Um Cristo sem feridas, uma Igreja sem feridas, uma fé sem feridas, não passam de uma ilusão diabólica. Com coragem e confiança no poder curativo e libertador da verdade, queremos tocar as feridas infligidas pelos membros do clero às vítimas
indefesas, nomeadamente crianças e adolescentes e, por conseguinte, à credibilidade da Igreja no mundo atual. O fenómeno dos abusos é apenas um aspeto da crise do clero como instituição, da crise da Igreja e da crise da fé. Esta crise só pode ser superada por uma nova perceção do papel da Igreja na sociedade contemporânea.
A recente apresentação do relatório da Comissão Independente de Abuso Sexual na Igreja (CIASE) em França, no passado dia 5 de outubro, constituiu uma explosão de verdade e de dor. Trata-se, contrariamente ao que por vezes se procura veicular, de um inquérito sério elaborado por uma comissão independente, pedido pelos bispos que concordaram em abrir, quase sem exceção, os seus arquivos diocesanos aos investigadores. Cada vez se ouvem mais vozes a pedir uma reforma fundamental do funcionamento da Igreja. O sínodo sobre a sinodalidade, que iniciou no passado mês de outubro, com os seus três verbos chave encontrar, escutar e discernir, poderá ser mais um importante passo para esta reforma profunda e necessária para todos.
A 26 de Setembro de 2021 tiveram lugar, como previsto, as eleições autárquicas. E apesar das ações de sensibilização oficiais, designadamente garantindo a segurança do acto de votar num quadro ainda pandémico, apesar também do esforço criativo de muitos candidatos, novamente a abstenção saiu à rua num dia assim… A abstenção é o não exercício, voluntário ou não, do direito de voto; a diferença entre aquele que seria o valor máximo de participação se todos votassem (100%) e a taxa de participação real. E em Portugal, desde 1975, a tendência generalizada é de queda dos níveis de participação.
Entre 28 de abril e meados de julho, a Colômbia viveu um intenso período de protestos. Os mais concorridos e prolongados da sua história recente. Como explicar este fenómeno social? Qual é o pano de fundo da recente situação colombiana para analisar estes protestos? Que desafios e oportunidades abre esta Greve Nacional para a democracia colombiana?
A pandemia do Covid-19 despertou consciências e alertou, pelo menos por algum tempo, a comunidade mundial para a importância da vida em comum, da corresponsabilidade de uns pelos outros e da preservação do nosso planeta. Não obstante o quadro da segurança social obrigatória que abarca a generalidade dos trabalhadores, as Associações Mutualistas continuam a desempenhar atividades de grande relevo num espaço próprio, assegurando meios complementares de proteção social e importantes complementaridades na área da saúde.
A morte é atualmente um tema tabu, sobre o qual não se fala ou não interessa falar. Mesmo neste período de pandemia, em que morreram milhões de pessoas, até ao momento cerca de 18 mil em Portugal, não se falou da morte. Falou-se de número de mortos, de estatísticas, das causas e dos efeitos, mas não da morte. A morte é cada vez mais relegada para o espaço privado, para o anonimato, para a solidão. As despedidas fazem falta. E a sua falta foi sentida de um modo especial e até de modo violento neste período de pandemia. A despedida dá sentido à vida, do que parte e do que fica. É diante do outro, daquele que nos conhece, que temos a necessidade de escutar e dizer: valeu a pena! Nós precisamos de sentir que temos significado para o outro, precisamos desta consolação que é lugar de descanso.
As ilhas do arquipélago da Madeira figuram, em representação assaz correta, no mapa de Dulcert datado de 1339. Os nomes por que são ainda hoje conhecidas (Madeira, Porto Santo, Desertas e Selvagens) aparecem no <em>Libro del Conosçimiento de Todos los Reynos</em>, redigido em meados do século XIV por um franciscano espanhol. Embora não tenha sido ocupado por nenhum reino cristão, por óbvias razões geográficas, devia ser frequentado sobretudo por lenhadores e pescadores portugueses, razão por que a partir do mapa de Pasqualino datado de 1408 passa a ser
designado pelo nome português Madeira. Por conseguinte, nem Madeira nem Porto Santo andaram alguma vez perdidas! Isso não invalida que, como quer Zurara, Tristão Vaz Teixeira e João Gonçalves Zarco, no regresso de Ceuta, após levantado o cerco que os mouros lhe haviam posto, tenham sido arrastados pelos ventos para ilhas que, pessoalmente, não conheciam ainda. Seja como for, não se lhes pode sequer atribuir o seu redescobrimento, mas tão somente o seu povoamento.
O <em>iter</em> criador de José Augusto França, que faleceu no passado dia 18 de Setembro, manifestou-se de formas variadas ao longo de largas décadas, desde os primórdios surrealistas em tempos de juventude, passando pelo expatriamento em Paris e posterior regresso, completada a formação académica, para intervir profundamente ao nível das instituições do Portugal democrático, com destaque para a Universidade Nova, da qual foi um dos fundadores, para o município lisboeta e para a Fundação Gulbenkian, onde serviu em cargos da mais alta relevância. Foi historiador, crítico de arte, sociólogo, olisipógrafo, ensaísta, romancista e, sobretudo, historiador de arte. O seu papel foi determinante para a criação da primeira licenciatura e do primeiro mestrado de História da Arte em Portugal.
O poeta Fernando Echevarría deixou-nos no passado dia 3 de Outubro. A sua inspiração não provinha da ciência ou de
qualquer musa, mas de uma ruralidade sagrada. O louvor que toda a natureza encontra nos seus versos, irradia da luz pura, “material”. A sua obra parece ouvir a voz do Criador, revelando-se no hino das criaturas. Pela formação filosófica e teológica, ficou-lhe o traço da especularidade contemplativa, a procura incessante datranscendência. Os milhares de poemas que nos deixou convergem para a <em>Sacra Pagina</em>, expressão utilizada na Idade Média, não só para significar a Bíblia, mas também, inseparavelmente, o estudo da Escritura, com as ferramentas da gramática, retórica, dialética e filosofia, isto é, as letras e as artes. A Poesia representa, para Fernando Echevarría, o livro. É do húmus dessa obra que a palavra do poeta fala,
não de um livro a haver, mas de um livro já escrito.
Dimensões
15 x 23,4
Nr de páginas
88
ISSN
0870–7618