Neste período particular e atípico, é inevitável que se imponha uma reflexão acerca do momento global que atravessamos e no qual passámos a lidar quotidianamente com as dinâmicas do medo e da incerteza. A convivência com uma ameaça invisível, a demonstração da instabilidade dos sistemas e as alterações à forma como nos relacionamos voltaram a expor a vulnerabilidade da condição humana.
Convidada pela Ci.Clo a participar como curador na Bienal de Fotografia do Porto ‘21, a Brotéria convidou quatro artistas a abordarem com o seu trabalho esta acentuada relação com a fragilidade da própria experiência.
A exploração visual destas tensões entre vulnerabilidade e resiliência, solidez e fragilidade, luz e escuridão, morte e vida, este espaço aparentemente místico que oscila entre a força e a delicadeza tem uma longa história e uma simbologia recorrente. A tradição dos memento mori na pintura é composta pela representação dos objetos que remetem para a precariedade da vida - “lembra-te de que és mortal” - dizem a ampulheta, os vasos de vidro, as flores em decomposição.
Como que numa reinterpretação contemporânea destes símbolos, Alexandre Delmar, Catarina Botelho, Carla Cabanas e Duarte Amaral Netto mostram nesta exposição uma imersão sensível na abordagem estética da fragilidade e no próprio significado do sentir humano.
Através de imagem fotográfica, vídeo e som, podemos navegar esta antologia de sentires e alegorias, desenhados que são a partir da matéria do efémero, traçando um glossário de resiliência, detritos do dilúvio do tempo.
Alexandre Delmar
Adagiário ou formas de falar com pássaros
O ensaio fílmico-fotográfico Adagiário ou Formas de Falar com Pássaros apresenta a natureza frágil e resiliente das matérias, procurando um mapeamento ficcionado e tensionado do real. Este adagiário não procura revelar ou ocultar, mas potenciar um léxico que evoque possíveis compreensões do modo como somos e habitamos o tempo e o espaço. Talvez, com ele, seja possível comunicar com os pássaros.
Catarina Botelho
das barricadas pode-se ver a cidade
Registo de estruturas de resistência, ocultação e organização de terrenos reclamados para a agricultura de subsistência de pequena escala nos centros urbanos, das barricadas pode-se ver a cidade reflete uma temporalidade adversa ao projeto de cidade neoliberal, pensando a invisibilidade, o gesto anónimo de criação, e a relação entre espécies humana e vegetal.
Carla Cabanas
In an infinite blow
Entre o infinitamente grande do Cosmos e o infinitamente pequeno do quotidiano, In an infinite blow simula um percurso pelas observações do espaço do telescópio Hubble, substituindo as estrelas por fragmentos de fotografias de um álbum de família. Esta sucessão de imagens a partir dos vestígios materiais de outras imagens, investiga a relação entre a nossa vida (emocional e física) com o nosso posicionamento no universo.
Duarte Amaral Netto
The End of an Ear
Apropriando-se do título do primeiro álbum de Robert Wyatt a solo, The End of an Ear reflete a incógnita do momento presente, a incerteza do fim anunciado de uma era, e do princípio de uma outra que se avizinha sem se deixar ainda vislumbrar.
UMA MÍSTICA DA FRAGILIDADE é uma exposição integrada na Bienal de Fotografia do Porto’21, realizada em co-produção entre a Brotéria e a plataforma Ci.Clo.
Direção Brotéria
Francisco Mota SJ
Galeria
João Sarmento SJ
Curadoria
Brotéria e Matilde Torres Pereira
Comunicação e Design
Benedita Pinto Gonçalves
Manuela Abreu Peixoto
Produção e montagem
João Sarmento SJ
Matilde Torres Pereira
Vinis
Logotexto
Direção artística Ci.Clo
Virgílio Ferreira
Produção
Marta Huet Rocha
Teresa Nunes
Comunicação
Marta Huet Rocha
Direção de arte e design
Joana Pestana
Edição, revisão e tradução
José Roseira
Impressões
Lumen