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Volume 199 — 1, julho 2024

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Filipa Oliveira, Catarina Ricciardi, Paulo Pires do Vale

Por ocasião dos 50 anos do 25 de Abril, um tempo especial para pensar a liberdade também no contexto atual das artes, três curadores conversam sobre temas como as relações de mediação entre instituições culturais, artistas e público, o que podem ou não ser os constrangimentos na produção artística, a responsabilidade social na aproximação das artes e da cultura em geral da vida dos cidadãos ou a crítica de arte. Ofício de “mediação criativa”, defende-se a que a curadoria passe do fazer para ao fazer com, assumindo-se como prática mais horizontal.


Vasco Pinto de Magalhães SJ

Período habitual de férias, o verão fica as­sinalado este ano pelo Europeu de Futebol e pelo Jogos Olímpicos de Paris. Descanso e atividade desportiva tocam-se também como manifestações culturais e modos de estar na vida. Assim como nem todas as férias são descanso, nem todo o desporto faz descansar. Ambos pedem sabedoria na gestão dos tempos e dos modos de estar consigo mesmo e com os outros, com a na­tureza e com a própria transcendência. No agir olímpico, há dois aspetos sociocultu­rais que merecem atenção: a “trégua olím­pica”, como intenção de que a competição seja ocasião de paz; a tensão entre amado­rismo e profissionalismo, num tempo em que o ideal pedagógico do desporto e das atividades lúdicas vai sendo abalado por interesses como o sucesso ou a riqueza. Dar mais atenção a palavras como des-can­so e des-porto poderá ser uma boa prática: agir sem cansar, agir sem porte.


Rui Proença Garcia, António Camilo Cunha

Os Jogos Olímpicos são uma das maiores manifestações culturais do nosso tempo. Foram criados em 776 a.C., na Antiga Grécia, e retomados em 1896, após um interregno de 1600 anos. O renascimento dos Jogos por mão de Pierre de Coubertin leva-nos para o campo da utopia (o não lugar), da eutopia (o bom lugar) e da ucronia (o bom tempo). Para dar valor e sentido a estes Jogos foi necessário mitificar as suas origens, tornando a “Grécia” um bom lugar e o adjetivo “Antiga” um bom tempo. A Grécia Antiga, ainda que seja um lugar e um tempo imprecisos, assume o papel de reserva moral para o desporto, a sua “Idade de Ouro”, um lugar e um tempo onde se cultivava a felicidade através do desporto. A utopia, a eutopia e a ucronia são também lugares possíveis de transcendência desportiva.


Jorge Miranda

Nos anos 50 do século passado, a aspiração à democracia estava longe de se encontrar plenamente difundida ou, pelo menos, conscientizada entre os católicos portugueses. Os jornais que se diziam católicos apoiavam às claras o regime. A Igreja dir-se-ia permanecer numa espécie de era constantiniana, já que não estavam esquecidos os maus tratos de intolerância e de arbítrio dos tempos da I República. Ninguém parecia conhecer a mensagem do Papa Pio XII, do Natal de 1944, sobre a democracia. Contudo, já apareciam sinais de mudança. Com o Concílio Vaticano II iniciado, a encíclica Pacem in Terris viria a ter em 1963 um impacto enorme em todo o mundo, católico e não católico, assinalando o fim da desconfiança perante a proclamação dos Direitos Humanos e da democracia. Hoje, apesar dos terríveis problemas que avassalam o mundo, encíclicas como Fratelli Tutti e Laudato Si’ são motivo de enorme esperança.


Rita Sacramento Monteiro, Maria d'Oliveira Martins

A partir da leitura do livro “Desmasculinizar a Igreja?” Análise crítica dos princípios de Hans Urs von Balthasar reflete-se sobre as ideias que, aí, abrem novos caminhos. Considera-se que o livro vai além da questão das mulheres ou do seu acesso ao ministério ordenado e que desafia a uma reflexão ampla e aprofundada das relações eclesiais tendo em conta o anúncio do Evangelho. Exploram-se três temas principais: a (re)descoberta das mulheres e dos homens reais; o carisma da amizade como meio para realizar o sonho do Criador e cumprir o Evangelho; uma Igreja construída à luz da Páscoa. A partir do diálogo que suscitaram estas linhas, apontam-se caminhos para que as reflexões promovidas pelo Papa Francisco junto das estruturas da Igreja possam continuar nas comunidades eclesiais e traduzir-se na realidade.


Pedro Vaz Patto

Tomando em consideração o editorial do número de março de 2024 da Brotéria, e, no mesmo número, os artigos “Reformar a ética sexual católica” e “Abençoar o bem que existe”, fazem-se comentários críticos ao que aí é identificado como necessidade de revisão doutrinal. Às ideias de há que distinguir a substância do Evangelho das suas formulações historicamente condicionadas; de que «cuidar da doutrina implica revê-la» ou de que «sempre que a Igreja quis garantir a sua identidade combatendo e protegendo-se das mudanças culturais, perdeu e perdeu-se», contrapõe-se que há realidades históricas em que, pelo contrário, se espera da Igreja uma reação a mudanças culturais que não contribuem para o bem da pessoa e da comunidade. O testemunho e a ação da Igreja hão de ser contraculturais. Na Antiguidade e também na época contemporânea, a ética sexual é um dos âmbitos em que isso se verificou. Defende-se que hoje não deve deixar de ser assim.


Krishnakant Hegde Desai, Sabá Vicente Mesquita da Silva

Olha-se para o hinduísmo a partir de uma perspetiva histórica e examinam-se os atributos religiosos no contexto da existência de direitos humanos na Índia. Propõe-se uma análise dos textos religiosos para compreender como os direitos humanos estão enraizados em antigos conceitos indianos para influenciar o governo e os habitantes. As questões do sistema de castas e das atrocidades consequentes são compreendidas através das escrituras hindus e discute-se a reforma social durante a era britânica. É estudada a perspetiva moderna sobre os direitos humanos e a ascensão do hinduísmo, com uma referência ao budismo como alternativa. Analisa-se a capacidade do governo da Índia independente para favorecer a sua permanência como país secular, sendo constituído por uma maioria tolerante de indivíduos que seguem o hinduísmo. Para concluir, destaca-se a abordagem do hinduísmo a alguns dos desafios que, hoje, se colocam aos direitos humanos.


Pedro Valinho Gomes

Colocar a hipótese do perdão significa interrogar até às raízes a própria lógica da equivalência com que medimos as relações humanas: a amizade mas também a justiça, a política, a economia ou a educação. A lógica do perdão, se ele existe de facto e se chega a ser dado na vulnerabilidade ferida das nossas histórias, é a lógica do dom incondicionado e gratuito. A expressão matemática com que o evangelho cristão o traduz denuncia que a pergunta sobre quantas vezes se há de visitar o perdão, se até sete vezes, é desadequada. A questão urgente não é sobre a quantidade, mas sobre a necessidade e a possibilidade do perdão. 70x7 é hipérbole de uma paradoxal expressão que desconstrói as nossas questões pretensiosamente generosas de medir o perdão.


Dimensões
15 x 23,4

Nr de páginas
98

ISSN
0870–7618