A Brotéria celebra 120 anos da sua fundação. Hoje, além de revista, é centro cultural: galeria aberta à arte contemporânea; programação atenta às realizações e interrogações da realidade quotidiana; biblioteca que põe ao dispor dos leitores de hoje o património acumulado ao longo da história centenária da revista. Promover o diálogo entre a fé cristã e as culturas urbanas contemporâneas é a missão desta casa de cultura aberta à cidade que a revista faz sua. Ao assumir, com o presente número, a direção da revista e apropriando-se do alcance da afirmação do Papa Francisco de que «a graça supõe a cultura», o novo diretor torna explícitos alguns dos pressupostos com que abraça o exercício de encontro entre fé cristã e culturas urbanas.
No passado dia 29 de novembro, o Presidente da República devolveu ao Parlamento o Decreto por este aprovado de legalização da eutanásia e do suicídio assistido, invocando uma ambiguidade desse diploma. Explicitando e analisando essa ambiguidade, apesar do entendimento de que os dois Decretos sobre a matéria aprovados pelo Parlamento português já representarem um primeiro passo no sentido de uma maior permissividade, considera-se que o veto presidencial foi conveniente para afastar a ambiguidade assinalada e, sobretudo, para não subsistirem ideias erradas a respeito dessa maior permissividade junto da opinião pública. Uma maior clarificação sobre as opções que estão verdadeiramente em jogo não deixa de ser útil, seja qual for a composição do Parlamento que vier a ser eleito.
A COP26 foi um dos eventos com maior impacto mediático de 2021. Em virtude deste mediatismo e das preocupações com o futuro do planeta, criaram-se expectativas sobre as alterações a sair desta reunião, que à primeira vista, parecem ter saído goradas. O presente artigo pretende, colocando os temas em perspetiva e afastando-se de uma visão catastrofista do tema, mostrar que a COP26 atingiu os objetivos propostos e nos colocou mais próximos daqueles já assumidos e confirmados pela ciência, ao mesmo tempo que tenta salvaguardar o desenvolvimento dos países e populações mais pobres.
As redes sociais não estão somente a mudar a forma como vemos o mundo, mas estão a criar diferentes mundos, e isto com um efeito tangível na degradação da qualidade das nossas democracias. Temos de compreender melhor a forma como funcionam para ganhar consciência do quanto nos afetam. É esse o propósito deste artigo, com o qual se explora também o impacto que já se pode observar na realidade político-partidária portuguesa e se apresentam propostas que podem contribuir para uma sã convivência democrática.
A pobreza é um dos mais prementes problemas sociais que as sociedades contemporâneas enfrentam, constituindo-se como questão política e moral. Considerando que ela persiste até em países afluentes, o texto é um breve comentário que procura equacionar as causas da pobreza, mostrando as suas expressões, e as formas de a combater. Começando por definir o ponto de vista a partir do qual se construiu o texto, sublinha-se o carácter socialmente construído da pobreza. A sua análise é guiada pelos argumentos dos que a consideram como sendo um fenómeno complexo e multidimensional. Discutidas as principais causas e expressões da pobreza, o texto reflete sobre a ação do Estado, relevando o seu papel na definição e implementação de medidas políticas e sociais com impacto positivo na redução da pobreza.
Pouco se escreveu sobre a relação entre Inácio de Loiola e a música. Este silêncio contrasta com a presença significativa da música no projeto educativo e apostólico da Companhia de Jesus. Considerando a loquela como uma referência musical de Inácio de Loiola, revisita-se o seu sentido como chave de leitura para o papel da música na ação educativa e pastoral dos Jesuítas. O desencanto que os recentes abalos da história têm trazido sobre a humanidade deve ser transformado pela recuperação de um sentido musical do mundo, uma musicalidade que supera qualquer forma de proselitismo ou razão instrumental, a fim de formar um novo tipo de humanidade.
Apresenta-se o compromisso do Serviço de Escuta da Província Portuguesa da Companhia de Jesus (PPCJ), integrado no Sistema de Proteção e Cuidado de Menores e Adultos Vulneráveis (SPC), aberto no dia 18 de novembro de 2021, que punha no centro do seu cuidado cada potencial vítima. O foco do Serviço de Escuta será, agora, o ponto de partida: as vítimas. É como cristãos e enquanto Igreja que se assume o dever de abrir espaço e de cuidar de quem tenha sido vítima e que, eventualmente, ainda possa estar caída à beira da estrada. O dever de reparação começa por esta disposição primeira à escuta. Apontam-se, por fim, alguns princípios de acolhimento das vítimas, centradas no exercício do cuidado. Parafraseando o tema do Ano Inaciano, este é o tempo «de ver novas as vítimas no Senhor».
A história conturbada da relação entre a música e a literatura inclui muitas tentativas de cruzamento entre os meios artísticos e inúmeras sentenças de incompatibilidade. Sintoma destes movimentos de convergência e divergência entre as artes, a música imaginária, um fabrico literário que não pode ser ouvido, serve de mote para uma problematização da ideia de música, de escuta e de imaginação auditiva. A partir de Kafka à beira-mar, de Haruki Murakami, questiona-se a noção de que a presença de música na literatura pressupõe um silenciamento e defende-se que a música imaginária permite, na verdade, uma proliferação do som.
Em Manjacaze, na Província do Xai-Xai, sul de Moçambique, nasceu, em 1955, a Paulina Chiziane. E este artigo havia de lhe agradar, porque define logo um aspeto fundamental da sua personalidade: despretensiosa, simples, modesta. Uma Mulher liberta para libertar. Um prémio da literatura que poderia ter sido um Prémio da Paz.
Dimensões
15 x 23,4
Nr de páginas
96
ISSN
0870–7618