundação da escola, em geral, herança do século XIX, e da escola católica, em particular. O “paradigma do cuidado” apresenta-se como caminho de uma educação em saída: exige coragem, acarreta riscos, pede diálogo e colaboração, implica opções políticas.
Em Itália e em Portugal, a Igreja Católica encontrou, no século XX, respostas diferentes a como intervir numa democracia parlamentar. A Democracia Cristã italiana pretendia reconstruir o país à luz da doutrina social da Igreja, depois dos anos de ditadura de Mussolini, do seu projeto imperial serôdio e de uma intervenção ruinosa na II Guerra Mundial. A Revolução de Abril colocou um desafio semelhante à Igreja em Portugal. Optou-se, em Itália, por fomentar um partido católico que coligasse um leque de opções políticas. Em Portugal, valorizou-se o pluralismo político dos católicos, apelando-se ao discernimento evangélico do bem comum, ao espírito de serviço e à participação crítica e na vida partidária.
A nova tradução em português do Missal Romano entrou em vigor no dia 14 de abril passado, fruto da revisão da tradução dos livros litúrgicos acionado, em 2001, pela instrução Liturgiam Authenticam. Os processos não foram lineares, nomeadamente em língua inglesa. Alguns ainda estão por concluir. As contendas têm mais de duas décadas.
A precisão detalhista e desencarnada assumida como norma, imposta de cima, foi gerando impasses, desencontros e divisões. Estando em causa a autêntica tradição do depósito da fé apostólica através das formas rituais, especialmente na celebração eucarística, o princípio orientador deveria ser o amor fraterno, também em matéria de tradução dos livros litúrgicos.
Falar da relação de Agustina Bessa-Luís com o cinema e interpretá-la é como abrir uma gaveta da qual saem surpresas e objectos imprevisíveis. Oliveira é em certa medida um leitor de Fanny Owen (1980), de Vale Abraão (1993), de Inquietude (1998), de Jóia de Família (2001) e de muitos outros textos que não lhe serviram expressamente para realizar. É verdade que só se pode ler aquilo que está no romance. Mas pode ver-se outra coisa. Como se os filmes de Oliveira criados a partir de obras originais de Agustina fossem uma espécie de fantasmas. Ou assombrações. Também por isso parece impossível imaginar o lugar do cinema em Agustina sem pensar intuitivamente em Manoel de Oliveira.
Trata-se, aqui, de encontrar no louvor uma acção capaz de alterar o nosso lugar no mundo e na linguagem. Seguir a via do louvor é abrir-se ao imperfeito do dia que começa; situar-se, desde a manhã, num lugar de trânsito e surpresa. Este lugar mal situado incita a ver novas todas as coisas – estendendo a provocação que serviu de mote ao Ano Inaciano que agora termina –, ou a desvê-las. Convocam-se, neste texto, três poéticas do louvor que assumem esta condição (Francisco de Assis, Adélia Prado, Manoel de Barros).
Dimensões
15 x 23,4
Nr de páginas
112
ISSN
0870–7618