Na atualidade, crise não é um conceito inócuo. Crises são, hoje, momentos, conjunturas negativas ou alterações que desembocam em momentos negativos. O alargamento do seu uso traz consigo o empobrecimento do seu significado. Crise deixou de poder significar um momento ativo de reflexão, de incluir a ideia de decisão e julgamento que o seu significado primeiro continha. Propõe-se, por isso, uma nova definição de crise: um evento, momento ou conjuntura de viragem, caracterizado por instabilidade e insegurança, conflito e disputa, sendo estes que originam a mudança ou a alteração e ditam o seu fim. Se as crises fazem parte das nossas vidas e dos trajetos que percorremos como sociedades e se são momentos tensos, pela instabilidade e ambiguidade que incluem, são também momentos de decisão que geram mudanças. Por isso, são oportunidades. É essa a natureza do conceito de crise que importa resgatar.
Em 2023, a Brotéria quis expor-se a um caminho de procura e de projeção de luz, no estado atual do mundo, sobre lugares, pessoas e modos de vida que sejam bons e transformadores. Mais do que resolver temas, interessa-nos construir um modo de encarar a realidade que seja capaz de abrir caminhos de vida nos tempos incertos que vivemos. Cultivar a atenção, promover e mostrar bons lugares – eutopoi – foi o desejo que nos moveu, cientes de que a luta por melhorar o nosso mundo é lenta e acidentada. Passado um ano de portas abertas e de trabalho diário em comum, de conferências, cursos, exposições, artigos e de tanto mais, destacamos algumas notas que foram ganhando substância nesta busca por elementos concretos de esperança e por lugares portadores de bem e de bondade. O balanço que fazemos confirma-nos no propósito original e continua a implicar-nos.
O Nagorno-Karabagh, território quase exclusivamente povoado de arménios, mas que a vizinha república do Azerbaijão revindica, foi recentemente objeto de notícia devido à catastrófica situação humanitária causada pela ocupação do território por forças do Azerbaijão e que levou a que dois terços da sua população buscassem asilo na Arménia. O problema arrasta-se há já mais de um século, mas continua a não haver quem lhe busque solução equitativa. A situação criada fez despertar as Nações Unidas, levando-as a enviar ao território uma missão humanitária. Porém, a solução política tarda. Começando pelos factos mais recentes, passa-se em revista a conturbada história deste enclave desde o século XIX e ao longo do século XX, a começar pelo primeiro conflito entre arménios e turcos, passando pelo período do domínio soviético, até à situação dramática dos nossos dias. Defende-se a autodeterminação como única solução justa.
Desde há 13 anos que a economia chinesa tem vindo a abrandar, revelando o esgotamento do seu modelo de crescimento. Nos últimos tempos, a guerra comercial com os Estados Unidos, a pandemia e a política chinesa de “Covid zero” tiveram consequências negativas significativas para a sua economia. A China poderá estar, hoje, à beira de uma temida deflação, situação em que se consome e investe menos na expetativa de preços futuros mais favoráveis, desencadeando, assim, uma dinâmica de enfraquecimento gradual da atividade económica. As repercussões estão a ser sentidas em todo o mundo. Neste quadro, pretende-se avaliar a situação atual do gigante asiático, abordar as suas perspetivas e refletir sobre as suas possíveis consequências geopolíticas.
Há muito tempo que os relatórios sobre a empregabilidade apontam no sentido de os vários sectores da economia necessitarem de trabalhadores que dominem não apenas competências técnicas mas também competências pessoais e sociais. Chamada a colaborar, a escola vê-se em mãos com uma tarefa para a qual não está inteiramente preparada, além de, paralelamente, se lhe atribuir papéis que são contrários a essa tarefa. Mas o problema maior está na própria sociedade, que tem evoluído de um modo que torna mais difícil proporcionar aos mais novos contextos que lhes permitam desenvolver habilidades pessoais e sociais. A urgência de discutir este assunto é tanto maior se tivermos em conta o contributo que poderá dar para abordar outro problema atual: a saúde mental dos jovens.
A leitura do “Relatório de Síntese” saído da primeira sessão da XVI Assembleia do Sínodo dos Bispos dedicada à sinodalidade pode gerar perplexidade, já que ao “Instrumento de trabalho” prévio seguiu-se um outro “Instrumento de trabalho”. Deliberações em vista de decisões são reenviadas para a próxima sessão. Se a identificação de um grande “estaleiro de trabalhos em curso” não é em vão, impõe-se uma mudança de estilo e uma lógica sinodal diferente, porque, sem decisões, correr-se-ia o risco da indeterminação e da dispersão. A procura do máximo consenso poderia traduzir-se em efetiva irrelevância. À abordagem sapiencial da escuta – necessária mas não suficiente – e de enumeração de questões e problemas, importará assumir o rasgo profético de apontar numa determinada direção; para criar consenso sobre pontos delicados mas decisivos, será preciso avançar razões fortes e convincentes. Neste exercício de “caminhar juntos”, contributos competentes e audazes no plano teológico, canónico e pastoral serão indispensáveis.
Em forma de diário escrito durante a última semana do calendário litúrgico da Igreja Católica, entre o domingo de Cristo Rei e o início do advento, destacam-se alguns limiares e reflete-se sobre outras tantas passagens que hoje se colocam às igrejas, concretamente entre nós. Expostas aos ventos de mudança que sopram neste tempo, importará que se recoloquem no eixo da vida e das vidas reais, tal como são, porque o caminho de uma minoria profética quer-se em direção ao centro da existência, às questões e inquietações fundamentais, às mais essenciais; que se exercitem na arte da escuta desassombrada e humilde e que a tenham como forma elementar de anúncio do Evangelho; que cultivem a tradição pelo ofício da tradução e levem a peito a palavra franca, corajosa e livre; que se distingam pela arte de bem celebrar.
Propõe-se um percurso pela atividade cultural e artística desenvolvida no ano de 2023 na região norte de Portugal, alicerçado em dois eixos de trabalho, o eixo das exposições-investigação e o das exposições-paisagem, na tentativa de identificar traços marcantes dessa atividade. Apresentam-se, sem preocupação de exaustividade, casos de exposições, publicações e outros projetos expressivos da vida das instituições que atuam no campo cultural, fora dos circuitos com maior visibilidade.
Dimensões
15 x 23,4
Nr de páginas
120
ISSN
0870–7618