Em novembro de 2020, as eleições para a presidência do segundo candidato católico na história dos Estados Unidos, Joseph Biden, tinham criado muitas expectativas, tanto entre os católicos, como entre os não católicos, com vista à recuperação de uma normalidade possível. Um ano depois, algumas linhas de tendência da presidência de Biden emergiram nas relações com a Igreja nos Estados Unidos, com o Vaticano e nas políticas interna e externa. Essas linhas de tendência permitem e sugerem rever aquelas expectativas e avançar com algumas hipóteses mais amadurecidas, mesmo se ainda provisórias.
Na atual crise dos regimes democráticos ocidentais, com o consequente desânimo político que experimentamos, o perigo de participarmos inadvertidamente em campanhas de desinformação ou demagógicas e de assim contribuirmos para a degradação das instituições democráticas é real. Não podemos, pois, ser apáticos na forma como exercemos a nossa cidadania. Uma atitude de apoio acrítico às nossas atuais instituições seria infantil e inadequada à democracia constitucional que construímos. Mas destruir as instituições que temos, em vez de as reformar, pode colocar-nos nos antípodas daquilo que queríamos obter. A informação difundida numa comunidade política tem impacto direto no modelo de sociedade em que se vive. Aquilo que leio, oiço, partilho constrói, à minha volta, o mundo em que quero viver.
Uma resenha das últimas décadas do acolhimento de refugiados na União Europeia (UE) e em Portugal. Começando por lembrar a origem do conceito atual de refugiado, analisa-se o contexto jurídico europeu, os diferentes processos de acolhimento-chegada de um refugiado à UE e os números do acolhimento nos últimos dez anos. No que se refere a Portugal, o aumento de pedidos de asilo acompanhou o que aconteceu na UE. No que diz respeito às vias de acolhimento voluntário, verifica-se um peso relativo maior que a sua dimensão. Ainda assim, no total de acolhimento de refugiados, Portugal encontra-se, apenas, em vigésimo primeiro lugar.
Desde a constituição da ONU, no fim da Segunda Grande Guerra, as questões ambientais, a par dos problemas sociais e económicos, têm estado na agenda política que tem mostrado recetividade em estabelecer iniciativas que estimulem a colaboração de especialistas dentro dos diferentes Estados Membros. Aborda-se ainda o entorno global e histórico de algumas destas reuniões que mais marcaram a evolução do conhecimento sobre os impactes negativos da intervenção humana no planeta. Para além do clima, aponta-se a perda de biodiversidade que exige uma ação global e concertada, tanto mais que ambos os problemas estão interligados.
Nas últimas décadas, a tecnologia transformou todos os domínios da vida das pessoas de uma forma que era impossível antecipar, erguendo pontes de comunicação, mas potenciando riscos devido à facilidade e à velocidade de circulação descontrolada de informações de natureza pessoal. De repente, a situação pandémica veio acelerar ainda mais o ritmo dessa digitalização. Esta evolução exige um quadro de proteção de dados sólido e gerador da confiança necessária ao desenvolvimento da economia digital, no qual as pessoas singulares deverão poder controlar a utilização que é feita dos seus dados pessoais. O direito à privacidade é hoje reconhecido como um direito humano universal, impondo um limite aos eventuais abusos sobre a esfera privada da pessoa humana face à crescente ameaça à privacidade e à intimidade.
Salvar a fraternidade, juntos é um projeto internacional, promovido por um conjunto de teólogos e de filósofos, do qual faz parte o autor. Na forma de apelo dirigido a todos os humanos, cristãos ou não, destina-se a promover um debate aberto sobre o presente e o futuro da humanidade. Apresenta-se com o propósito de promover um pensamento crítico e hospitaleiro, aberto às múltiplas transformações sociais e à pluralidade de linguagens e de saberes, contra os fantasmas da divisão e do relativismo que ferem a comunidade humana e das fórmulas religiosas incapazes de gerar afetos e laços humanos. Na fraternidade identifica-se o elemento que acomuna todos os seres humanos e que urge salvar. Neste artigo, tecem-se algumas considerações a propósito da iniciativa intelectual dirigida “à fé e ao pensamento”, pretendendo impulsionar eventuais debates no nosso país, como contributo para algo que a todos diz respeito.
