O jornalismo lento é uma contradição em si mesmo, disse-me um dia uma chefia. Talvez seja só uma boa provocação. Será uma desnecessidade o uso do adjetivo, um afago à vontade de etiquetar o que produzimos com um nome academicamente validável, e uma farpa direta ao imediatismo e superficialidade da notícia de pavio curto. Jornalismo lento é uma lente através da qual ver o mundo: um complemento, feito em cima da atualidade, sem que o tempo seja um limitador. E é – contradição dos termos – uma urgência. Tenho horror e abomínio ao vazio. Assoberba-me a urgência de preencher todos os momentos da existência. Tenho uma sensação de atraso permanente, a certeza de chegar tarde e desinformada ao que o mundo já percebeu, digeriu e deitou fora. Uma reação física ao incessante apelo de atenção. Por isso, o que aqui se lê é, em grande medida, também uma reflexão sobre as minhas contradições.
Encarnação é o termo que diz o significado profundo do Natal. A sua atmosfera própria de quadra festiva e o ritual dos presentes que remete para uma economia do dom mimetizam o que há no Natal do dom de Si de Deus a humanidade. No entanto, um tal excesso do dom contrasta com o excesso do mal. As guerras, pandemias e crises climáticas, porque muito reais, não se apagam do cenário da quadra festiva, antes desafiam a sua consistência e interrogam a sua razão de ser. Abordamos assim a noção de encarnação, enquanto resposta a duas questões bíblicas, mas também filosóficas e existenciais: onde está Deus, quando o sofrimento dos seres humanos se torna insuportável?; quem e o homem, para que Deus se lembre dele? Questões permanentes sobre as quais a fórmula crista do mistério da encarnação «o Verbo de Deus fez-se carne» projeta a sua luz.
Num mercado mundial de trigo muito tenso, especialmente desde o início da guerra na Ucrânia, a Ásia desempenha um papel importante e crescente. Os dois principais países, a China e a Índia, são simultaneamente produtores e importadores. Outros países estão a ver o seu consumo aumentar devido à urbanização e à consequente mudança de hábitos alimentares. Esta nova situação põe em causa a política agrícola europeia.
O mais recente Relatório da Liberdade Religiosa, da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre Internacional, conclui que têm aumentado, não só as restrições à liberdade religiosa no mundo, como também a impunidade dos agressores que, em muitos casos, são os próprios Estados. A perseguição religiosa é um problema global e afeta praticamente todos os grandes grupos religiosos em várias partes do mundo, mas parece ser consensual que os cristãos são o grupo religioso mais perseguido em todo o mundo. Apresentam-se aqui os exemplos da China, Nicarágua, Iraque e Nigéria, para concluir com a menção à “perseguição educada” nos países ocidentais.
A relação entre imaginação e verdade cristã é tradicionalmente caracterizada pela desconfiança teológica: a imaginação é tida como uma faculdade que “inventa” e diverge da realidade, sendo suspeita de manipular a verdade em vez de a respeitar. Porém, se olharmos diretamente para o texto evangélico, reconhecemos que é a um esforço radical de imaginação que Jesus convida os destinatários do seu anúncio, pedindo-lhes que acreditem na verdade da sua pessoa, imagem visível do Deus invisível, que O dá a ver sem O representar. A fé em Jesus não é a confissão e a aplicação da Lei, um pacote de instruções morais e doutrinais, mas é a conversão à evidência desta verdade invisível que se irradia na carne da palavra e da história, santificando-as. Não mimética mas performativa, a imaginação evangélica é exposta no discurso parabólico como a forma cognitiva de uma fé que não dispõe da verdade mas põe a caminho para ela.
Numa época de tão desembaraçada valorização do corpo, donde nos virá aquilo que David Foster Wallace descrevia como a necessidade de «reconciliação dos seres humanos com o facto de terem um corpo»? A experiência de fé das primeiras comunidades cristãs, mergulhada no espanto da Encarnação, descobriu no corpo uma nova tenda do encontro onde, à imagem de Moisés, podemos falar com Deus «face a face, como um homem com um amigo» (Gn 33,11). O corpo, destemida incisão no tempo que a Palavra escolheu habitar, revela-se território de diálogo com a transcendência sob a sublime dignidade de durar, verdadeiro alfabeto de epifania. Decifrando-o, Agostinho desafiou-nos para o milagre de ser um corpo em que o descanso e a refeição, o júbilo e a comunhão, o vigor e a decrepitude, vulneráveis à beleza, nos convidam para a redenção. Que podemos nós hoje aprender com os textos de Agostinho?
José Mattoso faleceu em julho passado, deixando-nos uma obra e legado que moldaram decisivamente o que hoje sabemos e pensamos sobre a formação de Portugal, o passado medieval do nosso país ou até a identidade nacional. No presente ensaio, procura-se sumarizar o percurso da obra de José Mattoso. Para o efeito, segue-se o historial das publicações do medievalista e elencam-se algumas das ideias-chave dos seus trabalhos mais impactantes com vista a retratar a evolução de uma carreira de investigação multifacetada, que logrou a construção de uma imagem de conjunto da Idade Média portuguesa absolutamente revolucionária no âmbito da nossa historiografia.
Analisa-se a obra da artista plástica norte-americana Barbara Rossi, tendo como pano de fundo a pluralidade do contexto estético da segunda metade do século XX e a especificidade do conjunto de artistas radicados em Chicago que ficariam conhecidos como Imagistas de Chicago, aos quais o nome de Rossi é habitualmente
associado. São identificados os diferentes tipos de diálogos existentes com outras formas de expressão artística, como os Comics, e correntes de pensamento, em particular a que surge ancorada em Carl Jung, de modo a identificar a singularidade do procedimento criativo e o substrato espiritual que dele participa.
Toda a vida procurou uma palavra. É pouca coisa, é certo. Mas fazia-lhe falta. Por isso a procurava com obstinação. As biografias de Francisco de Assis, escritas pouco depois da sua morte, não contam como é que isto aconteceu. Não dizem como chegou à palavra radical da sua vida. Mostram-no já de palavra madura nos lábios. Aqui faz-se ao contrário. Silencia-se a palavra para vê-la ainda sem nome. Corre-se atrás dos vestígios que a vida de Francisco de Assis sugere, e arrisca-se uma narrativa. Este texto investiga o nascimento de uma palavra na vida de Francisco de Assis e o nascimento de Francisco de Assis nessa palavra. É um texto de Natal.
Dimensões
15 x 23,4
Nr de páginas
126
ISSN
0870–7618