Contrariamente ao que muitas vezes se julga, quando a análise do presente descura o olhar histórico, a Guiné Bissau é um dos maiores laboratórios práticos de ciência política no mundo. Poucas situações não foram experimentadas num passado mais ou menos recente: golpes de estado, esclavagismo, colonização, guerra civil, epidemias, lutas de libertação seguidas de algumas tentativas que resultaram em disfarces democráticos, tutelas e um palco contínuo das maiores quezílias e disputas internacionais. No meio desta amálgama, surge outra realidade mais rica, igualmente diversa, que é composta pela geografia de norte a sul, assim como pelas diferentes etnias dos guineenses, cerca de dez, que compõem este pequeno Estado da África Ocidental. Para o bem, mas ainda mais para o mal, uma e outra confundem-se e influenciam-se.
A encíclica Fratelli Tutti que acabou de ser assinada na basílica de Assis, com data de 3 de outubro de 2020, dia de S. Francisco de Assis, acha-se em clara continuidade com o grande desiderato universal, de fazer do mundo em que vivemos uma comunidade fraterna, naquilo que toca às assimetrias sociais, económicas, étnicas e religiosas. Inserindo-se na boa tradição da Doutrina Social da Igreja. Esta terceira encíclica de Francisco assinala um importante marco no seu magistério. Após a encíclica Laudato Si, sobre o cuidado da casa comum, o olhar volta-se em Fratelli Tutti para a relação daqueles a quem foi confiado esse cuidado, colocando-os ao serviço da construção de um mundo mais justo e mais fraterno.
O autor, quando aluno do liceu, teve “Organização política e administrativa da Nação”, inserida no contexto do regime salazarista. Em 1975 acompanhou as campanhas de “dinamização cultural” levadas a cabo por núcleos radicais do processo revolucionário. Agora há quem defenda que a par de outras matérias, sejam obrigatoriamente ministradas nas escolas públicas a sexologia e a igualdade de género, correndo-se o risco de se cair nas “questões fraturantes”. O autor, pelo contrário, é claramente a favor de uma disciplina de cidadania, desde que o seu programa adquira e incentive a abrangência cultural, seja tão consensual quanto possível e venha a ser elaborada com amplo debate público ouvindo-se as associações de famílias. Apresenta neste texto uma proposta para um programa curricular de “Cidadania e Desenvolvimento”.
A Comissão Europeia apresentou uma proposta de novo Pacto para a Migração e Asilo, dando assim início a um processo de negociações que será decisivo para definir as prioridades de uma estratégia comum europeia capaz de lidar com os desafios e ultrapassar o impasse que tem caracterizado o debate europeu em torno destas matérias. A partir de uma visão humanitária, não securitária, das migrações para a Europa, primeiro, analisar-se-ão os três pilares do Pacto e os seus pontos positivos. Depois serão explicados os passos seguintes e as preocupações que esta proposta trouxe ao debate europeu.
A década de 80 foi decisiva na criação de bases sólidas de fomento à mobilidade de pessoas. A expansão e consolidação de um propósito europeu, do qual Portugal passou a fazer parte em 86, era cada vez mais tangível com programas e medidas concretas. No plano da educação e mobilidade, o programa Erasmus surgia em 1987. No plano das relações portuguesas e americanas, é em 1985 que é criada a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, que tem por missão promover o desenvolvimento de Portugal através da cooperação bilateral com os Estados Unidos da América. Estas experiências de promoção da mobilidade de talento são rentabilizadas ao longo da vida profissional e pessoal do estudante, mas são também uma das principais ferramentas daquilo a que podemos chamar de diplomacia cultural.
Este ensaio contextualiza a génese da teologia da cultura de Paul Tillich, através da biografia deste importante teólogo do sec. XX, que a consagrou como um ramo importante da teologia contemporânea. Podemos dividir a sua vida em dois períodos: o período alemão e o período norte-americano, posterior ao seu exílio em 1933. Acentuamos o primeiro período, que corresponde mais exatamente à génese e fundamentação da ideia de teologia da cultura, referindo, no entanto, a sua recontextualização e impacto nas suas obras do segundo período.
Ao longo do presente texto recorreremos aos filósofos, para com eles pensarmos o que nos foi dado viver com esta pandemia. Fazemo-lo de um modo não sistemático, procurando através deles uma ajuda para reflectir sobre a situação complexa em que nos encontramos - algo de inédito que há meses atrás colocaríamos no domínio da ficção científica. Deste modo, iremos convocá-los como parceiros de diálogo, sem preocupação em aprofundar ou discutir as suas teses mas tentando encontrar nelas algo que nos esclareça e reconforte, ou seja, estabelecendo uma ligação entre a filosofia e a vida quotidiana.
Pelo recente falecimento de Joaquim Veríssimo Serrão, ocorrido a 31 de Julho de 2020, evocamos a sua memória num breve esboço biográfico, na tentativa de apresentar o retrato de uma vida ao serviço do estudo e do ensino universitário. A dimensão da obra que nos legou, que excede galhardamente a média comumente produzida por qualquer historiador, será para sempre fonte de consulta e objecto de inspiradoras leituras para quem à História se dedica.
Num recente leilão de antiguidades e obras de arte moderna e contemporânea realizado em Lisboa pela Cabral Moncada Leilões, a 3 de Dezembro de 2019, foi licitado pelo Museu de São Roque um belíssimo quadro que representa O Senador Marco António Trevisani encontra Santo Inácio de Loyola a dormir sob as arcadas de São Marcos em Veneza. A obra da autoria de Domingos da Cunha, pintor da Companhia de Jesus, chamado de alcunha o Cabrinha (1598-1644) retrata um episódio passado em janeiro de 1524, quando o Inácio se dirigia à Terra Santa, e que foi dado a conhecer pelo padre jesuíta espanhol Pedro de Ribadeneyra na sua biografia de Inácio de Loyola, escrita em 1572.
Camilo Pessanha compôs meticulosamente o que pretendia que dele se lesse. A Clepsydra estava pronta em 1916, dez anos antes da sua morte. Quando recebeu, em Macau, um exemplar do livro, publicado em Lisboa em 1920, ficou admirado, agradecido, identificado plenamente com o texto a que então chamou a “esquecida Clepsydra”. Ali estava ele-todo: naqueles poemas, a sua Obra “completa”! Não parece plausível, tratando-se de um artista muito refinado, que algo que ele considerasse necessário tivesse sido esquecido. Foi, sim, propositadamente, posto de lado, por não ser considerado essencial. A “esquecida Clepsydra” é, por isso mesmo, a inolvidável certeza de um silêncio preenchido.
Dimensões
15 x 23,4 cm
Nr de páginas
106
ISSN
0870-7618