No princípio era o Verbo. No princípio Deus criou o céu e a terra. O temor do Senhor é o princípio da Sabedoria. Vós conheceis aquele que existe desde o princípio. Eu sou o Alfa e o Ómega, o Princípio e o Fim. Entre Génesis e Apocalipse, as Escrituras encontram-se repletas de referências à origem — das coisas e das palavras que a narram.
No princípio, os Padres da Igreja empenharam-se com assinalável obstinação numa leitura atenta dos três primeiros capítulos do Génesis, modesto conjunto de versículos que, pela sua (aparente) simplicidade, talvez não justificasse tamanha minúcia interpretativa. Essa atenção meticulosa originou um vasto e peculiar corpus literário que condiciona ainda hoje a maneira como, na “língua da fraternidade e da beleza” (Laudato si’ 11), nos relacionamos com a sacralidade do mundo, com a bondade da criação, com a beleza dos corpos e com a aventura do tempo enquanto princípios da nossa presença no mundo e do “desejo de beleza do Artífice” (Laudato si’ 103).
Revisitar esse corpus e alguns dos seus autores significa descobrir, sob o despojamento da linguagem bíblica, o desafio de algumas das mais difíceis questões a que, de Dante a Milton, a humanidade tem procurado responder: o princípio tem um começo? E, antes desse início, o que existia? O que significa começar?
Falemos, pois, de princípios.
Programa
Dia 1 — O Génesis e os princípios da narração
Dia 2 — Influências gregas nos comentários ao Génesis
Dia 3 — Fílon de Alexandria e Basílio de Cesareia
Dia 4 — Agostinho de Hipona
Paulo Ramos
(Lisboa, 1972) — ao longo do seu percurso académico (Licenciatura e Mestrado em Estudos Clássicos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), tem desenvolvido a sua investigação na área da Patrística Latina, sobretudo Tertuliano e Agostinho, bem como na da transmissão do texto bíblico nos primeiros séculos da Igreja. É investigador do Centro de Estudos Clássicos da Universidade de Lisboa onde prepara neste momento a tradução e edição dos tratados hexamerais de Santo Agostinho. Simultaneamente, é o responsável pela tradução de Tomáš Halík, Josep Maria Esquirol e Timothy Radcliffe.