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Volume 196 - 4, Abril 2023

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Eduardo Jorge Madureira Lopes

A repulsa causada pelo caso Marc Dutroux (Bélgica, 1996) constituiu um ponto de viragem no modo global de encarar a pedocriminalidade. O sofrimento deixou de ser apenas das vítimas e dos seus familiares para se tornar amplamente partilhado. A circunstância de, no século XXI, ser motivo de denúncia e de exigência de sanções aquilo que outrora não suscitava consideráveis reparos, apresenta-se como uma mudança de atitude muito significativa, que se refletiu também no campo mediático. Em Portugal, perante o Relatório Final da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa, a respetiva hierarquia, no seu todo, parece não ter conseguido encontrar a postura e a voz adequadas para comunicar convenientemente com o conjunto da sociedade. Não sendo os bispos ou os que em vez deles falam a ditar a agenda dos media, seria conveniente saber que é preciso lidar com a informação considerada adversa e estar preparado para o fazer.


Francisco Mota SJ

Na tradição catequética atual da Igreja, o pecado define-se com base em três critérios que têm que se reunir simultaneamente para que algo possa ter gravidade moral na vida do crente: tem que haver um ato grave, cometido com liberdade plena e em perfeita consciência. Se é verdade que se trata de uma visão doutrinal simples, esquemática e elucidativa, haverá que reconhecer que é insuficiente e, no limite, nociva. Seguindo o pensamento do teólogo moral James Keenan SJ, sugere-se que o pecado está na falha na resposta dada em situações concretas. A esta luz, lê-se a falha estrutural no âmbito dos abusos sexuais na Igreja portuguesa, atendendo ao relatório publicado em fevereiro de 2023.


José Maria Brito SJ

Tendo como ponto de partida a publicação, a 13 de fevereiro de 2023, do Relatório Final da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja, começa-se por analisar brevemente a receção do relatório, para sublinhar, depois, a importância de dar crédito à realidade que agora veio à luz, assumindo que o retrato apresentado é, necessariamente, incompleto. O reconhecimento da credibilidade dos testemunhos apresentados pelas vítimas e a aceitação de que o retrato traçado é incompleto são considerados necessários para que o desejo de escutar as vítimas seja tido como sincero. Esses dois passos terão de ser acompanhados por uma reflexão crítica sobre o modo como são entendidos o exercício do poder e a vivência dos ministérios ordenados na Igreja.


Rodrigo Queiroz e Melo

Apresenta-se uma reflexão sobre como as baixíssimas qualificações da população portuguesa marcaram o início da criação de um sistema de ensino de massas e como essa marca ainda influencia, hoje, o exercício da profissão docente. Nas análises sobre a situação atual na educação, esta “marca de nascença” está genericamente ausente o que pode tornar o debate menos rico e, especialmente, menos apto a gerar propostas de melhoria eficazes.


José Eduardo Franco

A Ação Católica Portuguesa nasceu em 1933. A forte perda de presença e de influência do cristianismo, fustigado desde Oitocentos por correntes político-ideológicas, filosóficas, científicas e culturais e por movimentos anticristãos e antirreligiosos (positivismo, cientismo, relativismo, comunismo, livre pensamento, anarquismo), despertou a hierarquia católica de então para a importância de organizar leigos disponíveis, motivados e preparados espiritual e pastoralmente para se empenharem na missão da Igreja. O movimento da Ação Católica foi constituído para organizar as iniciativas de associação laicais de apostolado católico que se tinham começado a formar no século XIX. Tornar-se-ia o organismo do laicado da Igreja Católica mais global que alguma vez existiu, procurando abranger todos os sectores da sociedade e as diferentes faixas etárias.  Este ano, assinalam-se 90 anos da sua existência.


Bruno Nobre SJ

Vivemos uma mudança de era. Se em tempos mais estáveis poderia parecer que o cristianismo era imutável, percebe-se hoje, com inegável clareza, que também ele atravessa um tempo de profunda transformação. Enquanto algumas vozes anunciam o entardecer do cristianismo, outras saúdam a aurora de um tempo novo, que abre as portas a um cristianismo renovado e mais autêntico. O objetivo do presente texto consiste em olhar o futuro do cristianismo a partir de algumas das intuições fundamentais do pensamento de Teilhard de Chardin, jesuíta francês, cientista e pensador (18811955), que possam iluminar o tempo presente e aliviar as nossas perplexidades.


Manuel Figueira

Uma recensão distendida ao livro de Robert Fishman, Prática Democrática e Inclusão Política: Origens da Clivagem Ibérica, publicado originalmente em 2019 e traduzido este ano para português por ocasião do lançamento da coleção da Tinta da China “O 25 de abril visto de fora”. O ponto de partida deste livro assenta numa comparação do funcionamento atual das duas democracias ibéricas a partir do seu momento de génese: a revolução portuguesa e a transição espanhola.


António Júlio Trigueiros SJ

O Plano Nacional de Leitura optou por publicar no seu poemário de 2023 o poema “Sabedoria”, do jesuíta João Maia, do seu primeiro livro Abriu-se a Noite, prémio Antero de Quental em 1954, a par de poemas dos outros cinco poetas seus coetâneos: Eugénio de Andrade, Mário-Henrique Leiria, Mário Cesariny, Couto Viana e Natália Correia. Neste ano centenário, a Brotéria sente o especial dever de evocar este poeta, quase esquecido, que integrou a comunidade da Casa de Escritores e que deixou um importante legado nos 450 artigos e nas 470 recensões que, entre 1949 e 1998, escreveu na revista. Os textos publicados na secção Vida Literária são dos mais acutilantes e certeiros, a par dos de Manuel Antunes, no que se refere ao percurso literário de muitos dos nossos escritores. Acompanhando a par e passo esses percursos, assinalam-se as analises profundas dos textos que desvelam as almas dos autores, no dizer de João Bigotte Chorão.


Madalena Tamen, João Sarmento SJ, Catarina Ricciardi

Pintura sem fim foi uma exposição que teve lugar na Brotéria durante os meses de janeiro e fevereiro e que quis celebrar um encontro de distintas práticas desta disciplina artística. Reuniram-se obras de pintura executadas sobre a tela, um suporte pictórico que traduz uma materialidade única enquanto elemento de grande condensação e propagação de cultura. Revisitando, ironicamente, os modos expositivos típicos do Salon de peinture et de sculpture da Paris do final do século XVII, esta exposição provocou um encontro da pintura, enquanto elemento irrevogável e infinito, nos tempos e nas geografias das artes visuais. «As imagens podem salvar» trata-se de uma conversa com João Sarmento SJ (JS) e Catarina Ricciardi (CR) sobre «as energias, movimentos e outras formas interiores» da pintura de hoje e de quem a pendurou em cinco paredes brancas.


Dimensões
15 x 23,4

Nr de páginas
128

ISSN
0870–7618