Qual será o futuro do cristianismo e que forma poderá tomar a Igreja do futuro, é a interrogação que coloca T. Halík no seu mais recente livro: A tarde do cristianismo. O tempo da transformação. A imagem impactante das Igrejas fechadas e vazias que ficou dos tempos de confinamento é interpretado como grande sinal de alerta para o que pode acontecer à Igreja num futuro próximo se não souber colher o alcance profético deste tempo de crise. Enquanto limiar de uma nova época para o cristianismo, apresenta-se, de facto, como oportunidade de transformação significativa para a Igreja. Porque a forma gregoriana-tridentina deixou de estar adaptada à conjuntura presente, urge implicar-se no discernimento de outra forma que esteja à altura da força espiritual do Evangelho e da exigência da missão da Igreja.
9 de dezembro é Dia Internacional da Luta Contra a Corrupção. Numa sociedade respeitadora da moral e do direito, compreende-se que haja uma preocupação especial com o tema da corrupção e com a necessidade de haver regras claras e mecanismos eficazes para a defesa e salva-guarda do interesse público e do bem comum. Prevenir a corrupção significa não cair na ilusão da invulnerabilidade e criar mecanismos de permanente avaliação dos riscos e assumir plenamente a transparência e a responsabilidade cidadã, como modo de respeito integral pela dignidade da pessoa humana. Só pela prevenção será possível armarmo-nos contra a corrupção e salvaguardarmos o bem comum e o serviço público.
Sente-se hoje um certo cansaço com a política num quadro liberal, até nos Estados Unidos, país que tinha sido poupado às derivas totalitárias europeias antes da II Guerra Mundial. As sociedades democráticas estão a perder terreno para as sociedades onde vigoram regimes autoritários, se não mesmo ditatoriais. Os custos que a liberdade política acarreta para a vida quotidiana das pessoas será uma das causas. Também se poderá falar de um certo cansaço com os debates e as divergências que marcam a democracia pluralista, lugar onde chocam opiniões contraditórias. A isto se junta algum alheamento do debate público por parte de quem não está na vida política, que as querelas partidárias tendem a favorecer. Não seria mais cómodo o cidadão comum depositar a sua confiança em políticos autoritários, que tratariam da res publica, libertando os restantes desse penoso encargo? Importa ter presente que quem preza a liberdade deve estar disponível para pagar os custos que lhe são inerentes.
O Documento de trabalho para a Fase Continental do Sínodo dos Bispos sobre Sinodalidade (2021-2024) é fruto das sínteses que resultaram da consulta ao povo de Deus na primeira fase do processo sinodal e passará a ser, agora, o centro da escuta, do diálogo e do discernimento das Assembleias sinodais continentais, entre janeiro e março de 2023. A primeira parte do Documento é dedicada aos frutos da experiência de caminho em comum; a segunda parte, mais desenvolvida, aprofunda intuições, interrogações e questões que emergiram durante a escuta; a terceira parte assinala os passos identificados para que as Igrejas locais possam assumir um estilo sinodal.
O que significa perdoar diante da realidade devastadora dos abusos sexuais cometidos na Igreja? A crise que ela atravessa impõe uma reflexão séria sobre como vivemos e entendemos o perdão, sobretudo, no contexto cristão. Apesar de ser uma palavra que escutamos com frequência, nem sempre a entendemos da mesma forma. Para uns, trata-se um dever moral cristão, para outros, implica o arrependimento, para outros ainda, significa esquecer ou compreender e acolher o pecador. Neste artigo, procura-se trazer alguma claridade a esta dimensão essencial da fé cristã, para refletir, depois, sobre a possibilidade do perdão na e da Igreja face ao escândalo dos abusos contra menores.
Para compreender a “operação militar especial” de Vladimir Putin contra a Ucrânia, seria fundamental entender a doutrina eurasiana do seu principal ideólogo, Alexandr Dugin, e de que modo se constrói a memória coletiva, instrumen-talizando religiões e sentimentos. A progressiva reabilitação da Igreja Ortodoxa Russa, exponenciada durante a Segunda Guerra Mundial, durante o consolado de Estaline, abre azo à usurpação da sua autonomia, colocando-a ao serviço dos interesses do Partido, especialmente no que toca ao topo da hierarquia episcopal. Daí surge a recuperação da figura de Estaline, análoga à do filho pródigo, que reconhece os seus erros e a casa torna, ao seio eclesiástico, findando as perse-guições e dando-lhe aparente liberdade de novo.
«Oh bless thee continuous stutter / of the word being made into flesh» [«Oh abençoado sejas, contínuo gaguejar / da palavra tornando-se carne»]. Nestes versos de Leonard Cohen, surpreende-se uma estranha relação entre o gaguejo e o mistério da Encarnação. Partindo das suas palavras, tecem-se breves excursos, arriscando aproximações a esse verbo balbuciante, gaguejante, que delira ao fazer-se carne. Pensar este delírio e as suas consequências talvez abra uma forma possível de ir entrando, gaguejantemente, neste tempo de Natal.
Dimensões
15 x 23,4
Nr de páginas
120
ISSN
0870–7618