O motivo do artigo é dado pela recente publicação, por parte do Centro Nacional de Cultura, de uma coletânea de cinquen-ta artigos dos membros do MRAR, Movimento de Renovação da Arte Religiosa, quando se assinalam setenta anos do seu surgimento. Destaca-se a cada vez maior compreensão da aventura histórica e intelectual desse movimento em favor da honestidade da linguagem artística da Igreja em Portugal, em contracorrente com uma certa estagnação eclesial e cultural vivida, então, à sombra do Estado Novo. O propósito de fundo do ensaio visa acolher alguns conteúdos acerca da arquitetura e das artes na Igreja do espírito e da vitalidade do MRAR e, a partir daí, interpelar o ponto em que hoje nos encontramos.
No calendário litúrgico cristão-católico, novembro é assinalado por dois grandes momentos, a Solenidade de Todos os Santos e a Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos. O sentido pleno da vida – a santidade –, realizado na existência de uma “multidão imensa”, é motivo bastante para que se celebre na alegria e na festa. A essa luz, a morte como passagem, e não como fatalidade, é razão para fazer memória de todos os que nos precederam e considerar, na responsabilidade e na esperança, a passagem última que também tocará a nós. Em quem nos tornamos, por graça e por empenho, entre as promessas do nascimento e a passagem da morte, toca a fé religiosa na bondade da origem e na eternidade do destino da vida, sem deixar de desafiar o pensamento sobre o que nos torna mais humanos.
Entre os dias 13 e 15 de setembro, teve lugar, no Cazaquistão, o Congresso de Líderes de Religiões Mundiais e Tradicionais. A participação do Papa Francisco está as-sociada à importância que dá ao envolvi-mento dos líderes religiosos na promoção da paz e vem na linha dos encontros de Assis, numa altura em que o apelo à paz é ainda mais premente. Apesar do que di-zem os seus críticos, a ida de Francisco ao Cazaquistão não enfraquece, mas, antes, reforça a sua qualidade de líder da Igreja católica, sobretudo se entendermos esse cargo como estando ao serviço da humanidade, e não apenas de uma confissão religiosa. O dado é ainda mais evidente à luz da ausência do Patriarca de Moscovo.
Para compreender em que medida a alternância partidária pacífica no poder em Angola ficou mais ao alcance do eleitorado com os resultados das eleições de 24 de agosto de 2022, tecem-se algumas considerações acerca dos desafios para a consolidação da Democracia, defendendo-se que o reforço do Estado local será fundamental para a realização deste objetivo. Analisam-se os resultados eleitorais e as tendências em termos de alinhamentos partidários, tendo em conta as clivagens rural-urbano e capital nacional-capitais de Províncias, diferenças geracionais na sociedade e no partido no poder e as disfuncionalidades do Estado. Destaca-se como os mesmos resultados confirmam o res-sentimento por parte de vastos segmentos do eleitorado face ao fracasso do projeto político, por parte do partido no poder, de construção de um Estado que garanta a realização do contrato social.
A secularização tem levado, nas sociedades ocidentais, a uma consciência crescente de que o espaço público e a crença religiosa pertencem a esferas distintas. Tal separação espelha-se, de modo particular, na diluição do imaginário coletivo cristão da vida-depois-da-morte, com a consequente transformação da relação do ser humano com a liturgia, a dinâmica dos funerais, e, de modo ainda mais fundamental, com a própria finitude e a morte. Neste quadro, procuram-se novas possibilidades, não só terminológicas, mas existenciais, para o que significa “estar diante da morte”. Recorrendo aos exemplos de Etty Hillesum e Dietrich Bonhoeffer, explora-se, em concreto, o processo de amadurecimento da liberdade interior, sintetizado na expressão “martírio em potência”, como fruto da virtude cristã da esperança.
Num momento de graves pressões por via dos abusos sexuais e do próprio exercício pastoral, de que a exaustão e a saúde mental de muitos pastores são reflexo, coloca-se a atenção no ministério do presbiterado, pondo em questão um certo modo atual de procurar atualizar a sua identidade e o seu exercício. Partindo da mudança de perspetiva global a partir da qual se tende a olhar para ele, recorre-se à imagética da obra clássica Rei Édipo e propõe-se uma chave de leitura distinta, o princípio da relatividade geral, visando potenciar novas ponderações. No pano de fundo do artigo está presente a interpretação do clericalismo como sintoma de um mal-estar geral face ao sacerdócio ministerial e não como uma doença em si mesma.
A edição de 2021 do Prémio Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes foi atribuída ao teólogo João Manuel Duque, professor catedrático da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa. Depois de evocar a razão de ser do prémio, instituído pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, e a inspiração matricial que vem da figura e legado do Padre Manuel Antunes, faz-se a resenha das personalidades distinguidas e das respetivas obras, desde a primeira edição, em 2005. Sobre o prémio atribuído a João Manuel Duque, destaca-se a valorização simbólica da elaboração de uma teologia universitária em permanente atenção ao debate cultural contemporâneo e o reconhecimento da importância do trabalho da Faculdade de Teologia da UCP para a vida da Igreja Católica, tanto na formação dos líderes eclesiais, como na reflexão crítica sobre as dinâmicas culturais do nosso tempo.
A exposição Le reste est ombre, no Museu Pompidou, Paris (8 de junho – 22 de agosto), de Paulo Nozolino, Pedro Costa e Rui Chafes dá a oportunidade e provoca a reflexão sobre a verdade das imagens na arte. Quando tratam a violência, o sofrimento ou a morte, se forem verdadeiras, geram diálogo com o espectador. Não oprimem quem vê nem banalizam o tema que tratam, mas são capazes de implicar – quem vê, vê-se visto – e de gerar pensamento. Purificar as noções do visível, do dizível e do pensável das imagens é quanto é feito nesta exposição: os artistas desvendam uma visibilidade que não obriga a nada. Recorre-se à noção de imagens encarnadas, de Marie-José Mondzain, para fazer entrar na visão mais radical daquilo que a própria representação é capaz, refletindo acerca dos pressupostos da constituição do ver em arte.
Dimensões
15 x 23,4
Nr de páginas
112
ISSN
0870–7618