Parte-se da pergunta “será que Deus ainda se deixa encontrar, hoje?”, começando por notar que este “hoje” é marcado, nas sociedades ocidentais, pela cultura pop e que esta poderá assinalar, não só a experiência crente, mas a própria teologia. Uma parte significativa da produção teológica sobre a cultura pop tem-se focado em questões sociológicas e culturais ou, então, numa avaliação moral dos seus conteúdos. Aqui, procura-se uma abordagem que vá noutro sentido e explore, não apenas as novas facetas da religiosidade-espiritualidade contemporânea, mas a própria questão acerca do “paradeiro” de Deus. Este artigo pretende ser “preâmbulo” a uma teologia da pop, cosido em torno da noção teológica de “revelação”. Para isso, exploram-se as parábolas de Jesus como uma chave de leitura interessante para compreender a dinâmica da revelação divina: performativa e narrativa, tocando o quotidiano, convidando a uma leitura existencial, promovendo não uma transmissão de conteúdos sobre Deus, mas um lugar, uma relação de convivência.
Nagasaki na ilha de Kyushu foi escolhida por um piloto português como localização propícia à construção de um porto que acolhesse a Nau do Trato portuguesa que rumava, anualmente, para o Japão assegurando um comércio muito lucrativo. A evangelização do Japão iniciada pelos Jesuítas, em 1549, foi providencial na fundação da cidade que, rodeando o porto, cresceu depressa acolhendo os japoneses convertidos e garantindo-lhes proteção. Nagasaki é planeada pelos Jesuítas em colaboração com os senhores locais e revela uma urbanização em que elementos portugueses e japoneses se fundem para criar a primeira cidade da globalização, em 1571. Constitui também um exemplo de cidade em que as regras cristãs se plasmaram num regulamento negociado entre as duas culturas e que a levou a um considerável sucesso celebrado num selo comemorativo dos seus 450 anos, em 2021.
Entre sombras, herbários, álbuns e assemblages, a vida de Lourdes Castro traça um percurso que se inicia na sua infância idílica na Madeira e que ganha novo lastro quando se muda para Paris nos finais dos anos 50. Lá, com os amigos, inventa uma revista com três letras que não existem no alfabeto português, a KWY, e ensaia os seus primeiros teatros de sombra em torno das estações do ano e do desenho da linha do horizonte. Regressa à Madeira 25 anos depois, onde se retira com Manuel Zimbro para a Quinta do Monte. Aí, dará continuação a um trabalho que permanecerá para sempre inacabado – o jardim de 12 mil metros quadrados que cultiva com a paciência e a persistência de um monge. Trabalhou os lugares do invisível – a luz da sombra, o contorno das plantas, as silhuetas de quem a rodeava – e, como no verso de Muselli, gravou para sempre a alegria na fachada da sua casa. Deixou-nos em janeiro, aos 91 anos.
No centenário de Clepsydra, de Camilo Pessanha (1867–1926), publicada pela primeira vez em 1920, apresenta-se o livro coletivo Clepsydra 1920–2020 — Estudos e Revisões, na forma de “convite à viagem”. Aí se encontra «reunido um conjunto de ensaios, previamente comentados e cuidadosamente revistos, com o propósito de dar expressão ao trabalho de questionamento e de pesquisa que Clepsydra e o seu autor continuam a estimular». Por finalidade, aprofundar, renovar e dilatar a compreensão do homem e da obra.
Dimensões
15 x 23,4
Nr de páginas
120
ISSN
0870–7618