Escutar um áudio ou observar um vídeo e não conseguir detetar se são verdadeiros ou falsos pode ser um sério problema se, com o áudio ou o vídeo, se pretender burlar, manchar a honra e a reputação ou fomentar tumultos. Recorrendo a tecnologia baseada na inteligência artificial, podem obter-se áudios e vídeos falsos, indistintos dos reais, os deepfakes, cujo mau uso pode provocar uma erosão da confiança. Não havendo remédios milagrosos, impõe-se uma iniciativa global de educação para os media.
O tempo estivo aproxima-se e com ele o tempo de férias. As dificuldades de sair de Portugal, que se fazem sentir desde o ano passado, como consequência das restrições de circulação por razões sanitárias, fizeram muitos portugueses voltar-se para o território nacional. Tal como os protagonistas de A Cidade e as Serras, Jacinto e Zé Fernandes, ficaram extasiados com a beleza da paisagem do Douro, este é um verão oportuno para nos aventurarmos pelo Portugal profundo (ou pelo Portugal submerso como lhe chamava Álvaro Domingues num recente texto que publicámos) e para usufruirmos da riqueza que este nos pode oferecer.
Ângela Merkel termina em outubro deste ano o seu último mandato. Entre os líderes europeus da sua geração, Merkel é aquela que reúne mais tempo de governação. Neste artigo, procura-se refletir sobre o legado que poderá deixar, enquadrando o seu trajeto político no contexto da sua história pessoal, para de seguida, identificar as três características principais que marcam o seu modo de proceder. Um dos principais contributos para a Europa da sua liderança passa pela recuperação da centralidade de uma noção de bem-comum, animada por uma visão quasi-escatológica de um horizonte comum mais justo para todos.
Com a aprovação pela Assembleia da República de um diploma sobre a despenalização da «antecipação da morte medicamente assistida» e o juízo que sobre uma norma central desse diploma o Tribunal Constitucional emitiu, em fiscalização preventiva de constitucionalidade, a possibilidade (ou mesmo probabilidade) da consagração em Portugal de um regime legal sobre essa matéria ganhou toda a acuidade. É nesse contexto que, primariamente, se deixa uma reflexão sobre as questões e interrogações que se têm por essenciais numa análise e avaliação jurídico-constitucional de uma lei com tal conteúdo – questões que se colocam face ao princípio da inviolabilidade da vida humana e ao princípio da livre autodeterminação da pessoa. Subsequentemente, destacam-se alguns aspetos fulcrais do acórdão proferido pelo Tribunal Constitucional e esboça-se, até onde é possível, o cenário que no imediato se coloca, após a devolução do diploma ao Parlamento.
Entre 23 de julho e 8 de agosto, Tóquio vai receber os XXXII Jogos Olímpicos da Era Moderna. Antes, mais precisamente entre o século VIII a.C. e o século V d.C., os Jogos realizavam-se na Grécia e eram parte importante da sua cultura, à época presente em toda a zona mediterrânea. Não é por isso de estranhar que haja no corpus bíblico e na cultura judaica referências ao desporto e aos jogos. São Paulo, especialmente nas suas cartas aos Coríntios, usa várias metáforas inspiradas nas competições desportivas entre cidades. Porque é que o faz e como? E, mais importante ainda, o que podem estes exemplos da cultura antiga dizer-nos sobre a vida cristã? Será a vida cristã como uma corrida alegre?
Em tempos ameaçadores, como os que vivemos, a amizade surge-nos como mediação e garante: consola e ajuda, suporta e anima, instila esperança e confiança, através da presença, da mensagem, do serviço prestado, da partilha de preocupações, da ajuda concreta. Ter amigos constitui um bem precioso e uma magnífica apólice de seguro contra todos os riscos, pensam muitos. Mas, se interrogados, terão porventura dificuldade em se pronunciar sobre a sua natureza e identidade: afinal, o que vem a ser a amizade, como a podemos definir?
Sessenta e cinco anos depois da primeira edição do Festival da Eurovisão, criado na década de 1950 com o objetivo de unir a Europa no rescaldo da Guerra Fria, Portugal participa em 2021 pela primeira vez no evento com uma canção inteiramente cantada em língua estrangeira – “Love Is on My Side”, pelos Black Mamba, naturalmente em inglês, e que obteve uma das classificações mais expressivas do nosso país. Com a estreia portuguesa a ter ocorrido em 1964, percorrem-se aqui as participações nacionais com classificações mais elevadas, que culminaram em 2017 na histórica vitória de Salvador Sobral. De Carlos Mendes a José Cid, de Anabela a Dulce Pontes ou de Lúcia Moniz a Sara Tavares, por aqui passam canções maiores que nem sempre recordamos de um fôlego.
Escrever sobre João Bénard da Costa (1935-2009) equivale a encontrar uma época, ora distante, ora próxima, e ao mesmo tempo a figura do escritor, do cinéfilo e do pensador. Três atitudes e movimentos que na sua obra remetem para um jogo de afinidades e complementaridades, deslocações e sobreposições de imagens, sons e palavras. Mas podemos dizer que o cinema é a razão mais funda e fecunda da sua natureza intelectual e estética, o seu horizonte ininterrupto e a sua paixão. Uma forte paixão.
Para Francisco de Holanda (1517-1585), um dos grandes Humanistas portugueses, viajar foi aprendizagem. Mas a viagem, no século XVI, era tão penosa como o fora durante toda a Idade Média. Não obstante a ideia contemporânea de um tempo de trânsito, criada pela imaginação em torno do caminho a Santiago de Compostela, das peregrinações a Roma ou até das Cruzadas à Terra Santa, viajar era perigosa decisão que poderia conduzir ao termo da vida.
Dimensões
15 x 23,4
Nr de páginas
112
ISSN
0870–7618