Desvalorizar a importância geoestratégica da Saúde é um erro clamoroso. Ao longo de todo este tempo, a OMS repetidamente sublinhou a elevadíssima probabilidade do surgimento de uma pandemia com os contornos que a Covid-19 apresenta. Estamos, agora, a sentir na pele a dimensão da tragédia social e económica da transformação do risco em realidade. Em número de mortes e de infectados. Em encerramento das actividades económicas e na miséria que provoca a perda de rendimentos. Estamos a sofrer as consequências, da forma mais dura, do erro político da falta de antevisão e da falta de avaliação de impacto nos riscos para a saúde de muitas das decisões que têm vindo a ser tomadas, mesmo no âmbito da construção europeia, e que puseram em causa equilíbrios geoestratégicos básicos.
Assinalam-se neste ano 700 anos sobre a morte no exílio em Ravenna, em 1321, do poeta de Dante Alighieri. O Papa Francisco acabou de publicar no passado dia 25 de Maio a carta apostólica Candor lucis aeternae (Esplendor da luz eterna), na qual celebra a vida histórica e literária do grande poeta florentino, a quem chama «profeta de esperança e testemunha da sede de infinito presente no coração do homem». Mas a reivindicada pertença de Dante à Igreja por parte dos papas, não deverá ser lida em chave triunfalista, mas acolhendo as palavras de crítica profética pronunciadas pelo poeta contra quem devia anunciar o Evangelho e representar, não a si próprio, mas a Cristo.
O processo de reaproximação entre a França e o Ruanda é dirigido por dois líderes pragmáticos. Desde que chegou ao poder, Paul Kagame fez da história, e em particular da história do genocídio, um dos principais fatores de legitimação da sua liderança. Emmanuel Macron, por sua vez, é o primeiro presidente francês de uma geração que não viveu o colonialismo e que, talvez por isso, estabeleça uma diferença entre protagonistas e herdeiros da história. Mas se no caso das relações entre a França e o Ruanda este pragmatismo pode lançar as bases para uma relação mais próxima e uma verdadeira parceria entre iguais, é provável que outros passados se mostrem mais difíceis de ultrapassar.
Representado em mapas, o interior é uma coisa pouco clara. Mais do que continuar a usar (e a gastar) a palavra e os sentidos dúbios de interior (e da dicotomia litoral/interior), mais vale entender de que é que se fala quando se fala do interior e da interioridade. Num país-arquipélago, com ilhas grandes, ilhas médias (capitais de distrito e outras) e territórios “submersos” (cerca de 68% do território nacional), o interior não é uma cartografia, é um estado difuso de apatia económica, despovoamento, envelhecimento e rarefacção demográfica.
O Centro Nacional de Cultura nasceu há mais de 75 anos. É uma história longa, mas plena de múltiplos contributos e de muitas vidas. Aqui a cultura existiu como encruzilhada de memória e de novidade, de tradição e de modernidade. Desde 13 de Maio de 1945 até hoje, houve um longo caminho percorrido. Afonso Botelho, António Seabra e Gastão da Cunha Ferreira fundaram-no como ponto de encontro e de reflexão. A política do património cultural, centrada na integração, no conhecimento e na ação, deve ser articulada, como fator de coesão territorial, de integração social e de desenvolvimento sustentável, dentro das fronteiras e para além das fronteiras. Um novo conceito de fronteira constitui uma das preocupações do CNC, ciente de que a cultura tem de ser vista como um fator de aproximação e não de separação.
A índole pastoral da doutrina cristã determinou radicalmente o ponto de partida e o tom do Concílio Vaticano II – este princípio permanece, porém, insuficientemente apropriado. Ele compreende a relação pastoral como elemento constitutivo da
própria doutrina, que não é entendida simplesmente como verdade intemporal, lei abstracta, mas, sobretudo, como tradução do Evangelho que salva, não podendo para isso deixar de implicar aqueles a quem se oferece – é esta a substância que não muda. A pastoral deixa então de ser mera aplicação instrumental, para ser anúncio vivo do Senhor da vida, na forma de relação que atende e cuida dos destinatários na sua particularidade biográfica e contexto cultural.
Quem foram Elesbão e Efigénia, cabe perguntar, uma vez que não são nomes que façam parte da hagiografia mais conhecida. O relato hagiográfico destes dois santos é muito interessante, como o é também a história do seu culto, onde nasceu e como se propagou. Muito divulgada sobretudo no século XVIII, a devoção foi perdendo alento, sendo hoje, mesmo nos países ibéricos onde ela teve maior divulgação, praticamente desconhecidos os seus nomes Os autores que se têm debruçado sobre o estudo da devoção destes santos no Brasil têm assinalado o papel de evangelização que a mesma desempenhou junto da população negra de escravos e libertos, juntamente com o culto que era dedicado a São Benedito de Palermo e António de Noto, ambos franciscanos, também santos negros, embora o último não tenha chegado a ser canonizado.
O reduzido corpus dos Sermões italianos do P.e António Vieira proporciona a oportunidade de se analisar o modo como o insigne pregador superou as dificuldades de expressão quando se vê confrontado com o uso da língua italiana. O “desfasamento” que ele próprio aponta na expressão e composição dos textos é mais notado se forem confrontados com a respetiva versão portuguesa posteriormente realizada. Em compensação valoriza-se uma estratégia semiológica que se articula com o plano da retórica, de modo que a componente cénica desempenha um papel fundamental para colmatar as dificuldades a superar.
A interrogação acerca do estatuto d’aquele que escreve na sua ordem religiosa faz-nos indagar: como e quando é que ele se torna, mais do que scriptor, um auctor? Como é que ele traça a via da sua vocação e do seu talento, ao mesmo tempo que obedece? Sabendo da celebração que iria ocorrer em Lisboa por ocasião do centenário do nascimento de Manuel Antunes, perguntávamos ainda: que alterações podiam ter estas questões, se as trasladássemos do período moderno para pleno século XX? Ou, noutros termos, como conceber a «obra» de Manuel Antunes como escritor jesuíta? Que novos quadros produziu a época contemporânea – após a restauração da Companhia de Jesus, em 1814 – para poder definir o seu estatuto de uma maneira diferente?
Dimensões
15 x 23,4
Nr de páginas
101
ISSN
0870–7618