Volume 193-2/3, Agosto/Setembro 2021

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Maria Albuquerque

As cidades e os seus sistemas de transportes são ambientes vivos onde as nossas escolhas têm uma influência na vida dos outros. Pode uma linha de metro no interior da cidade resolver problemas das periferias? Sim. E pode a redução do estacionamento melhorar a vida dos que vivem e se deslocam na cidade? Também. O ordenamento do território e a aposta numa cidade mais compacta têm consequências diretas na eficiência dos modos de transporte? Sem dúvida. Um dos grandes desígnios do planeamento da cidade e da mobilidade deve ser, por tudo isto, o de fazer com que as nossas escolhas intuitivas consigam ser, simultaneamente, as que resultem em soluções que melhoram a vida urbana de todos.


António Júlio Trigueiros SJ

O Papa Francisco convidou a Igreja a percorrer um caminho sinodal que iniciará nos próximos dias 9 e 10 de outubro e se concluirá em outubro de 2023 com a celebração do próximo sínodo dos Bispos sobre o tema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”. Com a sua origem na Igreja primitiva, a sinodalidade do terceiro milénio é algo mais do que o Sínodo dos Bispos, que se tem vindo a reunir para aconselhar os papas desde o Concílio Vaticano II. Francisco não encara uma Igreja sinodal como uma democracia, nem um sínodo como um parlamento ou um mero exercício de escrutínio. O que ele quer é algo de muito mais profundo — “uma Igreja a caminhar em conjunto” — com as exigências inerentes de saber escutar e gerar processos de transformação.


Pedro Vaz Patto

Suscitou grande polémica a recentemente aprovada Resolução do Parlamento Europeu sobre a «situação da saúde e direitos sexuais e reprodutivos na União Europeia», que declara o aborto a pedido como direito humano fundamental e a sua proibição como violência contra a mulher. Mas o que desta Resolução mais tem suscitado indignação é a sua declaração de oposição ao exercício da objeção de consciência dos profissionais de saúde em relação à prática do aborto. Isto porque em quase todos os países da União Europeia vigoram já leis acentuadamente permissivas da prática do aborto.


Nuno Sampaio

A Suécia viveu entre o final de junho e o início de julho uma crise de governo de contornos inéditos. O impasse governativo foi solucionado com a viabilização de um novo governo liderado pelo social democrata Stefan Löfven que tomou posse a 9 de julho, mas os sinais de que o sistema partidário e, por inerência, os equilíbrios do sistema de governo estão em mutação são claros. São por isso várias as questões que se continuarão a colocar nos próximos tempos. Uma institucionalização dos Democratas Suecos conduzirá a uma maior polarização e uma maior radicalização das políticas defendidas pelos partidos de direita? Ou assistiremos a uma moderação deste partido e uma adaptação à política de compromissos de modo a ser mais influente nas políticas públicas, designadamente em matéria de imigração? Uma mistura destes dois cenários? Em que grau? E o mesmo tipo de processo e de tensão vai aumentar no quadrante esquerdo do espectro político com uma maior influência do Partido da Esquerda? Serão as novas forças centrífugas mais dinâmicas do que as antigas forças centrípetas? Cairão de vez os acordos interpartidários ao centro e as opções de políticas vão se tornar mais polarizadas?


Gonçalo Ribeiro Telles

Da realidade entre a verdade e a mentira no interior da política, vivemos hoje um tempo que influi em todo este binómio e que o agrava pelo novo fenómeno através das notícias, narrativas e premissas falsas que fazem regra nalgumas redes sociais e vão muito para além delas. Tardiamente e só recentemente, começou-se a criar legislação concreta para travá-la. Todo este fenómeno advém do lugar de um extremismo político, nacionalista e até de uma agenda religiosa. Generaliza-se, culpabiliza-se por tudo ou nada, gera-se o ódio a qualquer custo, institui-se o medo e a ausência da responsabilidade individual através do “eles” e “nós” constante.


Alfredo Teixeira

Como pensar a espacialidade religiosa? Entre o revivalismo e o futurismo, a discrição e a ostentação, a memória e a profecia, as igrejas na cidade revelam-se uma biblioteca essencial para o mapeamento material e espiritual da cidade. Esse mapa, na medida em que foi enriquecido por tempos diversos, dinamismos sociais heterógeneos e, cada vez mais, por geografias religiosas plurais, tornou-se um lugar de aprendizagem das diferenças que descrevem as culturas urbanas, competência crucial nos novos regimes de cidadania.


Acílio da Silva Estanqueiro Rocha

Sobre a terrível experiência do coronavírus que ainda sofremos, já muito se disse, pelo que pretendemos considerar algumas dimensões cuja vivência é pessoal, quer na relação do sujeito consigo mesmo quer com os outros, algumas delas presentes em textos primevos sobre outras pandemias. Com efeito, o cidadão deve estar atento e saber pôr as perguntas próprias de uma mente livre – quem nos diz a verdade, quem nos engana, quem quer manipular-nos. E sendo a liberdade um valor fundamental da pessoa humana – a capacidade de agir por si mesmo –, ela termina onde começa a liberdade do outro: ela conjuga-se com a responsabilidade. Daí que os desafios do pós-coronavírus não serão procedentes sem o respeito por imperativos que a experiência de confinamento tornou óbvios, desde o valor máximo da vida, o bem comum, os ditames da justiça social, a urgência ecológica, aos princípios de exigência democrática.


José Bruto da Costa

A Música e a sua receção, sendo sensorial, não pode ser recriada pelo simples facto que os sentidos sofreram alterações ao longo dos séculos. Mais do que uma categoria artística (ou sequer científica), tende a ser um objeto material e imaterial, parte integrante de um património coletivo, nacional, regional e geracional, universo caleidoscópio de referências eruditas, populares e urbanas, sobre o qual deveria pender um natural instinto de salvaguarda. Nem sempre, em Portugal, esse instinto vingou. Impõe-se, por isso, uma pergunta que, não sendo retórica, não tem resposta desataviada: qual o motivo para este alheamento?


José Bruto da Costa

A Música e a sua receção, sendo sensorial, não pode ser recriada pelo simples facto que os sentidos sofreram alterações ao longo dos séculos. Mais do que uma categoria artística (ou sequer científica), tende a ser um objeto material e imaterial, parte integrante de um património coletivo, nacional, regional e geracional, universo caleidoscópio de referências eruditas, populares e urbanas, sobre o qual deveria pender um natural instinto de salvaguarda. Nem sempre, em Portugal, esse instinto vingou. Impõe-se, por isso, uma pergunta que, não sendo retórica, não tem resposta desataviada: qual o motivo para este alheamento?


Michel Renaud

Uma síntese do pensamento do Padre Roque Cabral, falecido em Braga no passado dia 24 de junho de 2021, é quase impossível em função da diversidade e da multiplicidade das questões tratadas. Não procurava a prolixidade, mas sempre a abordagem mais correta e rigorosa dos assuntos aos quais dedicava a sua reflexão. Metaforicamente diremos que as suas análises eram parecidas com bebidas de um sumo concentrado, como se não quisesse saciar a sede dos seus leitores com inúteis perdas de tempo. Tinha, desta maneira, o dom de discernimento quanto à melhor maneira de tratar de modo compreensível e perspicaz problemas complexos. Esta acuidade, que supunha também a interiorização de uma vastíssima cultura, manteve-se durante o tempo da sua aposentação, na qual a sua atenção privilegiou a análise das questões candentes da atualidade social e religiosa.


Dimensões
15 x 23,4

Nr de páginas
112

ISSN
0870–7618