A pandemia de COVID-19 mostrou-nos que somos muito pequenos e pouco poderosos face a um vírus microscópico. Derrubaram-se as fronteiras entre o espaço privado, pessoal, familiar e o do "escritório". Muitos milhões de trabalhadores continuaram a ter que sair de casa e expor-se aos riscos. Na Saúde, mas também nos transportes, na energia e telecomunicações, na recolha do lixo, nas limpezas e tantos outros. Passaram a ser vistos como "trabalhadores essenciais", frequentemente, sem o devido retorno. Houve quem se sentisse explorado e "batesse com a porta": as empresas devem perceber que o Trabalho é mais do que um salário e tem que ser digno.
Numa conversa com jesuítas eslovacos, em Bratislava, no passado mês de setembro publicada pela revista La Civiltà Cattolica o Papa Francisco criticou quem quer "voltar atrás", na Igreja, afirmando que a liberdade "assusta" muitos católicos. «Sofremos isso hoje na Igreja: a ideologia do retrocesso», afirmou. É uma ideologia que coloniza as mentes, é uma forma de colonização ideológica. Não é um problema verdadeiramente universal, mas antes específico das Igrejas de alguns países. E acrescentou «temos medo de avançar nas experiências pastorais. Penso no trabalho que foi feito no Sínodo sobre a família para deixar claro que os casais em segunda união não estão condenados ao inferno. Assusta-nos acompanhar pessoas com diversidade sexual», assumiu o Papa.
Este texto representa uma tentativa de chamada de atenção para a grave situação que a Universidade enfrenta, no nosso país, focando de modo especial o défice de autonomia que impõe limites, peias e obstáculos à realização das suas fundamentais tarefas. A autonomia, repetidamente reclamada e prometida, sempre de novo celebrada em discursos de circunstância, é na prática muito restrita: a Universidade continua a ser uma repartição pública, vigiada de perto e dependente da autorização da tutela (Ministério e organismos por este controlados) para a mínima iniciativa.
Este artigo discute e reflecte sobre as razões e implicações da nova campanha para a "prosperidade comum" tornada pública pelo presidente chinês Xi Jiping em Agosto de 2021. A "prosperidade comum" tem como principal objectivo lutar contra as desigualdades crescentes no país através da redistribuição de rendimentos dos mais ricos para as classes média e pobre. O sector privado e os indivíduos mais ricos do país, em particular as bilionárias gigantes tecnológicas chinesas, são os principais visados da nova campanha que pretende introduzir um conjunto de novos impostos que os pode atingir de forma mais estratégica: riqueza, herança e predial. Mas esta campanha é também uma campanha de mobilização colectiva para construção de uma nova China rejuvenescida.
A fé que se celebra no rito litúrgico é mais dita pelos gestos que se fazem ou que não se fazem do que pelo significado nocional que se dá às palavras que se pronunciam. Porém, o conteúdo nocional da fé tende a sobrepor-se à ação ritual que implica a mediação corpórea, que é o específico da liturgia. A fase atual de desconfinamento e de maior liberdade de movimentos, passados quase dois anos de restrições e de contenção corpórea, apresenta-se particularmente propícia para revalorizar a inteligência da fé por meio do rito, enquanto lugar visível e tangível, linguagem elementar e complexa que realiza aquilo que os mistérios da fé dizem.
A história do filho de Noé, Cam, e da maldição do filho deste último, Canaã, transformou-se pela pena de intérpretes judeus, cristãos e muçulmanos numa etiologia da negritude e da escravatura dos africanos negros. Trata-se da chamada "dupla maldição de Cam", porventura um dos episódios mais funestos da história da receção da tradição bíblica no seio das sociedades humanas. O presente artigo é um estudo breve deste fenómeno com o intuito não tanto de responder à difícil e porventura extemporânea questão do racismo ou "proto-racismo" da Bíblia, mas de ilustrar o "uso" e "releitura" do texto das Escrituras no contexto da discriminação contra o grupo de seres humanos que historicamente mais sofreu com o flagelo do racismo: os africanos negros.
Em terras transmontanas da família Távora e no ano em que se assinalam os 500 anos do nascimento de Gonçalo da Silveira, é a memória sobre o seu martírio em 1561 que aqui protagoniza. Pequena mas extraordinária edificação, o experimentalismo arquitectónico da obra expande-se tanto na plena simbiose com o território e a paisagem como na carga simbólica, entre o genius loci e o espírito do mártir jesuíta português. Considerado como de invocação de São Gonçalo de Amarante, e assim terá sido a ermida que o antecedia, os argumentos expostos concorrem para que o propósito e função do templete sejam incontornavelmente os de memorar a missão religiosa mas também política que Silveira integrou. À luz de tratar-se de um Martírio, ficam abertas novas perspectivas sobre a sua datação, entre 1571 e 1720.
Uma reflexão sobre o papel e a importância da mediação na relação que se estabelece entre público e arte, tomando como ponto de partida a exposição organizada por Kirmen Uribe para os 110 anos do Museu de Belas Artes de Bilbau. Partindo da subjectividade enquanto trunfo, o autor propõe um conceito de mediação que se aproxima da medida humana, em detrimento de uma pedagogia de valores absolutos e impessoais.
Tudo em Amália, remete para latitudes e longitudes, por vezes insondáveis, mas sempre de uma riqueza, sedução e enamoramento maiores. Insondável, repetimos, e de uma presença esmagadora, ergue-se uma mulher, feita de destino e fatalidade, de uma crença transversal, da afirmação de uma religiosidade em planos muito diferenciados e dos quais abordaremos alguns aspetos que, pela sua inegável importância, constituem afirmações de um credo, oscilando entre o imenso respeito pelo sagrado e pela influência popular, assumindo por isso uma mundividência e uma mundivisão muito particulares.
Dimensões
15 x 23,4
Nr de páginas
120
ISSN
0870-7618