1

Volume 201 — 5, Novembro 2025

5€Digital8€Papel

Adicionado ao carrinho!


Leonor Carrilho

No dia 10 de novembro de 2025, lançamos o novo website da Brotéria. Apostamos numa nova forma de navegação que revela múltiplas possibilidades à medida que vai acontecendo, criando relações em teia. Desafiamos as métricas baseadas no tempo do consumo de conteúdo, com a intenção, tanto de dar visibilidade aos assuntos e encontros que acontecem na Brotéria, como de produzir um espaço para a produção de conhecimento. Debruçamo-nos sobre esta renovação conceptual e tecnológica, entendendo o espaço digital como um bom lugar e refletimos sobre a representação do tempo nas nossas vidas, que nos obriga a escolher, criteriosamente, sobre o que ver, onde ir, o que ler. 


Daniel Atallah SJ

No dia 8 de dezembro de 2024, caía Bashar al-Assad e a ditadura de décadas na Síria. A data ditou o fim do regime, mas não o fim dos grandes obstáculos à paz, à segurança e ao desenvolvimento económico. Às consequências nefastas resultantes da falta de liberdade de expressão e de participação política, a progressiva degradação económica ou a incorporação forçada nas forças armadas por longos anos, vieram juntar-se a insegurança generalizada que, hoje, se vive tocando também o que é novo, o culto de minorias religiosas. Neste artigo, não se pretende fazer uma análise política especializada, mas, tão só, testemunhar a experiência pessoal do autor no país, tendo como seu laboratório de observação o centro comunitário Manuel Hurtado, na periferia de Damasco. Procurando manter um tom esperançoso, reconhece-se com realismo quanto é incerto o momento presente da Síria. Para a Brotéria, o artigo resulta da opção editorial por prestar atenção a conflitos menos mediatizados entre nós.    


Isabel Lopes Cardoso

As Matérias-Primas Críticas são recursos naturais essenciais que se situam no epicentro da transformação económica, da inovação tecnológica e da rivalidade securitária global; são um eixo das políticas de segurança nacional e económica dos Estados, por sustentarem as indústrias estratégicas do século XXI. A União Europeia aprovou, em 2024, o Critical Raw Materials Act (CRMA) que identifica 34 matérias-primas críticas e 17 estratégicas. A sua relevância geopolítica é inequívoca. A História recente mostra como a disputa por matérias-primas tem alimentado conflitos armados, instabilidade política e graves violações de direitos humanos. Tais recursos são crescentemente convertidos em instrumentos de poder, de coerção e de influência estatal. A rivalidade entre os Estados Unidos e a China transformou o acesso a minerais críticos numa verdadeira alavanca estratégica no tabuleiro geopolítico contemporâneo. 


Andrea Grillo

Superar a polarização parece ser uma das tarefas que o Papa Leão XIV considera prioritárias, concretamente em questões que envolvem a liturgia e a sexualidade. De facto, é quando os conflitos se despolarizam que se encontram as soluções. Mas, despolarizar, sendo uma arte muito antiga na teologia da Igreja, é também uma arte difícil, que não evita necessariamente conflitos. Atualizar as categorias com que se trabalha a hermenêutica teológica da tradição é condição insuperável para uma efetiva despolarização. Não se trata de “mudar a doutrina”, mas de a reler enquanto norma nutritiva, abandonando as formulações comprometidas com preconceitos socioculturais datados. Não se pode confundir verdade teológica com formulações sociológicas ou culturais 


Elizângela Carvalho Noronha

As ligações entre práticas espirituais-religiosas e o bem-estar das pessoas de mais idade vêm sendo investigadas a partir de diferentes domínios, desde a primeira metade do século XX. Em geral, esses estudos demonstram como hábitos ligados à espiritualidade e às diferentes religiões têm um efeito geralmente positivo na saúde e no bem-estar dos idosos, desde logo pela capacidade em criarem comunidades coerentes e de apoio. Ao percorrer lares, centros de dia, domicílios e instituições de apoio à população envelhecida residente no Concelho da Covilhã, verificou-se que os idosos buscam na vivência “mediada” da espiritualidade e da religiosidade a possibilidade de se manterem conectados à sua fé. Através dos media, as pessoas com mobilidade reduzida conseguem manter ativas as suas práticas espirituais e religiosas.    


Sara Castelo Branco

O artigo nasce a propósito de Ônfalo, exposição do artista Hugo de Almeida Pinho, patente na Brotéria, de 18 de setembro e  a 8 de novembro de 2025um trilho para uma descida encantatória ao centro da Terra, ao umbigo do mundo (ônfalo). Visitam-se o santuário e o oráculo de Delfos, casa de Apolo, e, depois Corycian, local de culto a Pã, o deus da natureza. Visitam-se as grutas de Mida D’Aire e o maciço de Morais e, ainda, o buraco de 12,2 quilómetros de profundidade perfurado pela URSS em 1992 no Círculo Polar Ártico. A humanidade sempre teve um anseio ancestral por abeirar-se do centro do planeta, lugar de revelação e de ocultação, ponto que organiza e une diferentes planos da existência, onde é narrado, encenado e organizado o poder do centro. Paralelamente, a evocação da vitalidade da conexão à terra favorece a iniciação ao descentramento pluricêntrico e fragmentado que caracteriza as nossas experiências e narrativas e de que precisamos. 


Filipa Belo

O artesanato tem regressado ao centro do discurso cultural; o saber-fazer tem sido redescoberto como património vivo. No artigo “Entre as mãos e a matéria: o saber fazer artesanal como património e arte”, publicado na Brotéria no número de maio/junho de 2025, Rita Jerónimo propusera uma leitura mais institucional, sublinhando a importância da transmissão intergeracional, da oralidade e do contexto na preservação dos ofícios, sublinhando os riscos de esquecimento, de folclorização, de perda do sentido comunitário. Entrando em diálogo crítico com a autora, adverte-se, aqui, que pôr o foco na salvaguarda gera o risco de fixar o que, por natureza, sempre foi móvel. A ideia de que existe um “modo certo” de fazer algo é, frequentemente, uma construção recente, consolidada por manuais, certificações, discursos normativos. Advoga-se que é preciso deixar de ver o artesanato como resíduo do passado e começar a vê-lo como infraestrutura do futuro. 


João Sarmento SJ, Catarina Ricciardi

Quando, em 2019, a Brotéria se mudou da sua antiga casa para a Rua de São Pedro de Alcântara, em Lisboa, empenhou-se em criar uma coleção permanente de arte contemporânea, consciente da importância de habitar um novo espaço em diálogo com a arte dos nossos dias. O objetivo nunca foi meramente estético e, menos ainda, de procura de valores decorativos. Quis-se levar ao seu máximo potencial as virtudes pedagógicas, existenciais, culturais, democráticas das obras de arte. Revisitando a história da constituição da coleção durante os últimos anos de atividade desta casa de cultura, identificam-se os princípios que têm balizado as escolhas e elencam-se algumas linhas de orientação positivas inatas à coleção. 


Dimensões
15 x 23,4

Nr de páginas
88

ISSN
0870–7618