Embora persista a ideia de que a arte contemporânea é inacessível e elitista, intrinsecamente, não o é. Tem potencial para ser inclusiva, desde que sejam feitos esforços para lhe abrir caminho, mediar, interpretar e envolver. Ao ultrapassar as barreiras da falta de familiaridade, do conteúdo desafiante e do elitismo, a arte contemporânea pode tornar-se numa forma de expressão artística mais acessível e enriquecedora. É possível colmatar o fosso entre o mundo da arte contemporânea e aqueles que anteriormente o consideravam assustador, mas é importante também que as instituições culturais entendam que trabalhar para a acessibilidade não é um esforço dos visitantes, a quem caberia toda a obrigação de conhecer e de visitar os incríveis e importantes conteúdos que a instituição tem para oferecer. É essencial ouvir esse público, ouvir antes de falar, e aprender a tornar as instituições culturais relevantes nas vidas das nossas comunidades.
O passado dia 4 de outubro, dia da memória litúrgica de Francisco de Assis, foi assinalado por dois acontecimentos de grande alcance para a Igreja Católica e não só. Depois da encíclica Laudato si’, de 2015, sobre «o cuidado da casa comum», o Papa Francisco publicou, agora, a exortação apostólica Laudate Deum, sobre a crise climática. Deixarmo-nos afetar por tal crise e movermo-nos a agir de tal modo que os efeitos da nossa ação sejam compatíveis com a permanência de uma vida autenticamente humana sobre a Terra, emerge como dever ético, individual e coletivo. Nesse mesmo dia, teve início a sessão da Assembleia do Sínodo dos Bispos sobre sinodalidade, marco de um processo amplo e prolongado no tempo de auscultação na Igreja Católica, iniciado em 2021. Em jogo estão, desde logo, os temas da autoridade, do exercício do poder, da participação ativa de todos os batizados na vida da Igreja.
Contrariamente ao que, por vezes, se possa crer, a globalização dos mercados não é homogénea nem espontânea. Ela tem um início, tem uma história e é importante ter presente que poderá acabar por ser causadora de desastres ecológicos. Qual é o futuro viável da globalização? Que instituições globais permitirão trabalhar nele de forma promissora? Estas são algumas das questões colocadas neste artigo, depois de se percorrerem as principais etapas da globalização e de se identificarem grandes desafios ecológicos com que, hoje, se confronta.
As sociedades liberais valorizam o ideal da autenticidade, mas tal valorização entra em tensão com os próprios ideais liberais e democráticos: a procura da autenticidade contribui frequentemente para situações de conflito em que os indivíduos procuram evitar a uniformização por vezes requerida pela política pública educativa. O filósofo Charles Taylor proporciona uma análise que pretende harmonizar estes dois ideais ao propor a noção de «horizontes partilhados», alicerçada na ideia de que a própria autenticidade, procurando reconhecimento, é uma realidade dialógica. Ao comentar as suas ideias sobre autenticidade, especificamente sobre educação, procura-se relevar o que é mais profundamente problemático em litígios de famílias contra o Estado, a propósito de propostas de educação para a cidadania, como sucede um pouco por todo o mundo. Dão-se como exemplos casos ocorridos em Portugal e no Quebeque.
Em geral, as crianças pobres e as crianças ricas não vivem a vida lado a lado. Será que se andassem na mesma escola, teriam uma vida diferente? Como um grupo de peixes que seguem juntos na mesma direção, poderiam puxar-se uns pelos outros para obterem melhores resultados escolares, rumo à universidade, e conseguirem melhores ordenados em adultos? Ironicamente, a palavra inglesa para cardume é school. Neste texto, olhamos para os efeitos que podem ter em nós os colegas de escola, o sítio onde nascemos, a classe social a que pertencemos, os amigos que temos e as pessoas que conhecemos. Pensar em formas de mesclar pessoas de contextos sociais diferentes pode ser um dos caminhos para sair da pobreza, numa sociedade europeia dividida e envelhecida.
No Concílio Vaticano II, a categoria “Povo de Deus” colocou os “leigos” no centro do debate teológico e canónico na Igreja Católica. Ultrapassava-se uma conceção piramidal, centrada nos graus do ministério ordenado, percebidos como emanação descendente da suprema potestade do Romano Pontífice. Rompendo com a tentação do clericalismo, profundamente enraizada na Igreja, pode cair-se, porém, na ideologia inversa de um “laicismo” exacerbado. O propósito deste ensaio é o de abrir horizontes, convidando leigos e pastores a aprofundarem o seu lugar, com as respetivas responsabilidades e prerrogativas, numa Igreja que se quer verdadeiramente casa para todos. Se pode ser alvo de um preconceito antijurídico com raízes antigas, o direito da Igreja, como ciência prática que é, abre possibilidades para testar proclamações de princípios, experimentar estruturas, motivar e estimular a própria reflexão teológica.
A noção de consciencialização dá conta de um processo de compreensão de sistemas de opressão através da partilha de experiências pessoais de membros de determinado grupo social oprimido ou marginalizado. Central à prática feminista e transversal a outros movimentos liberatórios, a noção de consciencialização pode ser expandida para dar conta da passagem de um certo estado de ininteligibilidade perante determinada experiência para um tipo de compreensão que produz um sentido de libertação no sujeito. Para ilustrar esta ideia, recorre-se ao filme A Voz das Mulheres, de Sarah Poley, bem como às reflexões de Wittgenstein sobre processos de aprendizagem de linguagem em Investigações Filosóficas. Através da identificação de uma noção de entendimento pré-discursivo em Wittgenstein, propõe-se uma associação entre filosofia, educação e consciencialização como práticas cujo potencial emancipatório está intimamente ligado ao seu caráter comunitário.
A expansão portuguesa teve inúmeras motivações, particularmente de índole política, económica ou científica. A essas, acrescentam-se as missionárias, com a consequente necessidade de enquadrar a ação da Igreja nas regiões recentemente alcançadas. Aqui se insere a questão do direito de padroado concedido por Roma à Coroa portuguesa, ou seja, o conjunto de privilégios, associados a determinadas obrigações, que a Igreja concedia aos fundadores de igrejas, capelas ou benefícios, e que estará no centro de uma história longa e complexa protagonizada por Portugal e pela Santa Sé. Pela concessão do direito de padroado, os reis de Portugal tornaram-se os primeiros responsáveis pela evangelização dos territórios conquistados ou recém-descobertos e pela organização e manutenção das igrejas locais. Na história longa do Padroado português, podemos distinguir a fase da delegação, a fase do conflito e a fase da negociação.
Gris, Vide, Cris foi um projeto que começou em Paris, em 2018, e que terminou com a sua reedição numa exposição adaptada ao lugar da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. O seu desejo não foi o de tentar criar, através de dois artistas, um lugar encenado por motivos gerais de concordância entre os trabalhos. Como quem junta obras de arte por naipes, fazendo um conjunto de semelhanças e continuidades. A intenção foi, antes, possibilitar uma espécie de encontro-tese sobre a própria escultura e a sua potencialidade. Assistimos, assim, em ambiente de laboratório, a um desdobramento daquilo que a escultura é, enquanto prática com mais de três mil anos. Gris, Vide, Cris é um debruçar constante sobre o tempo e o espaço da morte, do nascimento e da matéria do que existe solidamente: ossos, madeiras, pedras, ligas metálicas. São, pois, estes os segredos que os autores partilham entre si. Dentro dos ossos, o mesmo tipo de fogo.
Dimensões
15 x 23,4
Nr de páginas
130
ISSN
0870–7618