O Cântico de Francisco de Assis foi composto nos seus últimos anos de vida, quando se encontrava muito doente e praticamente cego. Francisco de Assis reservava um particular carinho por este poema cantado, ordenando aos Frades Menores que, onde quer que fossem, o levassem sempre nos lábios. Ao longo da sua doença pedia sempre que lho entoassem à cabeceira, para sua consolação. O Cântico toma parte nos ritmos diários de Francisco e, já bem perto da morte, este completará o louvor começado tempos antes, confirmando a relação íntima entre a irmã vida e o irmão cântico.
A situação epidemiológica que estamos a viver gera em nós as mais diversas incertezas sobre o futuro próximo das nossas vidas e pode fazer entrar no nosso íntimo a desolação, a tristeza, a ansiedade e até mesmo o desespero. Nos Exercícios Espirituais, Inácio de Loiola, nas famosas regras de discernimento, ajuda-nos a viver este tempo em que nos sentimos particularmente desolados e dá-nos estratégias para enfrentar a desolação, sem nos deixarmos tomar por ela. Identificar a desolação, conhecer a sua origem, não tomar decisões sob o seu efeito e acima de tudo reagir com paciência, esperança e serenidade contra ela parece ser o caminho que todos podemos percorrer a nível individual e coletivo.
O cálculo económico meramente racional não funciona em termos absolutos, quando nos reportamos à partilha de recursos, devendo ser corrigido pelos valores sociais e pelo sentido de valor. A coesão social, a inclusão, o risco da pobreza e das desigualdades têm de preocupar os decisores políticos e económicos. As disparidades, além de manifestações de injustiça, são também expressão de fragmentação social. O combate à pobreza faz-se pela tributação progressiva ou proporcional dos rendimentos; pelo estabelecimento de medidas de combate direto à pobreza – através da segurança social, dos subsídios de desemprego, e dos incentivos à criação de empregos; pela prestação de serviços subsidiados pelo Estado a favor dos mais pobres. Precisamos de agir em vários tabuleiros, considerando a complexidade de fornecer a cana de pesca e recusando lógicas simplificadoras.
É certo que tanto a história da humanidade como a da Igreja se desenvolveram sob uma estrutura sobretudo patriarcal, pelo que, o papel da mulher, até há poucas décadas atrás, era essencialmente subsidiário – não menos importante, mas importante noutra dimensão. Como nos mostra a própria história da Igreja, houve mulheres que tiveram um papel verdadeiramente decisivo em vários momentos. No inicio de 2021, no dia em que a Igreja celebra o Batismo do Senhor, o Papa Francisco aprovou o motu proprio Spiritus Domini abrindo o acesso ao ministério instituído do leitorado e do acolitado a pessoas do sexo feminino, gesto que se junta a uma série de nomeações para lugares de destaque no Vaticano que Francisco tem feito ao longo do seu pontificado.
Num estudo, de carácter exploratório, pretendeu-se escutar os idosos, pessoas a partir dos 70 anos através de uma entrevista aberta, subordinada a uma questão “como é que a doença Covid-19 afetou a sua vida”. Nada mais foi perguntado nem sugerido por parte dos entrevistadores. Permitiu-se que as pessoas respondessem como bem entendessem, sem qualquer interferência. A par de sentimentos de solidão, de falta de esperança e de medo, vislumbram-se sentimentos positivos motivados pela onda solidária que se propagou em muitos locais e traduzida através de pequenos gestos.
Para o cidadão comum, a noção de polícia é a de alguém que se chama por razões de segurança. Desde longe que se associa à polícia a responsabilidade pela manutenção da tranquilidade pública, o respeito pelas liberdades, a proteção de pessoas e bens. Mas um conceito minimamente elaborado implica apresentar a polícia como serviço, exclusivamente prestado pela autoridade pública, dotado de uma estrutura complexa e muito diferenciada. Antes de expor a organização das polícias portuguesas, distinguir-se-á entre polícia geral e polícias especiais e entre polícia administrativa e polícia judiciária.
A 5 de fevereiro de 1991 morre, em Roma, o Padre Pedro Arrupe SJ. Há, precisamente, 30 anos. Dito isto, só lamentamos escrever estas linhas com este pretexto, pois, na verdade, todos os dias seriam bons para celebrar a vida de Arrupe. Dele muito se pode dizer, desde o seu carisma e capacidade de liderança, à sua resistência à adversidade. Da sua generosidade e compromisso
com os pobres, ao seu diálogo sincero com os valores contemporâneos. Mas também é possível falar do Arrupe intelectual, dotado de uma inteligência proverbial; sempre ao serviço das pessoas mais necessitadas.
Na igreja jesuíta de S. Roque, em Lisboa, acha-se um monumento funerário para lembrar aos vindouros a memória e o exemplo de alguém que sofreu perseguições por não renunciar à fé católica, enfrentando com verticalidade as desditas que lhe foram reservadas – e que por isso mereceu o prémio simbólico de ser ali sepultado... de pé. Mas quem foi o inglês Sir Francis Tregian (1548/1608) que ali está sepultado? Qual o traçado da sua vida, que se adivinha dramático, e como veio parar a Portugal e ao principal templo jesuítico de Lisboa no primeiro quartel do século XVII?
Eduardo Lourenço pôde até ao fim guardar uma fidelidade exemplar ao desígnio fundacional de tomar «a verdade e o amor a ela, apenas como direção do seu agir e nunca como realidade possuída, tentando esclarecer a opacidade do mundo e compreender a diversidade dos homens», na pluralidade das motivações e perspetivas, na peregrinação de acertos e desacertos, de encontros e desencontros. E, maravilhosamente, na desenvolução desse projeto entre todos atraído pelo incerto, elaborou uma obra que é, a um tempo, processo em aberto e articulação congruente de certas paixões problemáticas e de inesgotáveis iluminações – obra que se foi constituindo como espécie de borderland pensante e imaginante, território de interrogação e compreensão que na fronteira se gera e afirma.
Dimensões
15 x 23,4 cm
Nr de páginas
104
ISSN
0870-7618