Em 2022 comemoram-se os 50 anos da publicação daquela que é seguramente uma das obras mais indecorosas da literatura portuguesa. A pretensa falta de decoro moral terá sido o argumento para a instauração do processo-crime que envolveu as Três Marias, mas é a falta de decoro estilístico, quebrando as leis do género e rompendo hierarquias no uso da língua, que merece mais atenção das leitoras e leitores de hoje que não tenham medo das Novas Cartas Portuguesas, de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa.
A leitura na eucaristia dominical transmitida na RTP na segunda quinzena do passado mês de agosto de uma passagem sobejamente conhecida de uma carta de São Paulo aos Efésios sobre as mulheres e os maridos levantou uma onda de indignação nas redes sociais. Numa estação do ano habitualmente caracterizada por falta de notícias, as polémicas que se levantam depressa desaparecem. O alarido, no entanto, desta vez, tomou tais proporções que a Conferência Episcopal Portuguesa se sentiu na necessidade de divulgar uma nota de esclarecimento.
A Bitcoin e os criptoativos – representações de valor digitais efetuadas com recurso a métodos e programas criptográficos – são uma das grandes novidades no campo da tecnologia, com importantes aplicações em várias áreas, como a finança e a arte. Impulsionados pela <em>blockchain</em>, os criptoativos são uma inovação que tanto fascina como levanta dúvidas e receios. São, igualmente, uma realidade que tem ganho uma adoção crescente, como o lançamento de discos em criptoativos por artistas, a abertura de bancos com depósitos para este tipo de ativos, bem como a preparação por parte de bancos centrais da digitalização das respetivas moedas nacionais.
O acordo global sobre a tributação das multinacionais é um passo positivo, mas não resolve os problemas de eficiência e justiça associados à tributação dos rendimentos empresariais na economia global em que vivemos. Há uma solução alternativa simples: substituir os impostos diretos por um imposto indireto de taxa única, complementado por um mecanismo de reembolsos que garanta a sua progressividade. Um sistema fiscal dessa natureza seria adequado ao mundo contemporâneo e promoveria o bem-estar material a nível global.
Desde cedo que os habitantes da pólis ateniense compreenderam o papel central da retórica no recém-criado sistema de governação democrático. Afinal, num mundo onde a acção está dependente da aprovação do povo, torna-se logicamente relevante a capacidade de o saber convencer. De onde se induz que aquele que dominar a retórica terá mais sucesso nas suas ambições políticas. Os problemas relacionados com a retórica não perderam a sua pertinência desde Tucídides até hoje. Tanto na Atenas do séc. V a.C. como no Portugal do séc. XXI, a retórica utilizada por um homem prudente com vista ao bem da população resulta em amplos benefícios para a sociedade, sendo o oposto também verdade; a retórica nas mãos de um homem ganancioso que visa apenas gerar lucro para si próprio, a despeito dos seus concidadãos, resulta, invariavelmente, em desgraça para todos.
A Companhia de Jesus e todos os que comungam da espiritualidade inaciana foram convocados pelo Geral, P. Arturo Sosa SJ, para comemorar os 500 anos da conversão de S. Inácio, ocorrida entre Loiola e Manresa nos anos de 1521-1522. A celebração deste Ano Inaciano pretende despertar o «chamamento a permitir ao Senhor operar a nossa conversão, inspirados na experiência espiritual de Inácio». O lema escolhido foi «ver novas todas as coisas em Cristo». É com esse mote que se procurará entender o que é que acontece – ontem e hoje – quando uma pessoa se converte, sempre à luz da experiência espiritual de conversão de Inácio de Loiola.
A atividade da Companhia de Jesus no Colégio das Missões Ultramarinas de Cernache do Bonjardim nunca foi até hoje objeto de qualquer estudo publicado. A entrada da Companhia de Jesus no Colégio das Missões Ultramarinas, efetuou-se em Junho de 1861, numa altura em que o jornalista e escritor Carlos José Caldeira se apresentou ao restaurador dos jesuítas em Portugal, Padre Carlos João Rademaker, manifestando-lhe que o Governo tinha interesse em que fossem enviados Padres da Companhia para o Seminário de Macau. O Padre Rademaker aceitou o pedido e, em resposta, o Governo «pôs à sua disposição a Casa de Cernache do Bom Jardim». A presença dos jesuítas na direção do colégio manteve-se até 1872.
Pedro Tamen, que nos deixou no passado dia 29 de Julho, representa no panorama cultural português da segunda metade do século XX um exemplo significativo de influência marcante nos diversos campos em que agiu, envolvendo-se com coerência e sentido prático no triplo desafio que era, a um tempo, político, religioso e cultural. O poeta e homem de cultura desdobrou-se em atividades em prol da língua e da literatura portuguesas numa perspetiva de liberdade. Consciente de que a democracia e a cidadania se constroem pelo reconhecimento do papel fundamental da cultura, da educação e da ciência, esteve sempre atento aos novos ventos no mundo do pensamento e das artes. Daí a sua relação, como artista e criador, com a memória.
De António Vieira, glória de Portugal e da Companhia de Jesus, ficam reflexos de uma grande luz: ele é um dos maiores oradores sagrados do Barroco europeu; um dos principais ourives da língua portuguesa; o evangelizador apaixonado; o teórico desdobrado em homem de acção; o cristão sem medo de sujar as mãos na política; o organizador e legislador; o homem que não receia propor soluções inovadoras e abrangentes, combatendo a mediocridade e o provincianismo tacanho. Que pensou Portugal não só como nação imperial, mas como comunidade inclusiva de gentes, integrando excluídos, como os judeus, tolerados, como os cristãos novos, ou nunca pensados, como os indígenas livres do Brasil.
Dimensões
15 x 23,4
Nr de páginas
108
ISSN
0870–7618