Volume 192-2, Fevereiro 2021

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João Maria Carvalho

O Cântico de Francisco de Assis foi composto nos seus últimos anos de vida, quando se encontrava muito doente e praticamente cego. Francisco de Assis reservava um particular carinho por este poema cantado, ordenando aos Frades Menores que, onde quer que fossem, o levassem sempre nos lábios. Ao longo da sua doença pedia sempre que lho entoassem à cabeceira, para sua consolação. O Cântico toma parte nos ritmos diários de Francisco e, já bem perto da morte, este completará o louvor começado tempos antes, confirmando a relação íntima entre a irmã vida e o irmão cântico.


António Júlio Trigueiros SJ

A situação epidemiológica que estamos a viver gera em nós as mais diversas incertezas sobre o futuro próximo das nossas vidas e pode fazer entrar no nosso íntimo a desolação, a tristeza, a ansiedade e até mesmo o desespero. Nos Exercícios Espirituais, Inácio de Loiola, nas famosas regras de discernimento, ajuda-nos a viver este tempo em que nos sentimos particularmente desolados e dá-nos estratégias para enfrentar a desolação, sem nos deixarmos tomar por ela. Identificar a desolação, conhecer a sua origem, não tomar decisões sob o seu efeito e acima de tudo reagir com paciência, esperança e serenidade contra ela parece ser o caminho que todos podemos percorrer a nível individual e coletivo.


Guilherme d'Oliveira Martins

O cálculo económico meramente racional não funciona em termos absolutos, quando nos reportamos à partilha de recursos, devendo ser corrigido pelos valores sociais e pelo sentido de valor. A coesão social, a inclusão, o risco da pobreza e das desigualdades têm de preocupar os decisores políticos e económicos. As disparidades, além de manifestações de injustiça, são também expressão de fragmentação social. O combate à pobreza faz-se pela tributação progressiva ou proporcional dos rendimentos; pelo estabelecimento de medidas de combate direto à pobreza – através da segurança social, dos subsídios de desemprego, e dos incentivos à criação de empregos; pela prestação de serviços subsidiados pelo Estado a favor dos mais pobres. Precisamos de agir em vários tabuleiros, considerando a complexidade de fornecer a cana de pesca e recusando lógicas simplificadoras.


Madalena Van Zeller

É certo que tanto a história da humanidade como a da Igreja se desenvolveram sob uma estrutura sobretudo patriarcal, pelo que, o papel da mulher, até há poucas décadas atrás, era essencialmente subsidiário – não menos importante, mas importante noutra dimensão. Como nos mostra a própria história da Igreja, houve mulheres que tiveram um papel verdadeiramente decisivo em vários momentos. No inicio de 2021, no dia em que a Igreja celebra o Batismo do Senhor, o Papa Francisco aprovou o motu proprio Spiritus Domini abrindo o acesso ao ministério instituído do leitorado e do acolitado a pessoas do sexo feminino, gesto que se junta a uma série de nomeações para lugares de destaque no Vaticano que Francisco tem feito ao longo do seu pontificado.


Rui Proença Garcia, Cristina Cruz

Num estudo, de carácter exploratório, pretendeu-se escutar os idosos, pessoas a partir dos 70 anos através de uma entrevista aberta, subordinada a uma questão “como é que a doença Covid-19 afetou a sua vida”. Nada mais foi perguntado nem sugerido por parte dos entrevistadores. Permitiu-se que as pessoas respondessem como bem entendessem, sem qualquer interferência. A par de sentimentos de solidão, de falta de esperança e de medo, vislumbram-se sentimentos positivos motivados pela onda solidária que se propagou em muitos locais e traduzida através de pequenos gestos.


José Souto de Moura

Para o cidadão comum, a noção de polícia é a de alguém que se chama por razões de segurança. Desde longe que se associa à polícia a responsabilidade pela manutenção da tranquilidade pública, o respeito pelas liberdades, a proteção de pessoas e bens. Mas um conceito minimamente elaborado implica apresentar a polícia como serviço, exclusivamente prestado pela autoridade pública, dotado de uma estrutura complexa e muito diferenciada. Antes de expor a organização das polícias portuguesas, distinguir-se-á entre polícia geral e polícias especiais e entre polícia administrativa e polícia judiciária.


Paulo Cunha Matos

A 5 de fevereiro de 1991 morre, em Roma, o Padre Pedro Arrupe SJ. Há, precisamente, 30 anos. Dito isto, só lamentamos escrever estas linhas com este pretexto, pois, na verdade, todos os dias seriam bons para celebrar a vida de Arrupe. Dele muito se pode dizer, desde o seu carisma e capacidade de liderança, à sua resistência à adversidade. Da sua generosidade e compromisso
com os pobres, ao seu diálogo sincero com os valores contemporâneos. Mas também é possível falar do Arrupe intelectual, dotado de uma inteligência proverbial; sempre ao serviço das pessoas mais necessitadas.


Paulo Figueira

Na igreja jesuíta de S. Roque, em Lisboa, acha-se um monumento funerário para lembrar aos vindouros a memória e o exemplo de alguém que sofreu perseguições por não renunciar à fé católica, enfrentando com verticalidade as desditas que lhe foram reservadas – e que por isso mereceu o prémio simbólico de ser ali sepultado... de pé. Mas quem foi o inglês Sir Francis Tregian (1548/1608) que ali está sepultado? Qual o traçado da sua vida, que se adivinha dramático, e como veio parar a Portugal e ao principal templo jesuítico de Lisboa no primeiro quartel do século XVII?


José Carlos Seabra Pereira

Eduardo Lourenço pôde até ao fim guardar uma fidelidade exemplar ao desígnio fundacional de tomar «a verdade e o amor a ela, apenas como direção do seu agir e nunca como realidade possuída, tentando esclarecer a opacidade do mundo e compreender a diversidade dos homens», na pluralidade das motivações e perspetivas, na peregrinação de acertos e desacertos, de encontros e desencontros. E, maravilhosamente, na desenvolução desse projeto entre todos atraído pelo incerto, elaborou uma obra que é, a um tempo, processo em aberto e articulação congruente de certas paixões problemáticas e de inesgotáveis iluminações – obra que se foi constituindo como espécie de borderland pensante e imaginante, território de interrogação e compreensão que na fronteira se gera e afirma.


Dimensões
15 x 23,4 cm

Nr de páginas
104

ISSN
0870-7618