As eleições presidenciais francesas têm lugar no corrente mês de abril. O discurso mediático, porém, já se interessava por elas há mais de um ano e tem feito circular alguns termos que formam a música ambiente em que os candidatos lançam os seus próprios elementos de linguagem. Nesta batalha de discursos, identificam-se palavras estruturantes, conceitos-chave circundados por outras palavras satélites: “caos”, “radicalidade”, “transição”, “re-ancoragem”, “identidade”, “fraternidade”.
É neste mapa que o cidadão andará à procura de si mesmo, quer para votar ou para se abster, quer para encontrar um espelho ao qual se olhar ou para estabelecer ligações com outros habitantes da cidade.
Apresenta-se o Inquérito sobre as práticas culturais dos portugueses, coordenado por José Machado Pais, Pedro Magalhães e Miguel Lobo Antunes, realizado pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian. Estamos perante um levantamento pioneiro, realizado à escala nacional, sobre como os portugueses encaram as iniciativas culturais e o fenómeno cultural, considerando a democratização do acesso, a participação, a divulgação do livro e das manifestações culturais, os programas itinerantes, a descentralização e a animação, a criação de públicos, a promoção das artes, o desenvolvimento das atividades criativas. O inquérito merece leitura, estudo e ponderação atentos, porque permite conhecer a nossa realidade e compará-la com a de outros, para delinear políticas públicas coerentes e integradas, que sejam capazes de articular as práticas culturais com a vida económica e social e o desenvolvimento, mais do que insistir em diagnósticos sombrios.
Até meados do século XX, a Igreja, respeitando a autonomia da esfera temporal, não se pronunciou a favor de nenhuma forma de governo em particular. Condenou o despotismo e a tirania e proclamou a necessidade de os governantes prosseguirem o bem comum. O modo como a Revolução Francesa se desenrolou gerou conflitos e desconfianças, que haveriam de passar com a mudança de circunstâncias e à medida que as instituições do constitucionalismo adquiriam dinamismo próprio. A Doutrina Social da Igreja viria trazer o reencontro do pensamento e da ação dos católicos com os direitos fundamentais, coincidentes, em si mesmos, com a visão cristã. A democracia – e com ela o Estado de Direito – entraria no magistério da Igreja.
A relação entre o ser humano e a tecnologia teve um desenvolvimento excecional nestes tempos de pandemia. Mais do que nunca, a tecnologia assumiu-se como uma extensão do corpo humano. Estaremos perante a emergência de um novo ser? Como consequência, não precisaremos de uma nova antropologia? Percebendo as posições radicais que veem como pernicioso o progresso tecnológico, não se perfilha aqui a posição maniqueísta de que a natureza é boa e que tudo o resto é um atentado a essa realidade. Nem a técnica será a salvadora da condição humana nem será o bode expiatório de possíveis atos demenciais nossos. Importará, sim, que a tecnociência tenha um constante acompanhamento humanizante, de modo a que não se perca de vista a consciência de que nem todos os meios são justificáveis.
Convocando à reconstrução da experiência humana na sua capacidade de abertura à poética divina e à sua possível interpelação, entre uma multiplicidade de mediações, sustenta-se a experiência estética como paradigma para a reconstrução da catedral, expressão colhida de Rui Chafes. A catedral, enquanto edificado, assume um papel de relevo nesta mediação, qual lugar de fronteira para o encontro e a hospitalidade, para crentes e/ou não crentes, com expressões artísticas potenciadoras de novas experiências.
Ibn Khaldûn al-Hadrami foi um académico muçulmano que viveu entre os anos de 1332 e 1406. O seu pensamento apresenta uma originalidade notável, sendo considerado, mesmo no Ocidente, um precursor da ciência sociológica e um historiador, pela tentativa de definir regras explicativas da História, com base na observação das sociedades que visitava ou que conhecia através dos livros. No seu livro Muqaddimah, uma introdução à História das dinastias do Magreb, aborda, entre outras, a questão da criação do Califado Islâmico que se seguiu à morte do Profeta Maomé. Analisa, nomeadamente, as condições do exercício da autoridade religiosa pelos primeiros Califas e a relação desta com a soberania civil. Através do seu prestígio intelectual, contribuiu para um debate fundamental que se prolonga até aos nossos dias.
Carlos da Áustria, último Imperador da Áustria, beatificado por João Paulo II, é um buscador de paz na Grande Guerra. É exilado na Madeira, onde foi acolhido com toda a sua família, e aí morre. Homem de coração largo, amigo de todos, em especial dos mais pobres. Um português, D. João de Almeida, vai ao seu encontro à Madeira, ajudando-o nas relações com o Governo Português e sua mulher, D. Constança, auxilia na educação dos Infantes. Carlos, uma voz aparentemente isolada no seu tempo a clamar pela paz, tornou-se semente para um projeto de uma Europa unida, em que os seus descendentes participam. Neste tempo de guerra na Ucrânia, com novas ameaças imprevisíveis, poderá inspirar outras vozes a erguerem-se pela paz.
As últimas semanas têm sido marcadas pelas ofensivas militares na Ucrânia e pela onda de compaixão e solidariedade que se tem vivido, um pouco por todo o mundo. Se a rapidez da informação e a reacção quase universal são uma novidade, os acontecimentos em si não o são. A realidade, sempre injusta, da guerra e dos confrontos é parte da história da humanidade. E o que terá a música a dizer sobre isto? Poderá ela, sem palavras, exprimir dimensões tão humanas como a fragilidade, a misericórdia e a esperança, apenas com a sua linguagem musical? Pelo olhar de Benjamin Britten, no seu War Requiem, que, mais do que um concerto, é uma reflexão, procura-se compreender realidades tão humanas como as que reencontramos nos recentes conflitos na Ucrânia.
Dimensões
15 x 23,4
Nr de páginas
104
ISSN
0870–7618