Por um lado, a política parece estar em
toda a parte – nos jornais, nas conversas
de café, nas redes sociais. Por outro lado,
talvez nunca na história da democracia
ocidental os cidadãos se tenham sentido
tão distantes da política e do poder. O ser
humano é político, mas não está a participar.
Este texto pretende debater o papel
dos Católicos no contexto político atual.
Para construir respostas convincentes, importa
começar por colocar a questão de
fundo: porque são os Católicos chamados
a participar na vida pública? Depois, apresentam-
se três ideias para gerar um plano
de ação eficaz.
Seis de Abril de 2020 é a data do quinto
centenário da morte de Rafael. E o último
quadro que pintou, a “Transfiguração”,
teria ficado praticamente acabado na
véspera e foi colocado atrás do féretro do
pintor enquanto este permanecia em câmara
ardente. Ao iniciar-se o ano de 1520,
Rafael tinha atingido o pico da fama. O
tempo vivido dera-lhe amor, riqueza e talento.
Roma antiga estava a ser trazida à
luz de acordo com os seus planos, e a sua
arte estava documentada em muitos locais
da cidade. Tinha a sede da Cristandade a
seus pés. E, no entanto, morreria em breve.
Pedimos a José Tolentino Mendonça que refletisse
acerca da relação entre a calamidade
e a graça, do nosso lugar em tempos de inquietação
e da resistência da beleza no meio
do caos. Esse texto, publicado na revista de
abril, chegou até Gonçalo M. Tavares, esta é
a resposta desse diálogo em diferido.
Nenhum de nós tem dúvidas sobre a excecionalidade
do tempo que vivemos, que a
todos afeta, alterando profundamente o seu
habitual modo de estar. Mas a pandemia
ameaça mais uns do que outros, incidindo
particularmente sobre aqueles que não
podem deixar de estar em contacto com
possíveis infetados, como acontece aos que
prestam serviços presenciais, ou àqueles
que, pela sua profissão, estão obrigatoriamente
a cuidar em proximidade, caso
exemplar dos serviços da saúde. Em toda
a população, incluindo os mais expostos,
são os idosos os doentes em que o vírus
causa mais lesões e acarreta mais óbitos.
A atribuição do Prémio Árvore da Vida –
Padre Manuel Antunes a Eduardo Lourenço
representa o reconhecimento de um
percurso de vida de quem tem refletido
profundamente sobre a cultura com uma
especial inquietação espiritual, significativamente
convergente com o magistério
da figura ímpar que inspira este prémio. E
importa lembrar o que o agora galardoado
afirmou no centenário da revista Brotéria,
reconhecendo o Padre Manuel Antunes
como “grande mestre e ensaísta” com
uma especial “atenção aos novos tempos,
os de casa e do mundo”, não privilegiando
o aspeto apologético das suas profundas
convicções religiosas e metafísicas, profundamente
ligado à exigência crítica.
É o feminismo monopólio da Esquerda?
A esta pergunta, como mulher, de Direita,
democrata-cristã, do século XXI, terei que
responder com um cauteloso “sim” e “não”.
O “sim” reservo-o para a dimensão histórica
do feminismo. Mas respondo que “não”,
porque o feminismo cumpre ainda hoje um
papel que não tem que ter uma natureza
ideológica, mas tendo, esta não se cinge
a um único campo político. Aliás, sempre
houve, e tem mesmo ganho exposição, um
feminismo à Direita, com ação concreta
tanto noutros países como em Portugal.
A República Popular da China tem levado
a cabo uma experiência social na qual
combina o controlo social com as novas
tecnologias associadas à Inteligência Artificial.
Esta experiência tem o nome de
«Sistema de Crédito Social» e o seu objetivo
oficial é o de reforçar a confiança
na sociedade chinesa. Este sistema, que
se pretende universal e irá incluir não só
todos os cidadãos, como empresas e organizações
não-governamentais, tem um potencial
extraordinário de controlo da vida
privada. Este artigo procura compreender
as razões e o alcance deste Sistema não só
a nível doméstico, mas também a sua atratividade
além-fronteiras. É a junção entre
o reforço e centralização do poder político
por parte de Xi Jinping, a repressão muito
forte dos últimos anos, a vantagem competitiva
tecnológica chinesa na Inteligência
Artificial e o papel cada vez mais visível de
Pequim no mundo, que tornam a China o
país a seguir em matéria de construção das
chamadas «Ditaduras Digitais».
O diálogo com o nosso mundo e os nossos
tempos tem deixado autorreflexões curiosas,
algo críticas, sobre a forma como os
processos de canonização são encarados
e elaborados a partir de Roma. Ao longo
deste artigo discutimos a pertinência atual
da convocatória de cientistas (principalmente
médicos) e dos seus pareceres nos
dossiers dos altares. As objeções radicam
na eventual fragilidade deste modus faciendi
a três níveis: epistemológico, teológico
e apostólico. O desenvolvimento destes
tópicos, como é adivinhável, pressupõe
uma revisão das palavras e das ideias relacionadas
com os milagres, a natureza da
ciência, a natureza da religião e, obviamente,
com o ajuste de linguagens no sentido
de tornar viva, endémica, menos mágica,
atual e atrativa a proposta cristã.
O objectivo deste artigo é apresentar as
principais linhas de pensamento de Roger
Scruton e como as mesmas se entrelaçam
com a sua biografia e experiência
de vida. O pensamento de Scruton é um
pensamento de crítica, mas, por arrasto,
tornou-se também um pensamento de alternativa.
A sua originalidade provém da
interacção de conceitos e áreas diferentes
associados a uma experiência de vida,
dando assim uma noção de todo e de corpo
rara hoje em dia.
Manoel de Oliveira, através do cinema,
mostrou um amor único pela verdade e
pela vida. Pode dizer-se que essa é uma
linha constante ao longo da sua obra. Atravessa
todas as mutações, traça um percurso
de filme para filme. Preenche interregnos
entre filmagens, recobre hesitações
e frustrações. Dá origem a experiências
gramaticais (por exemplo a duração do
plano), enriquece a figura e o ethos do Autor.
É também a mesma linha que permite
ancorar algumas questões essenciais que
nos remetem para o diálogo de Oliveira
com o catolicismo.
Fundado em 1953, o Movimento de Renovação
da Arte Religiosa concretizou a
vontade de um grupo de arquitetos, artistas
plásticos e outras pessoas interessadas
– como Nuno Teotónio Pereira, João de
Almeida, Nuno Portas, Diogo Pimentel,
Luiz Cunha, Manuel Cargaleiro, José Escada,
Maria José de Mendonça e Madalena
Cabral – empenhados em conferir modernidade
e uma maior qualidade plástica à
arte e aos edifícios religiosos em Portugal,
numa oposição formal à manutenção dos
modelos tradicionalistas promovidos pelo
Estado Novo. Durante quinze anos politicamente
conturbados e de forte secularização,
o MRAR soube reunir, formar e
sensibilizar arquitetos, artistas, padres e
seminaristas para a dimensão estética das
obras da Igreja, juntando-os numa caminhada
de estudo, discussão e formação
comum que se revelou como fator de qualificação
da arte e da arquitetura religiosas,
onde se contam algumas das mais notáveis
obras em Portugal no século XX.
Dimensões
15 x 23,4
Nr de páginas
108
ISSN
0870–7618